A expansão de tecnologias que facilitam o acesso à informação e os receios com o cerceamento à liberdade de imprensa concentraram os debates na passagem dos 30 anos da Associação Nacional de Jornais (ANJ).

Continua depois da publicidade

Em painel promovido nesta terça-feira em Brasília, a entidade reuniu profissionais de alguns dos principais jornais do país para discutir o futuro do jornalismo e as formas de se garantir a livre circulação de notícias.

Antes do início do painel, o presidente emérito do Grupo RBS, Jayme Sirotsky, entregou ao vice-presidente das Organizações Globo, João Roberto Marinho, o título de sócio-honorário da ANJ.

– Ele começou muito jovem. Não gosta de holofotes, mas é um homem que se incorpora, trabalha e participa e é isso que a ANJ tem de melhor – elogiou Sirotsky.

Fundador da ANJ com o pai, o jornalista Roberto Marinho, João Roberto agradeceu a distinção com um breve discurso no qual salientou a importância da entidade.

Continua depois da publicidade

– Se pude contribuir para essa associação foi porque entendi a orientação de meu pai como uma missão: é preciso trabalhar permanentemente pela construção de um ambiente democrático, em que a livre circulação de informações seja reconhecido por todos – disse João Roberto.

Durante almoço com a diretoria da ANJ, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, mostrou os avanços do indicadores econômicos do país, ressaltando uma recuperação após os reflexos da crise financeira mundial.

À noite, durante um jantar de encerramento das festividades, o deputado federal Miro Teixeira (PDT-RJ) recebeu o Prêmio ANJ de Liberdade de Imprensa. Teixeira foi autor da ação no Supremo Tribunal Federal que culminou com a extinção da Lei de Imprensa. Durante o evento, a ANJ divulgou um relatório com 13 decisões judiciais que resultaram em censura à imprensa no último ano. Para a presidente da ANJ, Judith Brito, antes de ser um direito dos jornais, a liberdade de imprensa é um direito dos cidadãos.

– Os jornais e o verdadeiro jornalismo independente e responsável são imprescindíveis na democracia – resumiu Judith.

Continua depois da publicidade

De acordo com o diretor-geral de Produto do Grupo RBS, Marcelo Rech, a despeito da revolução que blogs e redes sociais como o Twitter estão provocando na forma de se disseminar informações, ainda há resquícios de um entulho autoritário inibindo a imprensa. Na avaliação de Rech, a indústria do dano moral e a proliferação de processos de corrupção protegidos por segredo de justiça contribuem para cercear a atividade jornalística.

– Tenho dúvidas se temos hoje mais liberdade para expressar opiniões ou conduzir investigações do que há 20 anos – afirmou o jornalista.

A recente censura ao jornal O Estado de São Paulo, proibido por decisão judicial de noticiar as investigações da Polícia Federal envolvendo as empresas da família Sarney, foi alvo de reprovação unânime dos painelistas.

Preso durante 20 dias durante a cobertura das eleições presidenciais no Irã, o repórter grego de origem britânica Iason Athanasiadis fez um relato de como novas tecnologias contribuíram para driblar o rígido controle que o regime dos aiatolás exercia sobre jornalistas estrangeiros.

Continua depois da publicidade

O jornalismo cidadão exercido no Irã, contudo, motivou ressalvas de Merval Pereira, membro do Conselho Editorial das Organizações Globo. Segundo Pereira, as plataformas digitais ampliam a liberdade de expressão, mas não garantem a responsabilidade e o profissionalismo com que as notícias precisam ser divulgadas. A credibilidade dos veículos ainda continua sendo fundamental.