A abordagem policial a um homem no Terminal de Integração do Centro (Ticen) de Florianópolis, na noite de domingo, teve agressões ao suspeito e intimidação a uma jornalista do Diário Catarinense. Às 23h, a repórter Ângela Bastos retornava do plantão no jornal, quando testemunhou policiais militares prendendo um rapaz. Segundo o testemunho de Ângela, três viaturas e membros da cavalaria da Polícia Militar (PM) cercaram o homem, que estava caído, enquanto ele dizia nada ter feito.

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A repórter flagrou dois policiais pisando na cabeça do homem rendido e um terceiro desferindo tapas no rosto dele. Ao perceber as agressões, a jornalista começou a fotografar o fato. Ao fazer as imagens, foi abordada por um PM ruivo, sem identificação.

– De forma agressiva, ele quis arrancar o celular da minha mão. Tentei resistir ao máximo, mas a força dele foi maior e tive que ceder. Tão logo isso aconteceu, me identifiquei com o crachá funcional da empresa, dizendo que eu era jornalista, que estava retornando do plantão, e que fotografava por ser dever da minha profissão – relata a jornalista.

Em seguida, o policial afirmou à repórter que, por ter filmado e fotografado, ela seria testemunha do caso. Ângela continuou sendo intimidada e sem o celular, que seguiu em posse da polícia. Segundo a jornalista, o PM disse que o aparelho iria para a perícia e ela seria levada para a delegacia como testemunha, o que não foi aceito por ela. A jornalista entrou em contato com o jornal, que acionou o Departamento Jurídico. Depois de cerca de 40 minutos, a repórter conseguiu recuperar o celular das mãos do policial enquanto ele fazia perguntas a ela. Neste instante, a jornalista percebeu que as fotografias que ela acabara de fazer haviam sido deletadas.

Na tarde desta segunda-feira, a jornalista, acompanhada de uma representante do Departamento Jurídico do Grupo RBS, registrou boletim de ocorrência na 1ª Delegacia da Polícia Civil relatando o ocorrido. O delegado responsável registrou o caso como “fato atípico”.

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– O policial claramente intimidou a jornalista. Não podemos tolerar este tipo de cerceamento ao trabalho da imprensa, que é um dos principais pilares da sociedade democrática – afirma o editor-chefe do DC, Domingos Aquino.

O que dizem a Polícia Militar e a Secretaria de Segurança Pública

A assessoria de comunicação da PM enviou texto na tarde desta segunda-feira ao ser questionada sobre o ocorrido:

“Houve uma abordagem da PM em rondas a uma pessoa em atitude suspeita em um morro próximo do 25 e essa pessoa fugiu, ameaçando os policiais. A informação foi repassada ao rádio interno da PM e esse suspeito em fuga foi abordado novamente no Ticen pela cavalaria, onde foi contido. Ele foi reconhecido como a pessoa que ameaçou os policiais no morro, resistiu, desacatou e foi então preso e conduzido à delegacia. Nesse ínterim, a repórter esteve no local, disse que era repórter e ela figurou para a PM como testemunha e foi informado que eventual imagem poderia ser utilizada para provas dos fatos, da desobediência, resistência e desacato ali do sujeito”.

Ainda de acordo com a PM, o suspeito de 21 anos, que não teve a identidade divulgada, teria vários antecedentes e boletins de ocorrência em Florianópolis, São José e Palhoça, com histórico de conflito com a lei e com ações violentas de resistência à atuação policial, desacato, desobediência, prisão por adulteração de chassis, posse de drogas, lesão corporal e furto.

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A assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública afirmou que, a princípio, o caso se trata de uma arbitrariedade e recomendou que a jornalista procurasse a corregedoria da Polícia Militar para que os envolvidos sejam identificados.