O relacionamento foi rápido, durou três meses e, por um vacilo, Flavia Werlang, 32 anos, ficou grávida. Ligou para o parceiro à espera de um alento. Foi um retumbante choque. O rapaz, na época com 27 anos, disse que também ficava com outra menina e que pretendia namorá-la e arrematou “vou até você para conversamos”. Sumiu. Flavia desabou em lágrimas. Chorou um final de semana inteiro. Na segunda-feira, contou ao pai, e o conselho dele foi vigoroso: você é uma mulher. Tem condições de ser pai e mãe dessa criança.

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Luna está com um ano e três meses e é, incondicionalmente, o serzinho mais importante na vida de Flavia. O pai hoje fica com a menina em finais de semana alternados, mas não participou dos primeiros meses de vida da pequena e só viu a barriga de Flavia uma vez, por acaso e rapidamente, na rua.

A história acima é real. Publicada pela mãe na internet, provou ser compartilhada por muito mais mulheres do que se imagina. Dados do IBGE confirmam a pluralidade de mães solteiras no Brasil. De acordo com o estudo Indicadores Sociais 2010 do IBGE, mulheres sem cônjuge e com filhos representam 17,4% da população brasileira.

O blog Grávida Solteira completou um ano em janeiro. Às vezes, registra em um único dia picos de 20 mil acessos. Flavia recebe e-mails diários de mães pedindo conselhos e contando dilemas da aventura de ser mãe solteira. Por conta do sucesso, ela criou um grupo de discussões no Facebook que tem 79 membros.

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– Eu jamais esperei tanta repercussão. Não imaginava que existiam tantas mulheres na mesma situação que eu – contou.

O blog não foi algo planejado por Flavia. A carioca que se mudou para Chapecó em 2009, e seis meses depois estava grávida, sentia-se sozinha, sem amigos, numa cidade distante. Tinha dificuldade de encontrar informações sobre como lidar com a gravidez sem um companheiro. Decidiu criar um blog para compartilhar o que sabia e poder contar a sua história.

Entre os assuntos mais comentados no blog estão a realização de exames de rotina de gravidez sem o pai do lado, a paquera depois da gravidez e o preconceito da sociedade:

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– Uma das coisas que mais incomoda a mãe solteira é a falta de aliança. As pessoas, quando veem o barrigão, já olham automaticamente para sua mão procurando a aliança. Na sequência, vem a pergunta: e o pai? Ele está feliz? – conta Flavia.

A jornalista sente que só quando Luna completou oito meses de vida conseguiu superar a ausência do parceiro. Ela ensina sua fórmula:

– A gente sempre acha que vai mudar o cara e acaba criando expectativas. Quando caiu a ficha para mim de que isso nunca ia acontecer, eu superei. Outra coisa é se apegar à criança. O sorriso da Luna de manhã é a coisa mais maravilhosa do mundo. Às vezes, as mulheres ficam sofrendo, focadas no abandono ou no fim da relação, e não olham com foco para o filho que estão criando e como isso é fantástico.

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Flavia Werlang assumiu a criação de Luna sozinha

É quase unanimidade entre mulheres prestes a dar à luz: homens demoram mais tempo para absorver a ideia de que serão pais. A gravidez é um momento em que as mudanças físicas se somam às psicológicas – e passar por tudo sozinha pode ser complicado. Segundo a psicóloga Daniela Panisi, colunista do site Meu Bebezinho, ter alguém para dividir anseios facilita os momentos de “padecimento emocional”.

Mas por que alguns homens não se interessam? Para a profissional, o motivo não está ligado à inconstância de sentimentos:

– Hoje o que vislumbramos é que as configurações de nossa sociedade pós-moderna produzem relações superficiais.

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Essa aparente capacidade de não se prender emocionalmente também pode ser uma aliada das mães. Se conseguirem vencer o ressentimento em relação à ausência dos pais da criança que esperam, elas podem resolver os problemas sozinhas. O importante, ensina Daniela, é deixar o caminho livre para o diálogo.

– A mãe tem que manter uma comunicação com o filho, saber ouvi-lo e expor opiniões, deixá-lo formar as convicções sobre o pai – aconselha.

Fugir do pensamento inocente de que a família tradicional – pai, mãe e filhos na mesma casa – é garantia de que a prole seja plenamente saudável e feliz também ajuda a levar a vida de maneira mais racional:

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– Existem muitos pais presentes (no lar) que são completamente ausentes da vida dos filhos. Em muitos casos, um avô, um tio, um amigo da família acaba ocupando esse papel de exemplo a ser seguido.

Associação para mães solteiras

O trabalho é um obstáculo para mães solteiras. A Associação das Mães Solteiras do Brasil (Amas) fornece cursos de capacitação. O projeto surgiu em janeiro deste ano e tem mais de mil pessoas envolvidas. Mais informações no site .

*Com Correio Brasiliense