Missão cumprida. Depois de receber a benção do Papa na largada, cheguei junto com o The Flash e na frente do Homem Aranha. A São Silvestre é assim, cheia de personagens e garantia de muita diversão ao longo dos 15 quilômetros pelas ruas de São Paulo.

Continua depois da publicidade

Chegamos – eu e minha mulher Karin Verzbickas – na Avenida Paulista por volta das 7h30min e já havia uma multidão. Teve gente que estava esperando a largada desde as 4 horas da madrugada.

E o povo foi chegando e se amontoando até transformar a via num mar de corredores. Eram 27,5 mil atletas inscritos e mais milhares de “pipocas” que correm sem o número oficial no peito. Gente de todas as idades e de tudo que era canto do Brasil. Perto de nós um grupo de Concórdia e outro de São Bento do Sul, que foram anunciados pelo locutor da prova.

De Florianópolis, atletas amadores do Clube de Corrida Formacco (minha equipe), da Sprint, da Newpace e da Tribo do Esporte no meio da multidão. O tempo de espera até a largada passou mais rápido do que eu imaginava porque tinha muita atração ao redor.

Continua depois da publicidade

Do meu lado um cidadão que veio de Goiânia fantasiado de Fuleco, o mascote da Copa. A armação da fantasia, que virava um bola, devia pesar uns 30 quilos e ele correu com aquilo nas costas na maior empolgação. Atrás, outro corredor contava que aquela era a 21a vez que corria a São Silvestre, desde o tempo que a prova ainda era à noite. Ele vinha do interior de São Paulo e chegava na hora da corrida.

Mais um metro ao lado, um senhor com seus 65 anos lembrava as 42 maratonas que havia corrido e as duas provas de 100 km que realizou quando mais jovem e atleta de ponta.

– Agora venho aqui só para me divertir e para cuidar da saúde – completou.

Nisso passa o Tiririca, ou o sósia dele, ansioso para começar a correr. Anunciaram a largada da elite feminina. Faltavam apenas 20 minutos para a saída do pelotão geral. A largada é tumultuada, muita gente. É preciso ter atenção para não cair ou esbarrar em outro corredor. Segurei uma atleta pelo braço quando ela já estava quase no chão. E vai assim até completar o primeiro quilômetro, onde ultrapassar não é tarefa fácil.

Continua depois da publicidade

Na descida da avenida Pacaembu dá para ganhar velocidade. Foi o meu melhor quilômetro – completei com pace de 3:45. Nesse trecho passei pelo meu parceiro de equipe Roger de Moraes, que também estreava na prova. Até o quilômetro 6 consegui manter um bom ritmo, daí o sol começou a apertar. Foi a maior dificuldade da São Silvestre. Contra ele, só muita água (e a hidratação era boa em todo percurso) e o incentivo do público ao longo de todo percurso. As pessoas param para ver a corrida e esse é outro astral muito legal da São Silvestre.

Além da temida Brigadeiro, a São Silvestre tem várias outras pequenas subidas que também desgastam. No quilômetro 10, já chegando ao Centro de São Paulo, sol a pino e um viaduto para subir. Não dá pra desanimar. Continuei firme, passei o Lampião, o índio descalço, o garçom de sapato. Se eles estavam firmes, não era eu que iria fraquejar.

Logo em seguida, no meio daquela multidão de corredores – sim, você corre o tempo todo com gente do lado, atrás e na frente – encontrei meu parceiro de equipe e de treinos, o Renee Mussi. Começamos a subir a Brigadeiro juntos. Um dando força para o outro. Procurei manter o ritmo e não deixar o pace subir. Nessa altura na casa dos 4:45.

Continua depois da publicidade

Venci bem a subida, inclusive os 500 metros finais, que são os mais difíceis. A Paulista estava logo ali. Em menos de 1 quilômetro eu iria completar a minha primeira São Silvestre. Cruzei a linha de chegada festejando e feliz. Terminava não apenas a prova mais famosa do Brasil, mas um ano muito bom de corridas. Completei em 1 hora e 9 minutos. Não foi a minha melhor prova, mas com certeza foi a mais divertida. O Renee chegou logo em seguida e outro amigo, o Nilton Gonçalves também.

Mas a brincadeira não havia acabado ainda. Sai da pista e voltei uns 2 quilômetros pela calçada no sentido contrário até encontrar a Karin. Subi a Brigadeiro de novo com ela e também com outro casal de Floripa – Décio Albuquerque e Carolina Boeira – que vinham ao lado. Todo mundo feliz.

A Karin vinha bem. Subiu a ladeira correndo o tempo todo e dando risada das histórias que ouviu ao longo do percurso. Um atleta comentou na largada que a meia maratona faz bem para saúde e a maratona faz bem para o ego. Ao final a Karin completou a frase: e a São Silvestre faz bem para a alma. Já estamos pensando na prova desse ano.

Continua depois da publicidade

* Jornalista, diretor da Fábrica de Comunicação e corredor