De um instrumento pouco valorizado, o bandoneon ganhou vida em Joinville pelas mãos da família Trapp nas últimas duas décadas. A tradição foi retomada e a cultura trazida pelos imigrantes voltou a ter força na cidade, principalmente com a Bandoneonfest, que começa neste fim de semana no bairro Vila Nova com entrada gratuita.
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A história dos Trapp remonta aos imigrantes que chegaram à cidade carregando seus instrumentos. Porém, foi o aposentado Dionisio Trapp o responsável por reacender a tradição tanto na família quanto no município.
Ele é apaixonado pelo bandoneon desde pequeno, quando pegava escondido do pai. Dionisio aprendeu sozinho e passou a tocar assim como o pai, que integrava uma banda na época. Em 2001, teve a ideia de reunir alguns amigos e músicos para um encontro. Segundo a filha, Francielle Trapp Menna Barreto Alonso, o instrumento estava em desuso e quase ninguém tocava na cidade.
– Ele fez um trabalho de mais ou menos um ano em busca de pessoas. Achou esses músicos, mas ainda teve a dificuldade de convencê-las eles a tocarem no dia do encontro porque tinham vergonha – recorda.
O encontro regional foi marcado para o terceiro domingo de maio e reuniu 1 mil pessoas na Sociedade Piraí, além de 35 músicos. Francielle apresentava as atrações que subiam ao palco. A família avaliou o evento como um sucesso e percebeu que ele poderia se tornar uma festa. Foi assim que surgiu a Bandoneonfest, que está na 18a edição. No ano seguinte, o evento mudou para a Sociedade Palmeiras e, depois, para a Sociedade Rio da Prata, onde permanece até hoje.
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Dezoito anos depois, Francielle analisa como tudo mudou. O que antes era motivo de vergonha para os músicos, hoje é repassado para 15 crianças que participam de um projeto gratuito da família. Eles recebem aulas para aprender a tocar bandoneon semanalmente. Além dos já inscritos, ainda há uma fila de espera com novas crianças e adolescentes interessados.
Nova geração de bandonionistas
Entre as crianças que aprendem gratuitamente no projeto da família Trapp está Anna Letícia Schulze, 12 anos. Ela faz aulas há dois anos e meio, mas tem paixão pelo instrumento desde os três anos de idade. Quando era menor, visitava o avô apenas para vê-lo tocar.
A oportunidade de aprender veio na escola, quando a família Trapp fez uma apresentação para os alunos. Ela chegou em casa pedindo para a mãe inscrevê-la nas aulas e assim começou a participar das atividades semanalmente. O sonho dela é ser a maior bandonionista do mundo.
– Sempre achei o bandoneon bem legal e alegre. Queria muito aprender a tocar – diz.
Ela se deu bem nas aulas e até já fez apresentações em cidades de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. No entanto, nunca conseguiu realizar o sonho do avô de vê-la se apresentando na Bandoneonfest. Três meses antes da primeira participação na festa, o avô faleceu. Apesar disso, os dois chegaram a tocar juntos em casa.
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Assim como a colega, Carlos Ervino Prochnow, 9 anos, faz aulas semanalmente no projeto. Ele começou há cerca de três anos após um dos integrantes da família de bandonionistas divulgar o projeto e se apresentar na escola.
O pequeno destaca que não é difícil tocar o instrumento, apesar de ser complicado sincronizar o bandoneon corretamente. Carlos vai se apresentar neste fim de semana no festival pela terceira vez. Com o apoio da família, o objetivo é continuar tocando o instrumento e se tornar um músico profissional.
– Minha mãe sempre me diz para continuar porque é bem legal – afirma.
Atrações internacionais
A 18a edição da Bandoneonfest começa amanhã em Joinville. Neste ano, a novidade é a ampliação de um para dois dias de evento. A abertura será com uma noite de gala na Sociedade Harmonia-Lyra, às 19h. Os ingressos são gratuitos, mas precisam ser retirados com antecedência na secretaria do local.
Na primeira noite, haverá uma espécie de volta ao mundo com shows de artistas internacionais. Serão quatro apresentações para mostrar os diversos estilos de músicas tocadas com bandoneon pelo mundo. A abertura será com a orquestra mirim de Joinville tocando músicas alemãs.
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Na sequência, se apresentarão João Paulo Deckert, com um show gaúcho de bandoneon, e o alemão Klaus Gutjahr, em uma mistura de estilos unindo música barroca e clássica. A noite encerra com o show de tango da banda Alma & Pasión, da Argentina.
No domingo, a festa continua a partir das 10h na Sociedade Rio da Prata, em Pirabeiraba. Neste dia, o evento também é gratuito, mas não tem distribuição de ingressos com antecedência. Serão cinco bandas para todo mundo dançar: Die Jungs (Pomerode), Orquestra de Bandonionistas (Joinville), Sandro & Wilson (Pomerode), Bierband (Joinville) e D’Fiebes (Timbó). Também haverá um palco alternativo aberto aos músicos que quiserem se apresentar das 10h30min às 17h. Eles poderão se inscrever gratuitamente durante o evento.
Nos últimos anos, o público girou em torno de 4 mil a 5 mil pessoas durante o festival. Neste ano, a expectativa é de que o número chegue ao mesmo de edições anteriores.
Curiosidades
- O bandoneon nasceu em Carlsfeld, na Alemanha, no século 19.
- A origem do nome não tem uma versão confirmada. O mais provável é que tenha surgido de Heinrich Band, um professor de música e vendedor de instrumentos na Alemanha. Há duas versões sobre o nome: uma é de que chamavam os instrumentos de acordeon do Band e a outra é que a loja dele chamava-se Band Union – a junção dos dois nomes teria batizado o instrumento.
- Alemanha, Argentina e Brasil (Rio Grande do Sul e Santa Catarina) são os lugares em que mais se toca bandoneon no mundo
- O bandoneon chegou a Joinville com os imigrantes. Ele era muito usado na música sacra e os pastores o usavam na igreja. Eles colocavam o instrumento no bagageiro da bicicleta e levavam para tocar nos cultos.
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