Em outubro de 2020, a jornalista Eman Abusidu entrou em contato com o Diário Catarinense: ela queria dar visibilidade ao multimídia Cartas na Pandemia. A comunicadora palestina vive em Florianópolis e fez um artigo sobre a reportagem para o Middle East Monitor, do qual é correspondente. Com os recentes ataques na Faixa de Gaza, foi a vez de a reportagem buscar contato com Eman, também escritora e tradutora palestino-brasileiro de livros e filmes.

Continua depois da publicidade

> Receba as principais notícias de Santa Catarina pelo Whatsapp

– Deixei Gaza quatro dias antes do começo dos bombardeios – contou por telefone Eman, que se encontra em Istambul, na Turquia, finalizando um trabalho para somente depois retornar ao Brasil.

A jornalista explicou que Israel não permite que nenhum gazan (pessoa nascida na Faixa de Gaza) possa entrar em outra cidade mesmo que o lugar tenha palestinos morando. Eman mora com o marido e os filhos em Florianópolis. A família chegou em 2017, e veio com o desejo de poder trabalhar e viver uma vida mais tranquila do que na desafiadora Faixa de Gaza. Confira a entrevista.

O que você faz na Palestina neste momento em que a escala bélica acontece?

Continua depois da publicidade

Eu morei mais de 24 anos em Gaza, onde nasci, cresci e estudei. Quase toda minha vida está lá. Em fevereiro deste ano eu viajei com meus filhos para visitar minha terra natal e rever familiares e amigos, além de aproveitar para realizar um trabalho. Fiquei lá com minhas crianças por três meses, e deixei o lugar exatamente quatro dias antes do começo dos ataques.

> Brasileira conta como Israel usa drones no combate à Covid-19

Como é acompanhar os ataques tendo seus familiares em Gaza?

Minha vida paralisou, todo o meu tempo é na frente da televisão e nas mídias sociais para acompanhar o que está acontecendo em Gaza. Telefono para meus familiares a cada hora para saber como estão. Minha mãe me conta que os bombardeios não cessam, e que ocorrem bem próximo deles.

bombardeio em Gaza
Explosão destrói prédio em Gaza em meio a bombardeio no domingo (16) (Foto: Bashar Taleb, AFP)

Algum familiar seu morreu nos ataques?

Familiar não, mas todo o dia perco um amigo ou conhecido. No sábado, a família Abu Hatab perdeu 10 pessoas, oito eram crianças. O prédio onde moravam, no campo de refugiados Al-Shati, foi atingido por uma bomba e desabou. Perderam a vida a mãe e quatro filhos com idade entre cinco e 15 anos. No mesmo lugar estavam quatro primos, meninos e meninas com oito a 14 anos, e a mãe que visitavam por ocasião do Eid al-Fitr, que marca o fim do Ramadã (período sagrado para os muçulmanos). Tem um outro pai, o Mohammed Alhadedi, que perdeu a esposa e seus quatro filhos. É muito triste.

Continua depois da publicidade

> Quais são as comorbidades para a vacina da Covid; confira a lista

O que podemos esperar desses ataques que já mataram mais de uma centena de pessoas, inclusive crianças?

Parece que é destino de o povo palestino enfrentar a política de segregação imposta por Israel. Desde quando nasci eu testemunhei três guerras e com os mesmos motivos: negação de direitos, expulsões dos campos de refugiados, demolições de casas, grilagem de terras, ataques aéreos, assassinatos.

Qual é o seu sentimento?
Eu sei sobre a dor e sei quando outras pessoas estão sofrendo, como agora. Eu vi, senti e vivi muitas vezes este medo de a qualquer momento o lugar onde você se encontra vir a ser atingido por uma bomba e virar ruínas. Agora o Exército de Israel faz sua maior ofensiva, mas desde criança eu convivi com ofensivas e incursões militares. A gente cresce com destruição de casas, de prédios e cenas de morte.

> Relembre os tumultos que causaram mais mortes nos últimos anos no mundo

Dá para ter esperança de que um dia reinará a paz em Gaza, na Palestina?

Claro! A ocupação israelense não será para sempre, e um dia a paz chegará. Porém, o que uma pessoa quer em sua pátria é calma, segurança e paz; mas como viver em paz se há uma ocupação dentro de sua terra, na sua própria casa ou país?

Continua depois da publicidade

Quem mensagem você deixaria para os leitores desta conversa e de Cartas da Pandemia?

Orem por nós, orem por nós. Por favor, não deixem Gaza e a Palestina sozinhas, por favor.

bombardeio em Gaza
Conflito tem deixado maioria das vítimas no território palestino (Foto: Mohammed Asad/Divulgação)

Leia também:

> SC tem novo decreto de combate à pandemia até 31 de maio

> Vacina contra Covid foi aplicada três ou mais vezes em 10 mil pessoas de SC

> ‘É um serial killer’, alerta polícia sobre suspeito de matar e roubar professor de SC

> Creche que sofreu ataque em SC passa por reforma com ajuda de voluntários; veja fotos

> Como ficará a orla de Balneário Camboriú após alargamento da praia e reurbanização