O que você faria se te dessem somente mais sete anos de vida? Esta frase não chegou a José Gomes Santana, 55 anos, em forma de pergunta, mas como uma sentença, aplicada junto à notícia de que ele dependeria de sessões semanais de hemodiálise para sobreviver. Só que esta história tem final feliz.
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Com o tempo, as poucas primaveras que o operário tinha para conviver com a família foram se alongando. Neste ano, José Gomes completa 30 anos de luta contra a deficiência renal – 23 a mais do que diziam as estimativas.
A fórmula encontrada para resistir às hemodiálise é nunca parar de fazer planos para o futuro. Mas nem sempre foi assim. Nos primeiros meses de convivência com a doença, José não acreditava que viveria por muito tempo.
Aos 26 anos, assim que o médico apresentou-lhe o diagnóstico, o mineiro que recém havia se mudado para Joinville resolveu desistir do sonho de ter uma casa própria e vendeu todos os materiais de construção que tinha comprado até então.
– Eu realmente achava que ia morrer – lembra.
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Mas a força do homem que desde os sete anos acompanhava a mãe no trabalho na roça, em Santa Maria do Suaçuí, cidade do interior de Minas Gerais, falou mais alto. Depois de completado um ano de hemodiálise, ele voltou a se dedicar a ter um lar com o próprio suor e começou a vender roupas e objetos de porta em porta.
Ele até passou por um transplante de rim, mas houve rejeição e ele escolheu não se arriscar mais. Quando adoeceu, José era casado e já tinha uma filha, Fernanda. Logo depois a esposa deu a luz a José Luiz. Hoje, os dois filhos moram próximo ao pai, no bairro Profipo. Porém, a esposa o deixou quando os filhos eram pequenos – o caçula tinha apenas dois anos.
– Na época eu só pedia a Deus para viver mais cinco anos, para que, com 15 anos, a Fernanda pudesse cuidar do irmão – recorda o mineiro, que não só superou os cinco anos pedidos, como já tem uma neta com a mesma idade.
Para o Hospital São José, onde começou a fazer as hemodiálises, e a Pró-Rim, atual responsável pelo tratamento, José Gomes não foi mais um entre os pacientes. Nos primeiros anos de sessão no São José, ele chegava mais cedo para ajudar as enfermeiras a prepararem o equipamento para outros pacientes com o mesmo problema que o seu. Já na Pró-Rim, ele foi voluntário do call center pedindo doações de joinvilenses durante 14 anos.
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– Nunca parei, tenho muita vontade de viver – diz.
Hoje, José Gomes divide o seu tempo entre as quatro sessões semanais de hemodiálise, de quatro horas cada, com a atuação na Associação dos Renais Crônicos de Joinville, que presta apoio e hospedagem a famílias e pacientes que vêm de fora fazer transplante em Joinville.
– A cada ano que passa, me sinto cada vez melhor – comemora.