Uma das imagens que entrou para a história no dia 15 de julho, quando um grupo de militares golpistas tentou tomar o poder na Turquia, foi a videochamada do presidente Recep Tayyip Erdogan à jornalista da CNN-Türk Hande Firat.
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“Olá, por favor, senhor presidente, estamos te ouvindo”, disse Firat ao vivo, mostrando seu iPhone na tela. Através do aplicativo FaceTime era possível ver Erdogan, com o semblante pálido, mas decidido a fazer o golpe contra ele fracassar.
A comunicação foi crucial para o desenrolar dos acontecimentos, já que mostrou que Erdogan estava vivo e disposto a retomar o controle.
Esta chamada de seis minutos transformou Hande Firat, apresentadora e chefe da redação de Ancara da CNN-Türk, em um símbolo do golpe de Estado frustrado e em uma celebridade em nível nacional.
A conversa foi interrompida por várias chamadas, mas a comunicação era boa e através do telefone, segurado por Firat, às vezes com as mãos trêmulas, Erdogan pôde convocar seus partidários a sair às ruas.
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Horas mais tarde, o presidente turco foi aclamado triunfalmente em Istambul e os golpistas se renderam.
O episódio também fez com que saltasse à fama o telefone branco da jornalista, que contou ter recebido ofertas milionárias da Turquia e inclusive do Catar e da Arábia Saudita.
“Não o vendi”, declarou Firat sorrindo. “Está guardado a salvo em uma caixa. Eu não o uso (…) por medo de que caia e quebre”, reconheceu.
– ‘Telefone da liberdade’ –
Desde aquela noite, Hande Firat lembra, sobretudo, do sentimento de incerteza, já que parecia que o país afundava no caos, à medida que os tanques avançavam em direção a locais estratégicos, os aviões dos golpistas sobrevoavam Istambul e Ancara e o Parlamento era bombardeado.
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“Ali disse: Meu Deus! Estamos nos tornando outro país? Está começando uma guerra civil? Qual será a situação amanhã?”, contou.
Naquele momento, uma das incógnitas era o destino de Erdogan, que passava suas férias no sudoeste do país.
Depois que conseguiu se conectar com Erdogan, só se concentrou na entrevista e não pensou nas potenciais consequências da comunicação.
“Quando estava ao vivo, estava muito nervosa e muito preocupada. Mas você se concentra em seu trabalho do momento”, contou. “Mais que pensar no que vai acontecer depois, você se concentra no fato de que o presidente está vivo e pode ser visto na tela do telefone”.
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“Recebi muitas mensagens do mundo árabe no Twitter que me diziam: ‘Obrigada!’, ‘é o telefone da liberdade’ e ‘você mudou o destino desta região'”, contou a jornalista.
Ao ser questionada sobre se a fama pode ofuscar seu trabalho, Firat reconheceu que às vezes pensa nisso.
“Mas também sei que isso faz parte do meu trabalho, contar o que ocorreu naquela noite”, concluiu.
* AFP