Entrevistei José Wilker durante uma rápida passagem dele por Florianópolis, para participar de um festival. Com um visual despojado, o ator nos recebeu no final de uma tarde de sábado, no saguão do Hotel Valerim, no Centro. Me preparei juntando informações sobre a carreira e a vida pessoal do ator, mas o começo da conversa não foi muito fácil. Wilker respondia lacônicamente minhas perguntas, com “sim” e “não”. Aos poucos, ao perceber que eu conhecia sua carreira a entrevista fluiu. O interessante é que, mesmo sério, suas respostas eram irônicas, o que me fez ter um grande trabalho na hora de escrever.

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Checar a veracidade das informações exigiu muita disposição. Ao final da entrevista, após quase uma hora, um aperto de mão selou nossa despedida. Saí do hotel aliviada após ter feito uma das entrevistas mais difíceis. A capa do Variedades com a matéria marcava o começo de mais uma história a ser acompanhada. Porque jornalista é assim: a partir do momento que a pessoa é entrevistada ela passa a fazer parte da sua vida. Vi José Wilker assumir vários papéis, como crítico de cinema, diretor e ator. No cinema participou de um dos filmes brasleiros mais vistos. Dona Flor e Seus Dois Maridos, ao lado de Sônia Braga e Mauro Mendonça, levou mais de 10 milhões de espectadores ao cinea e foi recordista de público por 34 anos _ desbancado em 2010 por Tropa de Elite.

Respeitado no meio artístico por suas colocações, atuava como comentarista oficial da Rede Globo na apresentação do Oscar, além de comentar filmes em canais por assinatura. Na televisão foi intérprete de personagens marcantes, como Giovanni Improtta (Senhora do Destino), que colocou na boa do povo palavras como “felomenal”, e do coronel Jesuíno (Gabriela), que ficou marcado pelo bordão “vou lhe usar”, Wilker também deu vida a personagens célebres, como o ex-presidente Juscelino Kubitschek na minissérie JK. Em seu último trabalho, na novela Amor à Vida, já não lembrava mais o galã que seduzia as mocinhas, mas mantinha o charme de um homem maduro, capaz de conquistar pelo envolvimento das palavras – características que o acompanhavam também na vida pessoal.

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