Jorge Sampaio completou 30 anos, mas quem ouve Estrada pro Sol pensa estar diante de um contemporâneo de Caetano, Gil, Zé Ramalho ou Rita Lee com Arnaldo e Sérgio. Em seu segundo disco _ que pode ser computado como primeiro, já explicaremos _, ele assume a persona de Tupiniquin para exercitar o legado tropicalista de liberdade artística e trabalho em grupo.
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Estrada… foi gravado praticamente ao vivo, em meados de 2010, no estúdio que Tupiniquin montou quando voltou dos EUA. Por lá, passaram desde Ratos de Porão a Céu e Astronauta Pinguim, o que explica a direção musical anárquica do disco. Cítaras, bandolins e guitarras raivosas convivendo em harmonia são resultado da produção de Dustan Gallas e Rian Baptista, membros do Cidadão Instigado e que também dão uma força tocando baixo, piano, guitarras e percussão.
Mesmo com o disco pronto, Tupiniquin decidiu esperar. Em 2007, seu primeiro álbum, Made in São Paulo, foi “roubado” por um selo inglês.
– Aconteceu que eu assinei um contrato sem ler as letras miúdas. E aí, quando me dei conta, o selo era dono do disco, e eu não posso mais fazer nada com ele – lamenta.
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Desgostoso e traumatizado com a experiência, dedicou-se à produção até se sentir novamente seguro para registrar um álbum próprio. E chamou os amigos para a empreitada. Além de Gallas e Baptista, Estrada… traz Régis Damasceno (bandolim e cítara), Bruno Buarque (percussão), Samuel Fraga (bateria) e Juliana R. (cantando em Acácia Amarela).
Com os pilares musicais assentados, foi deixar a poesia fluir – o que Tupiniquin só fez quando estavam prontos para gravar.
– Não mostro o que escrevo pra ninguém por medo de que não entendam e queiram palpitar, sabe? Porque ali é a minha visão das coisas, e não sei até onde isso pode interessar – diz.
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Das 10 faixas de Estrada…, oito são de Tupiniquin (que assina como Jorge Sampaio) e trazem um romantismo algo existencialista (Grávida, Soldados do Sol, Acácia Amarela), às vezes meio místico, (Sagittarius, Estrada pro Sol), mas sempre solar, positivo. E levando o tempo necessário – quatro músicas ultrapassam os seis minutos, um atentado aos padrões da música pop atual.
Por fim, Estrada Pro Sol é a visão de alguém que nunca se interessou por raízes ou em seguir padrões. E tem uma história boa para isso também:
– Meu pai era caminhoneiro, e eu passava as férias viajando com ele. Quando voltava pra escola, tinha que escrever aquelas redações sobre o que fiz. Não foram poucas as vezes em que a professora não acreditou em nada Mas era tudo verdade, fazer o que?
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