No dia seguinte à votação que o levou para o segundo turno das eleições para o governo de Santa Catarina, o senador Jorginho Mello (PL) chegou ao estúdio do Jornal do Almoço, na NSC TV, onde teria exibida uma entrevista ao vivo para todo o Estado, para reforçar impressões como se fossem as primeiras.
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No paletó, o candidato exibia um adesivo com a expressão “O governador do Bolsonaro” e um broche com o rosto do aliado na lapela, além de um outro de Nossa Senhora Aparecida. Iniciada a conversa, não demorou muito para citar o presidente – 17 segundos para ser mais exato –, ao atribuir a votação que teve ao projeto, aos catarinenses, a Deus e ao apoio de Jair Bolsonaro (PL).
A menção foi a primeira de 20 que Jorginho fez ao presidente da República — que busca a reeleição —, durante os 10 minutos de entrevista, 16 delas nos quatro iniciais. O senador também anunciou condicionar eventuais alianças na corrida estadual ao pleno alinhamento a Bolsonaro e chegou a colocar a candidatura presidencial à frente da própria.
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— O grande projeto agora é o do Brasil, o primeiro. O segundo é o de Santa Catarina, junto com esse projeto — disse o candidato, na última segunda-feira (3).
O alinhamento a Bolsonaro já não era novidade na campanha. No entanto, o apelo à imagem dele foi reforçado já na largada do 2º turno, após o presidente ter dado nova demonstração de força no Estado, onde teve apoio de 2.694.406 eleitores. O volume representa 62,21% dos votos válidos em Santa Catarina, o quarto maior índice bolsonarista no país. Em 2018, o apoio catarinense chegou a ser o maior no 1º turno, com 65,82%, mas com menor número absoluto de votos: 2.603.665.
Se tivesse garantido uma dobradinha no último domingo (2), portanto, Jorginho já estaria eleito. No entanto, ele ficou bem distante disso, embora tenha tido a maior votação entre os candidatos ao governo catarinense, com 1.575.912 votos, equivalente a apenas 38,61%.
— No primeiro turno tinham mais candidatos de direita que se intitulavam defensores do presidente Bolsonaro. Então, isso diluiu os votos — disse o senador ao Diário Catarinense, ao explicar a tentativa em parte frustrada de nacionalizar a disputa pelos votos catarinenses ao governo do Estado.
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Jorginho faz menção aos candidatos Esperidião Amin (PP), Gean Loureiro (União Brasil), Odair Tramontin (Novo) e Ralf Zimmer (Pros), que declararam apoio a Bolsonaro, além de Carlos Moisés (Republicanos), que evitou ataques ao presidente mesmo após ter rompido com ele, depois de ambos terem sido eleitos pelo mesmo PSL, em 2018.
Com todos eles já fora do pleito, a nova tentativa de colar em Bolsonaro estará também facilitada pelo perfil do único adversário: Décio Lima é do PT, do mesmo partido ex-presidente Lula. Aliás, Santa Catarina é o único dos 12 estados com segundo turno que repete a disputa partidária presidencial.
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Jorginho espera por visita de Bolsonaro
Na briga com outros nomes bolsonaristas no primeiro turno, Jorginho perdeu espaço até para Décio, que chegou a vencer em 15 das 263 cidades catarinenses que deram a vitória para Bolsonaro. Em contrapartida, o nome estadual do PL foi vitorioso em quatro dos 32 municípios de maioria pró-Lula.
Para firmar a dobradinha, Jorginho já sinalizou esperar uma visita de Bolsonaro ao longo da campanha — o presidente deve estar em Balneário Camboriú na próxima terça (11) —e revelou ter recebido uma breve ligação dele após o primeiro turno. O senador foi parabenizado não só pela ida ao segundo turno, mas também pela quantidade de nomes que o bolsonarismo levou ao Legislativo por Santa Catarina, outra demonstração de força do presidente.
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O PL de Bolsonaro elegeu o agora senador catarinense Jorge Seif (PL), seis deputados federais e 11 parlamentares estaduais. Com isso, a sigla terá as maiores bancadas catarinenses tanto na Câmara dos Deputados quanto na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) nos próximos quatro anos. Os números foram maiores do que os de 2018, na altura em que o então PSL de Bolsonaro elegeu quatro deputados federais e seis estaduais, além de ter eleito, ao final do 2º turno, o indicado do presidente para a Agronômica, Carlos Moisés.
Naquele ano, também houve um nome bancado por Bolsonaro para o Senado, Lucas Esmeraldino, que foi superado para Esperidião Amin e Jorginho Mello.
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Bolsonarismo consolidou base social orgânica, diz especialista
Professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o cientista político Julian Borba diz que o salto de uma eleição a outra mostrou que o fenômeno envolvendo o bolsonarismo no Estado deixou de ser apenas uma onda, como foi tratado em 2018.
— A eleição passada aconteceu em uma conjuntura crítica, de forte crise econômica e política, onde a própria política estava sendo colocada em xeque, e isso esteve muito relacionado ao que se convencionou chamar de onda bolsonarista. Acho que, em 2022, apesar da diminuição do percentual de votos, o bolsonarismo consolidou uma base social orgânica para além de uma onda. Ele mostra ter uma base social orgânica, que se materializa no percentual de votos para o presidente e nas bancadas que ele elegeu. É um indicativo de que está enraizado socialmente — diz.
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Um dos aliados de Bolsonaro recém-eleitos em Santa Catarina, o agora senador Jorge Seif disse, à reportagem, entender que o apelo dele no Estado se deve ao alinhamento de eleitores catarinenses com o presidente no campo econômico e na defesa de pautas de costumes, como a contrariedade à legalização do aborto e das drogas.
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A deputada federal Julia Zanatta (PL), da mesma leva bolsonarista agora eleita, vai ao encontro do que diz Seif e cita ainda a defesa do armamentismo, prioridade da própria parlamentar, como ponto de contato dos catarinenses com Bolsonaro.
Ela também diz acreditar que o avanço do bolsonarismo catarinense ao Legislativo foi planejado pelo presidente. Após ter ficado em terceiro na disputa à prefeitura de Criciúma em 2020, ela recebeu a indicação do presidente e do também deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), de quem é amiga pessoal, de que deveria concorrer à Câmara dos Deputados. Ela própria titubeou a princípio e avaliou uma disputa à Alesc, mas depois atendeu a indicação presidencial, que deu certo, confirmado por 111.588 eleitores.
— Penso que o presidente priorizou, sim, ampliar a base no Congresso, porque ele precisa de apoio em Brasília para aprovar as reformas, por exemplo — disse a recém-eleita.
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A deputada federal eleita afirma ainda que, a essa altura, a melhor estratégia de Jorginho é mesmo reforçar a relação com Bolsonaro. Zanatta acrescenta que o palanque duplo do PL também pretende aumentar a votação do presidente no segundo turno contra Lula.