Joinville começa o ano repetindo o cenário epidêmico da dengue já enfrentado em 2023. Em menos de dois meses, a cidade mais populosa do Estado contabiliza seis mortes. Até a última quinta-feira, dia 22, o município indicava 1.993 casos confirmados de dengue. Enquanto isso, no mesmo período do ano anterior, existiam apenas 151 confirmações.

Continua depois da publicidade

Clique para entrar na comunidade do WhatsApp

Segundo João Augusto Brancher Fuck, diretor da Diretoria de Vigilância Epidemiológica de Santa Catarina (Dive-SC), houve uma antecipação nos níveis de transmissão, porque o cenário que a região enfrenta já em fevereiro deste ano havia ocorrido apenas em março de 2023. A preocupação do órgão é que este aumento siga se estendendo e ultrapasse 2023.

Em meio a tantos casos da doença, estão as vidas perdidas para a doença. Uma das 39 vítimas fatais na cidade em 2023 foi a vendedora Fabrizia Twardovski Braz, 41 anos. Moradora do bairro Costa e Silva, Fabrizia começou a sentir os primeiros sintomas uma semana antes da morte, no dia 19 de maio. Ainda enfrentando o luto pela perda da filha, Matilde Twardovski lembra que Fabrizia sentiu os primeiros sintomas em um sábado, às vésperas do Dia das Mães, e que ela piorou no dia seguinte.

– Falei para tomar bastante líquido, água de coco, mas eu sei que é difícil (consumir grande quantidade de líquido) – aconselhou a mãe, que havia pegado dengue pouco tempo antes.

Continua depois da publicidade

Prefeitos de SC terão que informar quais os planos para conter a dengue

No domingo, Fabrizia teve uma piora nos sintomas e não conseguiu visitar a mãe. Mesmo assim, enviou um presente.

– Um vaso de flores com mensagem muito linda – lembra a mãe.

matilde-twardovski-filha-fabrizia-vitima-fatal-dengue-2023-joinville
Matilde Twardovski sofre com a perda da filha Fabrizia, 41 anos, que foi uma das vítimas fatais da dengue em 2023 (Foto: Arquivo Pessoal)

No mesmo dia, a filha foi à Unidade de Pronto Atendimento, já que apresentava falta de visão, febre e sangramento. Lá, testou positivo para a doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti. Com o passar dos dias foram idas e vindas às unidades de saúde. Medicada, Fabrizia melhorava. Depois, piorava. Até que no dia 17 de maio, ela teve uma piora significativa. Foi levada ao Hospital Regional Hans Dieter Schmidt por uma ambulância, pois não conseguia caminhar, já que pressão e saturação estavam baixas.

SC atualiza plano de contingência para controle da dengue, chikungunya e Zika em 2024

Dois dias após dar entrada na unidade, a equipe médica pediu que a família fosse até o hospital e avisasse os demais parentes, pois o caso da vendedora era gravíssimo. Na última visita que fez à filha, Matilde disse palavras de carinho. Apesar de não conseguir falar, Fabrizia abriu os olhos e chorou, lembra a mãe em meio às lágrimas. Horas depois, a filha morreu.

A mãe recorda que a filha era forte, não gostava de faltar no trabalho e, nos primeiros dias de sintoma, ainda queria cumprir a carga horária. Inclusive, já havia pegado Covid-19 e se recuperado. Porém, a dengue foi mais grave e a levou ao óbito. Matilde também havia contraído dengue e afirma que fazia limpezas e manutenções regularmente. Após a perda da filha, o pavor da doença aumentou.

Continua depois da publicidade

– Tenho medo de pegar dengue de novo – diz Matilde, que espera pelo fim da epidemia e que outras pessoas não precisem chorar pela perda de alguém para a doença.

Joinville vive quinta epidemia seguida

Joinville entra no quinto ano seguido com alta em casos de dengue e, no ano passado, foi uma das cidades do país que mais registrou mortes pela doença (39). Conforme o gráfico abaixo, antes de 2020, a cidade não tinha casos de dengue. Mas, a partir de então, os números passaram a subir e a cidade enfrenta a quinta epidemia seguida da doença.

Gráfico mostra os cinco ciclos de epidemias da dengue em Joinville (Foto: InfoDengue, Reprodução)

O sistema de saúde local foi ainda mais sobrecarregado com a chegada da Covid-19. À época, com as unidades colapsadas por causa do coronavírus, houve também restrições e distanciamento social, impedindo os agentes de vigilância de ir às casas e, com isso, o mosquito tomou a cidade.

Infográfico mostra o ciclo de vida do Aedes aegypti, mosquito da dengue, chikungunya e zika

Para o pesquisador da Fiocruz e coordenador do InfoDengue, Leonardo Bastos, o cenário implica diretamente na maior gravidade dos casos.

Continua depois da publicidade

– Um volume muito grande de casos afeta todo o sistema de saúde, vimos isso na Covid. E, infelizmente, um grande número de casos implica também em um aumento de casos graves que precisam ser identificados o mais cedo possível para que não evoluam.

A importância de evitar a proliferação do Aedes aegypti

Leia também

SC passa de 17 mil casos de dengue e internações sobrecarregam hospitais

Saiba como funcionará a primeira vacina brasileira contra a dengue

Como vai funcionar biofábrica em ação contra dengue em Joinville; local está definido