Uma estudante de 21 anos que mora em Joinville está vivendo um drama incomum, que envolve o trabalho, os estudos, a família e que, agora, chegou ao Ministério Público: o irmão dela, um rapaz de 19 anos com deficiência intelectual severa, foi abandonado em fevereiro deste ano.

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A irmã é a única que aceitou cuidar do jovem, que precisa de atenção especial 24 horas por dia. A mãe foi embora e não quis mais saber do filho. O pai diz que não quer “mais esse problema”.

A história começa ainda na infância dos irmãos, em Atalanta, perto de Ituporanga, no Vale do Itajaí. Uma mulher teve dois filhos, uma menina e um menino, este com deficiência intelectual. As crianças foram criadas pelos avós maternos.

Cansada da vida no interior e sem chances para crescer, a menina deixou a família e chegou aos 16 anos em Joinville para estudar e trabalhar. A adolescente terminou o ensino médio e começou a fazer faculdade. O sonho dela é se formar e ter toda a estrutura que não teve em casa. Mas um episódio no ano passado, mudou a vida dela.

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– A vó foi hospitalizada e foi para a UTI. Dias depois, morreu.

A mãe e o irmão ficaram sem ter para onde ir. A filha ficou comovida e convidou-os para vir morar com ela. Mesmo sem ter condições, disse que acolheria os que ainda restavam da família.

A mãe permaneceu alguns meses em casa, sem trabalhar. Em fevereiro deste ano, fugiu e, desde então, não dá notícias. A filha, que sai às 6 horas de casa para trabalhar e retorna só à noite, depois da aula, ficou com o irmão. O problema é que ele não consegue se alimentar, tomar banho e nem ir ao banheiro sozinho. Precisa de acompanhamento o dia inteiro.

Ela tentou procurar a mãe, que foi morar com as irmãs. Mas, segundo a filha, ela não quer mais saber do garoto. Mandou até que se livrasse dele, que entregasse para um padrinho.

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– Ela disse ?faz o que você quiser, não quero ele? -, contou.

Sem coragem de abandonar o irmão, a estudante resolveu buscar ajuda.

De manhã, o irmão vai para a Apae, mas à tarde e à noite fica em casa, sozinho. Não há

parentes em Joinville. Nos últimos dias, ele tem saído de casa. A jovem diz que não tem condições de largar o emprego, nem de cuidar dele. Ela paga aluguel, faculdade e ainda é responsável por dar alimentação e roupas para o garoto. E não tem outra fonte de renda.

– A vó falava que eu não ia fazer nada da vida. Que ia plantar fumo. Não quero desistir da faculdade. Ele sofre e eu sofro. É bem complicado -, diz.

O pai dos irmãos mora desde 1999 em Otacílio Costa e é diácono de uma igreja evangélica. Segundo ele, atualmente é casado, não tem outros filhos e mora de favor na casa da sogra. Sobrevive com a renda da aposentadoria que recebe por invalidez. À reportagem, por telefone, ele disse que nunca foi procurado pelos jovens.

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– Os avós (maternos) disseram que eu estava morto -, conta.

Ele diz pagar uma pensão de R$ 183.

– Todo mês cai na conta.

Ele diz não ter condições de ficar com o filho.

– Por enquanto, não posso fazer nada. Este problema não posso resolver -, disse.

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