“Quando ele volta para Imbituba, uma partida de taco é a final da Champions League”, conta o amigo de Jorginho, Bill Junior. O volante nascido em Imbituba ganhou destaque nos últimos meses pelas grandes atuações jogando pelo Chelsea e pela seleção italiana. Apesar de ser competitivo, os amigos e familiares destacam que o campeão da Champions League a da Eurocopa não deixa a essência de lado.
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Nas entrevistas e aparições na mídia, Jorginho sempre lembra de ressaltar a cidade natal e a família. Quando retorna para o Brasil, o volante gosta de ficar na casa da infância, perto dos amigos. Bill Junior, Luiz André e Renan Weiner conheceram o jogador quando eram pequenos e, desde então, mantêm uma relação forte e próxima.
— A gente tem um time, e quando ele (Jorginho) volta, traz uniforme para a galera. Da última vez jogamos taco na pracinha, no outro dia estávamos todos doloridos — lembra o amigo Bill Júnior.
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Luiz André conta que no começo, quando Jorginho foi para a Itália, foi difícil manter a comunicação porque não tinham muitas tecnologias. Porém, quando o volante voltava, sempre ia na casa dos amigos atualizar as novidades.
Apesar de o nome Jorginho já estar na boca do povo, para os amigos e para a mãe é difícil cair a ficha que o ‘Jorge’, ‘Magrelo’ ou o ‘Magro’, como o chamam, está na seleta lista de melhores jogadores do mundo. Quando o amigo Renan Weiner foi visitar Jorginho no Chelsea, almoçou perto dos ídolos do clube Makélélé e Petr Čech.
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— Depois dali eu voltei falando para ele no carro: tens noção que você faz parte disso? Estava na minha frente um cara que a gente jogava no videogame. Agora a gente joga com o Jorginho.

Além de ser o melhor de bola, Jorginho sempre foi o mais ‘palhaço’ da turma. A casa dele era a casa de todos, e a dona Maria Tereza de Freitas tinha que se virar com a rapaziada. Ela conta que o filho nunca a incomodou e foi extremamente difícil deixar ele ir sozinho com 15 anos para a Itália.
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— Ele foi para a Itália sem um centavo no bolso. Eu era faxineira na época. Ele pediu ajuda, mas eu não tinha como dar, e ele entendeu. Eu botei na mão de Deus. No aeroporto, foi difícil ver aquele filho abençoado ir para longe.
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A mãe lembra que sempre soube que ele era diferenciado e que iria se destacar. O que Dona Maria Tereza não imaginava é que o filho iria para tão longe. Da mesma forma, ela e a filha Fernanda, em tempos não pandêmicos, visitam Jorginho duas vezes por ano.
— A gente é muito unido e ele nos ajuda muito. Como passamos por dificuldades, hoje só de a gente estar junto nessa situação a gente já se emociona muito.

A formação de Jorginho
O volante de sucesso começou a jogar bola na “Escolinha do Peixe” com quase cinco anos. Os treinos eram fornecidos pela prefeitura municipal de Imbituba. Luiz Peixe, o treinador, lembra que apenas crianças de 6 anos poderiam entrar na categoria Fraldinha, mas Jorge Frello, o pai de Jorginho, insistiu para que ele começasse a jogar mais cedo.
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— Quando ele entrou na quadra, eu senti que ele já tinha qualidade. Ele era franzino. E ali começou a trajetória saindo de casa para vir treinar em uma escolinha — conta o treinador aposentado Peixe.

Depois disso, Jorginho começou a estudar em uma escola estadual do bairro Vila Nova, onde ele cresceu. O professor de educação física da EBB João Guimarães Cabral era Pedro Ávila, conhecido como “professor Pepê”. Ele relembra a relação que criou com o aluno, que gostava de o acompanhar durante os treinamentos. Quando o volante volta para Imbituba vai a procura de Pepê, seu segundo pai.
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Jorginho sempre foi destaque nos Jogos Escolares de Imbituba (JEIMB). A competição permite que pesssoas de até 14 anos joguem todas as modalidades. O atual volante já na 3ª série, com 9 anos, era destaque e jogava no time “dos grandes”.
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— Ele tinha habilidade no vôlei, no atletismo e me ganhava no tênis. Ele era muito focado e determinado em tudo que se propunha a fazer — lembra Pepê.

Em um dos anos, o time da escola de Jorginho estava na final do futsal e a partida acabou em pênaltis. O professor de Educação Física conta que todos já haviam batido, faltava apenas o Jorginho, mas ele tinha apenas 9 anos.
— Eu me ajoelhei e perguntei, como tu bate pênalti lá no professor? “Professor, eu chego e bato”, falou com uma simplicidade muito grande. Eu falei: “então vai lá, meu filho. Se tu fizer o gol, tu corre do professor, mas se tu não fizer corre e me dá um abraço”.
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Pepê se preocupava com tamanha responsabilidade que estava dando para um garato muito pequeno. Mas, Jorginho, de forma humilde e certeira, bateu e acertou o pênalti.
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Quando ainda estava na escola, o meio-campista passou a jogar futebol de campo no Vila Nova Atlético Clube. Primeiro com o técnico Mancha e, depois, com Mario Junior. O jogador ficou até 2005 no clube. Ele foi levado para fazer teste no Palmeiras, São Paulo e Internacional nesse período, mas nenhum vingou.
Em uma competição, amigos de Mario Junior gostaram de Jorginho e ele, com mais 11 crianças, se mudou para Guabiruba, para jogar em um projeto de futebol. Foi lá que Jorginho conheceu os italianos e foi para a Itália com 15 anos.
Recentemente, o clube de Mario Junior, o Vila Nova Atlético Clube, foi reconhecido no passaporte desportivo de Jorginho e, pelo Mecanismo de Solidariedade por Formação de Atleta, ganhou uma porcentagem da transferência do jogador para o Chelsea.
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Hoje Jorginho é reconhecido mudialmente, mas antes de ser transferido para o Napoli, o volante passou por muitas dificuldades longe da família.
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— Na época que ele foi para a quarta divisão do Italiano, ele poderia ter desistido. Ele ficou bem desanimado. Com o pouco dinheiro que recebia, comprava cartão para me ligar e eu dizia para ficar mais um pouquinho. Ele passou bastante dificuldade e ainda me diz que não contou tudo — conta a mãe, Maria Tereza.

Os amigos colecionam histórias com Jorginho e não veem a hora de reecontrar o Magro, que agora é campeão da Champions e da Eurocopa, no Brasil. Com o destaque de Jorginho nos últimos tempos é até engraçado lembrar que antes, Bill, Luiz e Renan viam os jogos por resumos na internet e comemoravam cada vez que aparecia o nome do amigo.
— Só orgulho dele. Alguém da terra que não esquece suas origens. Chegou tão longe mas a essência continua a mesma — se emociona o amigo Renan.
Perguntados sobre a possibilidade de Jorginho vir para o Brasil, Luiz André e Bill dizem que gostariam de ver o amigo jogando no país de origem. Renan já acredita que o estilo dele é europeu. A mãe concorda com Renan e conta que o filho tem vontade de ser treinador de futebol após se aposentar, mas, provavelmente, seja na Europa.
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