Impossível conversar com Isabelle Garcia Velásquez, a Isa, sem se contagiar com a alegria e a espontaneidade da menina de apenas 15 anos. O sorriso que sempre lhe estampa o rosto está ainda mais radiante nas últimas semanas. O motivo é o rendimento dela nas piscinas e as oportunidades que começam a se abrir no paradesporto brasileiro.

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Isabelle é paratleta da natação de Blumenau e terminou o ano passado com a quarta melhor marca do país na sua classe na prova de 50 metros livres e a quinta nas provas de 100 metros livres e 100 metros costas. De quebra, abocanhou quatro medalhas de ouro nos Jogos Abertos Paradesportivos de Santa Catarina (Parajasc). O bom desempenho na Paralimpíada Escolar em novembro de 2017, em São Paulo – onde conseguiu bater a esperada marca de 50 segundos na prova de 50 metros livres –, rendeu um convite para um camping de verão organizado pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB).

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Nas últimas duas semanas, Isabelle esteve ao lado de outras 20 promessas da natação e mais 20 do atletismo paralímpico do país. Eles foram selecionados entre mais de mil atletas. A rotina ia das 6h30min às 21h30min e incluia treinos e palestras sobre alimentação, postura e preparo físico. Ela aprimorou técnicas como o nado borboleta e baixou o tempo em nada menos que 10 segundos na prova de 50 metros livre: de 51s para 41s, recorde nacional. Teve ainda a oportunidade de conhecer o alto rendimento e treinar na estrutura do Centro de Treinamento Paralímpico, ao lado de nomes da elite brasileira como César Cielo e o medalhista paralímpico Daniel Dias. Um contexto que fez a nadadora, sempre atenta à rotina dos atletas no Instagram, sentir-se como se estivesse na Disney.

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– Tivemos a oportunidade de treinar, acompanhar a preparação e entender que a base do esporte é descanso, alimentação e treino. Sem isso a gente não vai adiante – conta.

Modéstia de Isabelle. A experiência serviu para muito mais que isso. A aluna do primeiro ano do ensino médio voltou sendo considerada pelo técnico da Seleção Brasileira uma das promessas do país para as próximas Paralimpíadas, em Tóquio-2020 e Paris-2024. Ela passou por avaliações físicas que agora vão ser compartilhadas com o treinador de Isa, Jair Roberto Hank, e todo o monitoramento dos treinos da paratleta serão feitos em conjunto entre Jair e os treinadores da Seleção. Tudo para que o talento da nadadora blumenauense seja desenvolvido e confirme o potencial que a colocou no radar da Seleção Juvenil.

– Foi uma emoção quando ele me disse isso (que poderia chegar à paralimpíada). Sonho de ir a gente sempre tem, mas ouvir isso de um chefão da natação é algo diferente, que eu não tinha ouvido – conta Isa.

Cadeira de rodas ficou de lado

A relação de Isa com a natação começou em função da deficiência dela. Quando tinha 10 anos, dormiu sem problema algum de saúde e acordou com um desvio na coluna. No início, o caso foi tratado como escoliose (uma curvatura na coluna vertebral), mas ela continuou perdendo força e equilíbrio. Em oito meses estava na cadeira de rodas. Precisou usar também colar cervical. Passou por exames em hospitais do Rio de Janeiro, Curitiba, Colômbia, mas os resultados eram sempre inconclusivos. Até hoje ela não teve um diagnóstico claro do problema que sofre. Nem mesmo nesses piores dias, porém, sorriso de Isa deixava de clarear os caminhos por onde passava.

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Em março de 2016, procurou o paradesporto de Blumenau interessada em uma prática esportiva. A princípio não queria natação. Pensava em atletismo ou tênis de mesa. O treinador Jair, porém, já via ali lampejos do potencial que Isa tinha para as piscinas e sugeriu a modalidade. Antes de tudo o esporte trouxe benefícios para a evolução da saúde da menina, que deixou a cadeira de rodas e teve grandes melhoras na locomoção.

– Quando ela chegou nos disse que sabia nadar, o que já acendeu uma estrelinha. Depois vimos que a natação, por não ter impacto, podia ajudar na evolução dela, o que aconteceu de uma forma muito rápida – conta o treinador.

Na água, a doença de Isa limita os movimentos de um braço e uma perna. Mas em três meses de natação ela já foi selecionada para o polo de iniciação esportiva e no mesmo ano ganhou três medalhas na Paralimpíada Escolar de Santa Catarina. De lá para cá baixou o tempo até chegar à condição de promessa para as próximas paralimpíadas.

– A gente sempre viu na Isa um grande potencial. A partir do momento que ela foi para lá (camping do CPB), começou a confiar mais em si, saber que pode, e isso é normal na vida do atleta e ajuda a melhorar ainda mais o desempenho – avalia a diretora do paradesporto de Blumenau, Giselle Margot Chirolli.

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Para transformar o sonho em realidade, Isa ainda tem um longo caminho. Os próximos passos são o regional Rio-Sul, que ela disputará em março, em Porto Alegre (RS), e duas competições internacionais na Alemanha e na Argentina, que o estafe de Isa quer conseguir viabilizar para dar experiência à paratleta. Se a temporada for boa, será possível almejar uma vaga no Parapan-Americano de Jovens, em 2019. Depois disso a vaga na paralimpíada fica mais próxima. As braçadas e o sorriso de Isa vão abrindo o caminho.