John Lucas estava entediado. Era um dia comum em meio ao mês de outubro em Blumenau quando o garoto, então com 12 anos, acompanhava os pais durante uma noite de Oktoberfest. Ele olhava para os lados à procura de algo para fazer. Encontrou. Sob a placa que apresentava o espaço reservado aos clubes de caça e tiro, o menino achou não apenas um passatempo, como também aquilo que o faria ganhar medalhas dois anos depois: o tiro esportivo.
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Naquele momento, com uma carabina de ar comprimido nas mãos, ele descobriu um dom capaz de projetá-lo como uma das promessas do esporte brasileiro. Logo nos primeiros disparos, a brincadeira se transformou em prêmio. Com uma caneca em mãos, voltou aos pais e mostrou aquela que seria a primeira das recompensas pelo desempenho.
A brincadeira deu lugar ao trabalho sério e à dedicação. Em 2017, ele usa a pistola de ar como companheira no esporte, dá os primeiros tiros para valer e começa a empilhar as “recompensas”. Ouro no Campeonato Sul-Brasileiro de sua categoria, prata na Copa Brasil e bronze no Campeonato Brasileiro. Três das principais medalhas colocadas no pescoço do jovem atleta e que provam o quanto o esforço pode dar resultados
– Foi por diversão que eu gostei do esporte, até porque no futebol eu era meio pé torto. Aí pedi para o meu pai me levar onde praticavam e então deu tudo certo – narra o garoto blumenauense.
– Quando eu trouxe ele para treinar pela primeira vez, falavam que ele iria demorar até quatro anos para começar a ganhar alguma coisa. Aí neste ano, logo no começo, ele já conseguiu, e isso nos orgulha bastante – complementa o pai, o empresário Fábio Kienolt, que nunca teve uma ligação íntima com os clubes de caça e tiro em Blumenau.
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No início, a nova atividade de John Lucas era vista com cautela pelos pais. O fato de ele ter deixado de lado uma guitarra, hobby de meses atrás, gerou desconfiança. O tiro esportivo não é um esporte barato. Uma boa arma pode chegar a custar R$ 12 mil. Investir esse valor todo para deixar a pistola jogada no fundo do guarda-roupa tempos depois? Nada disso. Foi só quando o garoto realmente mostrou que queria se dedicar que o pai resolveu fazer o investimento – e com uma arma usada, inclusive. O tal “paitrocínio”.
– Antes, a gente não dava bola, não esperava nada, mas agora acreditamos no potencial dele. Acreditamos que tenha chance de disputar as Olimpíadas daqui alguns anos, e sabemos que, se ele se esforçar, pode chegar lá – conta o pai, citando a meta de Paris-2024.
Exemplo para acabar com o preconceito
Coordenador de armas curtas do tiro esportivo blumenauense, Jony Nossol vê John Lucas como a referência de renovação. Ele conta que, com a evolução no desempenho, é possível que o garoto possa em breve disputar os Jogos Abertos de Santa Catarina ao lado dos adultos e, principalmente, servir de motivação a outros meninos e meninas que tenham interesse na modalidade. Hoje, o adolescente é o único da idade em todo o município a praticar tiro.
– É muito difícil captarmos jovens atletas, até porque há um certo preconceito. Os pais imaginam que pelo fato de o garoto manusear uma arma, que nem é de fogo, vai virar um criminoso ou algo assim. Muito pelo contrário. O fato de o estande ser longe e de difícil acesso (no Clube Blumenau de Caça e Tiro, na Rua Itajaí) também dificulta as coisas – avalia o coordenador.
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Nessa história toda, John Lucas é mais um sonhador. Inspirado em Felipe Wu – medalha de prata na Rio-2016 justamente na modalidade pistola de ar 10 metros –, ele também quer fazer parte importante do esporte brasileiro. Com treino e dedicação, quem sabe, depende apenas de si para confirmar isso.