Limitações são fronteiras criadas apenas pela nossa mente. O provérbio chinês de autoria desconhecida é cirúrgico de tão preciso. “Não posso!”, “Não consigo!” ou “Não alcanço!” são interjeições inexistentes no vocabulário de Alairton, Chiquinho, Célio, Maike, Márcio e Valter. Ao lado do professor Luiz Fernando Hempkmeyer me ensinaram algumas lições na tarde de sexta-feira. Os pouco mais de 50 minutos que passei ao lado deles foi de puro aprendizado. A começar pela tarefa inicial: aprender a me locomover em uma cadeira de rodas.
Continua depois da publicidade
A convite de Giselle Margot Chirolli, coordenadora do projeto de paradesporto em Blumenau, me submeti às mesmas condições dos paratletas por aproximadamente três horas. A ação integrou a programação de atividades paralelas ao Campeonato Brasileiro Individual de Bocha Paralímpica, que movimentou o Setor 2 do Parque Vila Germânica. Acompanhado por professores e atletas, o interessado tinha a oportunidade de vivenciar as dificuldades dos competidores em três modalidades: basquete sobre rodas, tênis sobre rodas e a própria bocha.
O roteiro de atividades iniciou em uma das quadras de basquete do Parque Ramiro Ruediger. A pedido da organização do campeonato de bocha por causa do barulho, os basqueteiros trocaram o piso plano da Vila pelo asfalto irregular e com alguns buracos do parque. Para quem joga basquete ao menos duas vezes na semana, pensei que seria tranquilo. Ledo engano.
– Assim você empurra a cadeira para a frente. Se você segurar assim, ela para. E desse jeito você gira – dizia Márcio, fazendo os movimentos na sua cadeira de rodas para me ensinar a locomoção.
Com as pernas presas, precisei de alguns minutos até aprender a me locomover minimamente bem. As marcas pretas de borracha de pneu nas mãos não me deixavam mentir.
Continua depois da publicidade
– Demora um pouco, mas logo você terá esse para frear e esse para acelerar – brincava Márcio, mostrando calos em uma das mãos.
E o arremesso, dizer o quê? Depois de algumas frustradas tentativas, em que a bola nem sequer alcançou o aro, consegui fazer uma cesta, com a ajuda da tabelinha, é verdade. A comemoração dos companheiros foi comovente. Do asfalto do Ramiro, voltemos ao concreto lisinho da Vila Germânica. Por lá, era hora de aumentar o grau do desafio. E que desafio. Conheci um trio de respeito: Marcelo Renato Vargas Ribeiro, 21 anos, campeão do Circuito Catarinense Série B de Bocha Paralímpica da classe BC3, mais a mãe e auxiliar Rosane e a professora Kátia da Silva.
Mistura de velocidade, destreza e técnica
Passadas as orientações sobre o jogo, sentei lado a lado do campeão. Com braços e pernas imobilizados, tinha em Kátia, minha ajudante, a referência dos movimentos. Cabia a mim orientar a posição e a altura que ela colocaria a calha por onde rolariam as bolas do jogo, antes de empurrá-las com uma varinha de metal presa a um capacete. Resultado do jogo à parte, vivi novas lições. Ao observar mãe e filho conheci uma nova definição para cumplicidade.
E, por fim, a dificuldade aumentou ainda mais no tênis sobre rodas. Mover-se com a cadeira de rodas pela quadra até a direção da bola e acertá-la com um golpe preciso, a ponto de a bola superar a rede e tocar a quadra adversária exige velocidade, destreza e técnica. Árbitro da Paralimpíada do Rio, Rodrigo Arashiro deu dicas para mim e o colega Augusto Ittner, meu adversário. Entre lances certos e outros nem tanto, fica a inédita experiência.
Continua depois da publicidade
Sempre tive a impressão de que nesse mundo em que rotulamos a tudo e a todos cometia um equívoco ao chamar os praticantes de paradesporto de paratletas. São superatletas.