Um homem foi preso em 6 de setembro em São José, na Grande Florianópolis, por tentar matar a ex-esposa com golpes de estilete. Um dia antes, uma mulher precisou chamar a polícia após o ex-marido invadir a casa dela e a golpear várias vezes com um martelo em Porto União, no Planalto Norte. Com afundamento no crânio, a vítima, de 39 anos, resistiu. Ambas sobreviveram a tentativas de feminicídio, assim como Taciana Hemckmeir, 33, que foi estrangulada pelo ex-marido dentro de casa em Bom Retiro, na Serra, e salva pelo filho. O crime ocorreu no dia 13 de agosto. Taciana não ficou calada: sugeriu que as famílias denunciem a violência no ambiente doméstico.

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Todas elas escaparam de entrar na estatística de feminicídio, crime que no primeiro semestre de 2019 cresceu 40% em relação ao ano passado em SC. Mas fazem parte de um cenário de violência que tem crescido no Estado em média 10% ao ano.

Com a notificação obrigatória das unidades de saúde quando uma mulher dá entrada e há suspeita de violência doméstica, os casos passaram a ter monitoramento detalhado e ajudam a criar um perfil desse crime, que ocorre em todas as classes sociais. É cometido, na maioria das vezes, dentro de casa, por companheiros ou ex-companheiros, e tem nas mulheres jovens as principais vítimas.

Os dados são do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), ligado ao Ministério da Saúde e atualizado recentemente com as notificações de casos entre 2009 e 2017.

Mesmo com a subnotificação – que faz o número ser menor que o real –, em nível nacional os dados apontam para a chocante estatística de um caso de violência contra a mulher a cada quatro minutos.

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Em SC, o mesmo relatório mostra que as ocorrências de violência doméstica aumentaram, em média, 10% por ano desde 2014.

Serra e Oeste lideram as ocorrências

O crescimento é registrado nas situações de violência física, em maior número, mas também psicológica ou sexual.

O maior número de registros em Santa Catarina no período que consta no Sinan é em Lages, seguido por São José, Joinville, Florianópolis e Itajaí. Entre as regiões, a Serra e o Oeste lideram os casos de violência contra a mulher no Estado.

Embora na ponta do ranking negativo, Lages tem conseguido reduzir anualmente os números desde 2014 com uma ação integrada da Polícia Militar com o Ministério Público Estadual e a prefeitura, que visa reduzir a sensação de impunidade para os agressores:

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— Na maioria dos casos, temos enviado relatórios à Justiça e o juiz responsável tem dado a punição ao agressor, e isso se disseminou na cidade, essa imagem de que agora está acontecendo alguma coisa com o homem que agride a mulher. Fazemos acompanhamentos também, tanto com as vítimas quanto com os agressores, para evitar a repetição desses crimes, conscientizando também o homem o que pode acontecer com ele se desrespeitar alguma medida — explica o sargento José Valdir Goedert, coordenador do programa Rede Catarina, da PM em Lages, que faz ações preventivas focadas no combate à violência contra a mulher.

Goedert destaca também que o trabalho conjunto envolve psicólogos e advogados do município, além de uma casa de apoio mantida pela prefeitura que abriga as vítimas após as agressões, quando elas precisam sair da residência em que moram.

Maioria das vítimas de violência sexual tem até 19 anos

O perfil das mulheres agredidas em Santa Catarina aponta as jovens como as principais vítimas. Em relação à violência sexual, a maioria tem menos de 19 anos, enquanto na violência física a maior taxa é entre mulheres de 20 a 29 anos. O local do crime também é quase sempre o mesmo: a própria casa da vítima – como na situação de Taciana citada no começo da matéria. Segundo os registros, 72% das agressões em SC ocorreram em residências. Em segundo lugar estão casos em plena via pública.

O sistema do Ministério da Saúde registra também as informações sobre a pessoa responsável pela violência. Na maioria das vezes (36%) o agressor é cônjuge ou ex da vítima, seguido por amigos ou conhecidos – especialmente nos casos de violência sexual. Em 11% dos crimes a vítima disse que não conhecia o agressor.

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As notificações não mostram a classe social das vítimas, mas o registro marca a escolaridade das vítimas. Conforme o sistema, 31% das mulheres que sofreram violência física não tinham o ensino fundamental completo e outras 15% eram formadas no ensino médio.

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