Em tempos de redes sociais, qualquer pessoa é um produtor de conteúdo. Uma foto aqui, uma crítica ali e uma denúncia compartilhada nas redes sociais geram dúvidas entre os profissionais da comunicação: afinal, qual é o papel do jornalista neste redemoinho de dados e acusações desencontradas que a internet tem proporcionado?
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Responsável pela verificação das informações que circulam sem compromisso com a veracidade, o jornalista tenta reencontrar seu papel de fiscalizador e bola novas maneiras de se aproximar do público. Para conhecer mais sobre a profissão, os vestibulandos Marina de Melo e Luiz Fernando Platt Carreirão tiveram um bate-papo com o jornalista do Grupo RBS Renato Igor, radialista na CBN Diário, apresentador da TVCOM e responsável pela cobertura de importantes eventos internacionais.
O bate-papo
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Renato Igor – Pelo contrário, a profissão está ainda mais em evidência nos últimos anos. Talvez o formato do jornalismo como o conhecemos esteja caindo em desuso, mas mais do que nunca há uma imensidão de informações erradas circulando por aí. O papel do jornalista continua o mesmo: buscar a informação correta em meio a toda essa bagunça. Temos também que encontrar maneiras de atrair o público jovem, que atualmente se sente distante do jornalismo da forma que ele é feito. Agora, como fazer isso é uma questão que ainda não sabemos a resposta.
Luiz Fernando Platt Carreirão – Como o jornalista lida com a separação entre notícia e opinião?
Renato Igor – Estas são coisas completamente diferentes. A notícia feita com técnicas de apuração, de escrita, é selecionada a partir de critérios de relevância e tem um compromisso muito maior com uma suposta “verdade” – ainda que saibamos que toda notícia é um ponto de vista, é a observação particular de um repórter que só viu uma parcela do acontecimento. Já o comentarista adjetiva a informação, dá sua opinião, e não precisa ficar preso ao relato sóbrio e objetivo como a notícia. Por isso mesmo que ele precisa ter uma grande base antes de virar comentarista e conseguir discutir sobre mais assuntos.
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Marina – Em qual área do jornalismo você aconselha o jovem se especializar?
Renato Igor – Na área que ele mais gostar. Hoje, vivemos na área da especialização da especialização: um jornalista esportivo com curso de arbitragem, por exemplo, provavelmente vai produzir um conteúdo melhor quando for falar sobre a conduta de um juiz de futebol. É claro que você tem que conhecer outras questões importantes, e não se fechar na sua especialidade. Eu, por exemplo, comecei focado no esporte, mas hoje praticamente não me ligo mais no assunto. Ao mesmo tempo, todos somos multimídia e ninguém faz mais só televisão, só rádio ou só jornal. Essa convergência é uma vantagem para as novas gerações que estão chegando ao mercado, pois já conseguem enxergar todos os meios como uma coisa só.
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Estudantes questionaram Renato Igor sobre a carreira no jornalismo
Foto: Cristiano Estrela / Agência RBS
Por dentro da profissão
OPÇÕES DE ATUAÇÃO
Apesar da clássica imagem do repórter ou do fotojornalista, a profissão oferece diversas outras opções inclusive para recém-formados. As assessorias de comunicação e os media-training, por exemplo, têm se fortalecido devido à superexposição das marcas nas redes sociais e da facilidade de se criar informação com fotos e vídeos – algo que, há dez anos, era um processo muito caro. Os profissionais autônomos também têm se multiplicado em pequenas redações ou agências noticiosas, e até mesmo a mídia independente tem repercutido na agenda política do país, apesar de ainda não ter se consolidado financeiramente.
DISCIPLINAS E TEMPO DE DURAÇÃO
Ao contrário da maioria dos cursos do Brasil, o Jornalismo da UFSC não é uma habilitação de Comunicação Social. O foco na prática jornalística é muito maior, e o aluno tem contato com disciplinas específicas desde o começo da graduação: são sete cadeiras de Redação, além de Redação para TV, para Rádio e para Internet. Há também cadeiras de Fotojornalismo, Teoria da Comunicação, Políticas de Comunicação, Teoria do Jornalismo e Jornalismo Online. “O currículo tenta equilibrar disciplinas práticas com teóricas, mas é importante o aluno saber que as duas andam juntas, são diferentes visões sobre a profissão e a comunicação em geral”, explica o coordenador do curso da UFSC, Áureo Mafra Moraes. O curso dura quatro anos, sendo o último semestre reservado para o trabalho de conclusão que pode ser em vários formatos: livro-reportagem, reportagem para televisão, para rádio, monografi a acadêmica, novos meios, entre outros.
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O QUE É MAIS GRATIFICANTE
O objetivo do jornalismo é informar a população, então a resposta positiva da sociedade é a parte mais gratifi cante do trabalho. Como explica Renato Igor, “o jornalista tem que trabalhar muito, então precisa se sentir bem fazendo o que faz. Ele tem que gostar de verdade da notícia”. O dia a dia é pouco repetitivo nas redações, o que faz a profi ssão mais envolvente. Por fim, estar no centro dos acontecimentos, vendo as coisas acontecerem em tempo real, também costuma ser uma qualidade levantada pelos profi ssionais.
DO QUE PRECISA GOSTAR
Antes de tudo, o jornalista precisa ser alguém comprometido com a informação. Isso signifi ca ética e honestidade – afinal, uma mentira ou um erro causado pela má apuração podem comprometer a carreira de um profissional de maneira irreparável. Como explica o coordenador do curso de Jornalismo da UFSC, Áureo Mafra Moraes, “a nova geração já nasceu na era da internet e consegue enxergar a mídia de uma maneira diferente, mas os valores básicos da profi ssão não mudaram. É preciso ter uma visão equilibrada das novas tecnologias, não podemos ser tão restritos a ponto de achar que facilidade pra informática já é o bastante”. Moraes também destaca que é preciso gostar de ler, ainda que o curso tenha várias disciplinas focadas na prática e com bibliografi as pequenas.
SALÁRIO INICIAL
Atualmente, o piso salarial do jornalista é definido pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). Em SC é de R$ 1.535 para uma carga de cinco horas. Em alguns estados, o piso muda de acordo com a área de atuação (assessoria, jornal, rádio, televisão) ou com a região: no RS, o piso na Capital é de R$ 1.690, e no interior é de R$ 1.425. Para o comunicador Renato Igor, para ter rendas mais altas com o jornalismo é preciso bastante iniciativa pessoal e empreendedorismo. “Depende de você ganhar bem. Não é uma das profissões mais valorizadas, mas também não é voto de pobreza, é preciso criar ?produtos? e botá-los na rua, tentar coisas diferentes”.
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MERCADO DE TRABALHO
Em 2008, o Supremo Tribunal Federal retirou a determinação que obrigava um diploma em Jornalismo para se exercer a profissão, mas percebe-se que as redações continuam buscando profissionais formados. Uma pesquisa de 2012 feita pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da UFSC e pela Fenaj mostra que nove em cada dez jornalistas brasileiros têm diploma na área. A internet também tem tirado uma parte considerável do público da TV e dos jornais, mas a maneira de se ganhar dinheiro online ainda é uma incógnita no mundo inteiro. Isso tem causado enxugamentos em algumas das maiores redações do mundo e tentativas de se fazer novas formas de jornalismo surgem por todos os lados.
“O povo está mais vigilante com o governo, com o poder, com a imprensa. Isso é extremamente positivo”
Renato Igor – Radialista na CBN, apresentador