Sair do trabalho ou da faculdade à noite. Descer do ônibus e ter que caminhar por ruas, parques e praças escuras sozinha: esta é a realidade de muitas mulheres, que precisam conviver com o medo e a insegurança de circular pelas ruas das grande cidades. Foi desta observação que nasceu, há menos de uma semana, o movimento “Vamos Juntas?”, que propõe às mulheres que se aproximem e andem juntas pela rua para coibir a ação de criminosos.
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Criado pela jornalista Babi Souza, 24 anos, a ideia surgiu depois que a jovem se viu no centro de Porto Alegre, às 20h, totalmente sozinha em direção a um segundo ponto de ônibus.
– Eu trabalho no bairro Moinhos de Vento e moro na Zona Sul. Tenho que pegar dois ônibus. Era sexta-feira e eu desci do coletivo, vi que tinha muitas mulheres nele, no entanto, todas desceram e se dispersaram. O engraçado é que, quando cheguei na outra parada, várias dessas mulheres estavam lá, poderíamos ter ido juntas – relembra.
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Da observação veio o desenvolvimento do projeto, que contou com a ajuda da colega e designer do movimento, Vika Schmitz. No último dia 30, a dupla postou um card em seus perfis no Facebook convidando as mulheres a se unirem e andarem juntas nas ruas.
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Só as mulheres entendem o alívio de olhar para trás na rua e ver que a pessoa que está caminhando atrás de você é outra…
Posted by Vamos juntas? on Quinta, 30 de julho de 2015
Nascia naquele momento o #movimentovamosjuntas, que, em pouco mais de duas horas, virou página na rede social e, em menos de uma semana depois, já ultrapassa 16 mil curtidas, vindas de todos os cantos do Brasil.
– Acredito na força que as pessoas têm juntas e o que elas fazem vai transformando o mundo – reforça Babi, que se diz surpresa com a repercussão da ideia. A jovem diz que, desde a criação da página, elas têm recebido diversos relatos de mulheres que passaram por situações parecidas com a dela e de Vika.
– Além da parte visível, que é a página, tem as mensagens que recebemos. Uma menina nos contou que foi estuprada e nunca havia dito isso para ninguém. Ela sentiu confiança de compartilhar isso com a gente sem nem saber quem a gente era – conta Babi.
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Esse e outros depoimentos estão sendo postados e disseminados por centenas de meninas que se identificam com as histórias contadas no espaço. É o caso da universitária Beatriz Figueredo, 20 anos, moradora de Recife, em Pernambuco, que compartilhou a iniciativa:
– Geralmente a gente acha que pra mudar as coisas precisa de muita ação e nem sempre é assim. A página sugere algo simples e muito eficaz.
A ação fez ela lembrar de uma situação da infância, quando uma estranha pediu para ficar parada em frente à sua casa porque estava com medo de andar na rua.
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– Não entendia muito bem na época, mas agora entendo e fico feliz por ter feito parte desse movimento de alguma forma – diz ela que já convidou outras três mulheres para andarem juntas rumo a um ponto de ônibus:
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– Nós fomos e eu achei interessante poder contar com uma pessoa desconhecida nessas horas.
Para a titular da Delegacia da Mulher de Porto Alegre, Rosane de Oliveira, o movimento é uma ótima iniciativa para afastar as investidas de criminosos.
– Pequenos atos podem fazer muita diferença na sociedade. Estar junto com outras mulheres vai inibir a prática de estupro, de roubo. Tudo o que vem a acrescentar é importante – avalia ela ponderando que essas ações não eximem os órgãos públicos de oferecer segurança à população.