A jovem Natalye Furtado, de 23 anos, denunciou um caso de transfobia que a teria feito sair sem o tratamento que precisava do Hospital e Maternidade Marieta Konder Bornhausen, em Itajaí. O caso aconteceu no sábado (15), quando ela buscou o pronto-atendimento porque passava mal. As funcionárias teriam debochado e insistido em tratá-la no masculino, mesmo com documentos retificados que confirmavam o gênero feminino. Em nota, o hospital disse que lamenta o ocorrido. 

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Conforme Natalye, no sábado, ela precisou deixar o trabalho porque estava se sentindo mal. Ao chegar no hospital, teria entregado os documentos e pedido para ser atendida. Apesar de apenas o nome Natalye constar na identidade, quando colocaram o CPF, a funcionária teria visto o nome de nascimento da jovem.

— Ela perguntou rindo e em voz alta, como se quisesse que os outros ouvissem: “Você quer ser chamado de Natanael ou de Natalye?”. Eu respondi que queria ser chamada como consta no meu documento. Meu nome, Natalye — conta a modelo e vendedora.

Em seguida, já sentada esperando o atendimento, a jovem notou que a pulseira da triagem constava seu verdadeiro nome, mas o gênero descrito era masculino. Quando foi pedir para que o erro fosse corrigido, as três funcionárias se recusaram e teriam respondido de maneira debochada. 

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Natalye conta que elas teriam falado que descreveram o sexo como estava no documento. Quando a jovem apresentou novamente o RG, que constava seu nome, mas não apresentava nenhuma informação sobre o gênero, elas insistiram que só alterariam se o gênero fosse comprovado em documento. 

— “Querido, o sexo tem que estar como tá no documento, moço”. A outra moça disse que só alteraria se estivesse em um documento, se não, não alteraria — conta Natalye. Segundo ela, as falas eram acompanhadas de risadas e olhares debochados das profissionais. — Riram da minha cara porque eu sou transsexual.

A vendedora, que retificou todos os documentos há dois anos, precisou mostrar uma foto da certidão de nascimento.

De acordo com a advogada Margareth Hernandes, presidente da Comissão LGBTQIA+ da OAB, o preconceito da funcionária foi claro. Isso porque, uma vez que o nome esteja no documento e a pessoa deixe claro qual é seu gênero, isso precisa ser respeitado. 

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Quando foi atendida pela médica, Natalye fala que foi tratada de maneira respeitosa, e disse que a profissional se referiu à ela sempre no pronome feminino. Assim que a consulta acabou, a médica teria ido orientar a enfermeira que aplicaria o remédio intravenoso em Natalye.

A jovem conta que, na presença da doutora, a profissional teria se referido à ela como mulher. No entanto, quando a médica se afastou, o tratamento teria mudado. 

Em meio aos pacientes e outros profissionais, a enfermeira teria dito, rindo:

— Ai mais aqui no papel é Natalye, mas você é homem ou mulher?

A modelo teria devolvido a pergunta com uma resposta grosseira, que questionava a profissional qual a importância dela saber qual a genitália existia no meio das pernas, se seus documentos comprovavam que ela era uma mulher.

A enfermeira teria continuado rindo. Para Natalye, as risadas incentivaram olhares e risadas das outras pessoas que estavam no local. Constrangida, ela deixou o hospital chorando, e sem o medicamento que precisava para melhorar. 

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— Levantei chorando. Os outros pacientes, enfermeiros, rindo da minha cara. Fiquei com nojo, vergonha, muita raiva, porque todo mundo tava olhando e rindo de mim. Eu sou adulta, trabalho, não preciso estar passando por isso quando preciso de ajuda.

Hospital e funcionárias podem responder por transfobia

Quando conversou com a reportagem, Natalye estava saindo às pressas do trabalho para chegar na delegacia antes de fechar. Ela conta que pretende levar o caso à justiça. 

— Estou expondo isso pra acabar, não tá certo — fala a jovem.

De acordo com Margareth, o Hospital e Maternidade Marieta Konder Bornhausen pode ser condenado a pagar uma indenização por danos morais, enquanto as funcionárias podem responder por transfobia. O ato se encaixa no crime de racismo, que é inafiançavel e pode gerar pena de até cinco anos de prisão e multa. 

Hospital se pronuncia

Em nota, o hospital disse que lamenta o ocorrido e afirmou que irá reforçar o treinamento do quadro de funcionários para evitar situações como a que Natalye descreveu. 

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“A Lei determina que a pessoa trans deve ser tratada de acordo com o gênero com o qual se identifica. O Hospital Marieta orienta a equipe a tratar a todos com respeito e sem discriminação, por isso, lamenta o ocorrido e irá reforçar o treinamento para que esse tipo de situação não volte a ocorrer”

Questionados se as funcionárias foram identificadas ou se sofreriam algum tipo de punição, o Hospital disse que as manifestações se limitariam ao que foi dito na nota. 

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