Os jornais argentinos foram tomados de surpresa pela eleição de Jorge Mario Bergoglio, agora papa Francisco I. O tom do anúncio mistura emoção com alguma contestação do novo pontífice, destacando tanto sua paixão pelo clube argentino San Lorenzo quanto suas posições, consideradas polêmicas pela comunidade católica argentina.
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O jornal Clarín destacou a emoção dos argentinos com a eleição do novo papa, mas foi taxativo quanto as posições conservadoras ostentadas por Francisco I. Dedicou especial atenção à tortuosa relação que o pontífice teve com os dois últimos presidentes do país – Néstor e Cristina Kirchner.
Segundo o jornal, com Néstor Kirchner, a relação foi muito mais distante e conflituosa do que com que a atual presidente. O ex-presidente chegou a identificar o então cardeal como “o verdadeiro representante da oposição”. Naquele momento, Bergoglio queixava-se com frequência das ações de Kirchner.
Com Cristina, o ponto máximo de enfrentamento chegou com a lei de matrimônio entre pessoas do mesmo sexo. Bergoglio foi o rosto da marcha contra o casamento gay, e se opôs ruidosamente ao projeto, que mais adiante se transformou em uma realidade.
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– Me preocupa o tom que adquiriu esse discurso. Se mostra como uma questão de moral religiosa e um atentado à ordem natural, quando, na verdade, o que se faz é olhar para o que já é a realidade – respondeu Cristina na oportunidade. No Twitter, a presidente argentina divulgou uma carta ao novo pontífice desejando a ele uma “frutífera tarefa pastoral desempenhando responsabilidades tão grandes em prol da justiça, da igualdade, da igualdade e da paz da humanidade”.
Em uma das últimas críticas, o então arcebispo de Buenos Aires advertiu em uma carta sobre o perigo de acostumar-se a “ouvir e ver, através dos meios de comunicação, a crônica negra da sociedade”. Nessa oportunidade, Bergoglio também mirou contra “a destruição do trabalho digno, as imigrações dolorosas e a falta de futuro”, em uma crítica social.
Para o diário La Nación, Bergoglio é um opositor histórico e implacável do matrimônio igualitário e do aborto. O jornal também destacou o posicionamento de Francisco I em meio ao debate do projeto que legaliza o casamento de pessoas do mesmo sexo. À época Bergoglio publicou uma carta, dirigida aos quatro monastérios de Buenos Aires, em que dizia: “Não sejamos ingênuos. Não se trata de uma simples luta política; é a pretensão destrutiva ao plano de Deus”. E adicionava: “Não se trata de um mero projeto legislativo (este é só o instrumento), mas sim uma “jogada” do pai da mentira, que pretende confundir e enganar os filhos de Deus”. O cardeal foi mais longe, ao dizer: “Aqui também está a inveja do demônio, que entrou com o pecado no mundo e que, arteiramente, pretende destruir a imagem de Deus: homem e mulher que recebem a ordem de crescer, se multiplicar e dominar a terra”.
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O jornal também fez um apanhado de discursos do novo papa, destacando algumas de suas opiniões: sobre o tráfico de pessoas, disse que, “na cidade, a escravidão é a ordem do dia”. Falando sobre pobreza, afirmou que “a dívida social é imoral, injusta e ilegítima” e, sobre a corrupção, afirmou que “os mais pobres, para os abastados, não contam”.
Mais divertido foi o periódico esportivo “Olé”, que aludiu ao gol histórico e polêmico de Maradona nas quartas-de-final contra a Inglaterra na Copa do Mundo de 1986, com o título “La Mano de Dios”. O site do jornal dedicou grande espaço ao amor de Francisco I pelo San Lorenzo de Almagro, tradicional clube do bairro portenho de Boedo que disputa a primeira divisão argentina.
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