A falta de mão de obra técnica e profissionalizante em Joinville é um problema que surgiu ao longo dos últimos anos e piorou durante a pandemia, com a redução de estudantes matriculados em cursos técnicos e o aumento de vagas abertas sem profissionais para preenchê-las pela falta de qualificação. Diante do cenário desfavorável, empresas e instituições da cidade buscam soluções para tentar combater essa deficiência em curto, médio e longo prazo.

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A Associação Empresarial de Joinville (Acij) organizou, no segundo semestre do ano passado, uma pesquisa sobre empregabilidade no município, em que ouviu empresas, instituições de ensino e de recursos humanos. Segundo o presidente da entidade, Marco Antonio Corsini, os dados mostraram que existiam 15 mil postos de trabalho em aberto em Joinville, enquanto o número de pessoas à procura de emprego era quase o mesmo.

Além disso, o estudo apontou que a cidade está próxima de chegar ao patamar de 100 mil pessoas desempregadas, desalentadas (que abandonaram a procura) ou na informalidade. Isso representa quase metade da força de trabalho de Joinville, atualmente em aproximadamente 220 mil trabalhadores.

– Joinville está em pleno emprego. As empresas estão contratando e quem não está qualificado vai ficando no fim da fila. Esse problema não é de hoje e, evidentemente, no período da pandemia tivemos desemprego porque empresas tiveram que desacelerar ou diminuir a produção. Quando retomamos, em maio e junho (de 2020), as empresas encontraram dificuldades para contratar pessoas e atender a demanda porque esbarraram na falta de qualificação – contextualiza Corsini.

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Uma das instituições que atua na formação de profissionais no ensino técnico é o Senai. O gerente executivo da regional Norte-Nordeste, Marco Aurélio Prass Goetten, explica que a baixa qualificação profissional em Joinville é formada, principalmente, pelos imigrantes (haitianos e venezuelanos, por exemplo), migrantes das regiões Norte e Nordeste do país e jovens das escolas públicas.

Baixa procura pelo ensino técnico

Goetten explica que o país escolheu uma rota de educação básica que estimula os alunos para o ensino superior. Com isso, apenas 11% dos jovens no ensino médio em todo o Brasil se formam em cursos técnicos, enquanto países da Europa têm índices que chegam a 80%.

– Hoje, temos 18 mil meninos e meninas no ensino médio público em Joinville. De todas as crianças que entram no ensino fundamental, 65% concluem o ensino médio. Dos que concluem, só 21% vão para a universidade. Ou seja, temos cerca 15 mil jovens sem qualificação e orientação que caem nos processos seletivos das empresas – detalha Goetten.

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Com isso, as empresas precisam contratar esses jovens e ainda qualificá-los. O Senai de Joinville tem aproximadamente 1,9 mil alunos em cursos técnicos em 2022 – eram 1,4 mil durante a pandemia.

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Deste público, 95% são alunos que já estão empregadas no mercado de trabalho e estão sendo apoiadas pelos contratantes. Isso indica uma baixa formação de profissionais técnicos para ocupas as novas vagas abertas pelas empesas na cidade.

Aula de qualificação para profissionais do Joinville Emprega Mais
Aula de qualificação para profissionais do Joinville Emprega Mais (Foto: Carlos Junior, Acij, Divulgação)

Até quatro semanas para preencher uma vaga

A falta de qualificação profissional em Joinville é percebida no dia a dia pelas empresas que precisam preencher as vagas abertas. No ano passado, por exemplo, a Nidec contratou mais de 1,3 mil pessoas e o setor de recursos humanos sentiu dificuldades para encontrar candidatos capacitados.

– A nossa região está em pleno emprego e sentimos essa dificuldade no ano passado, quando tínhamos mais vagas em aberto. Temos um público interno que já começou a carreira há mais tempo e está em vias de se aposentar, mas os jovens estão mais interessados em fazer uma graduação do que um curso técnico – aponta Natália Ferrari Tino, gerente de RH da Nidec.

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A empresa levava, em média, de três a quatro semanas para preencher uma vaga aberta no ano passado. De acordo com Natália, nunca foi rápido para encontrar profissionais capacitados, mas em outras oportunidades duas semanas já foram o suficiente para contratação de posições técnicas.

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Como solução para tentar combater a falta de qualificação, a Nidec trabalha com a oferta de bolsas de estudos para funcionários estudarem em cursos técnicos e crescerem na carreira dentro da empresa.

E ainda criou um curso de eletromecânica, em parceria com Acij, Senai/Fiesc e prefeitura de Joinville, para capacitar pessoas da comunidade que estejam desempregadas e queiram assumir funções técnicas dentro da empresa.

Rotatividade entre os profissionais qualificados

A mesma estratégia de investir em qualificação do público interno e externo também é executada pela Ciser. A indústria está com aproximadamente 100 vagas abertas, mas enfrenta dificuldades para preenchê-las justamente pela falta de mão de obra técnica e profissionalizante. Segundo a gerente de gestão de pessoas da empresa, Paula Rodrigues Nascimento, há outro problema que dificulta a contratação: o turnover.

– O maior prejuízo para todos nós é que os profissionais formados hoje em dia são os mesmos. Eles acabam mudando de uma empresa para outra, o que acaba sendo ruim para quem perde e bom para quem conquista o novo talento – aponta Paula.

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Segundo ela, a formação técnica demora de um ano e meio a dois anos, por isso o investimento das empresas na educação e qualificação é um movimento contínuo visando o futuro. Paula defende que poder público, empresas e instituições de ensino precisam trabalhar juntos para encontrar soluções.

Alunos inscritos em aulas do Joinville Emprega Mais
Alunos inscritos em aulas do Joinville Emprega Mais (Foto: Carlos Junior, Acij, Divulgação)

Programa busca qualificar profissionais

Parcerias entre empresas e outras instituições também têm sido um caminho encontrado para qualificar profissionais para o mercado de trabalho. Em uma atuação conjunta entre Acij, Senai/Fiesc e prefeitura de Joinville surgiu o programa Joinville Emprega Mais, que está capacitando cerca de 1,4 mil moradores da cidade desempregados, desalentados ou na informalidade.

As empresas interessadas se cadastraram no programa e apresentaram quais as vagas abertas que necessitam de qualificação mínima para serem preenchidas. A partir disso, o Senai formatou cursos de 30 a 40 horas para atender essa expectativa e as inscrições foram abertas para a comunidade.

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As aulas estão sendo ministradas em quatro escolas públicas da cidade, em horário de contraturno, escolhidas por estarem próximas dos alunos e para evitar gastos com deslocamento.

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– Os cursos são 100% gratuitos e não são extensos para não desmotivar os alunos. Eles são estruturados com grade para a capacitação mínima que permita a pessoa ser contratada pelas empresas. E tivemos uma demanda muito grande de pessoas que estavam procurando qualificação – conta o presidente da Acij, Marco Antonio Corsini.

As turmas estão fechadas para a primeira etapa do programa, mas outras pessoas interessadas já podem fazer as inscrições para novas frentes de capacitação que devem ser abertas em breve. O formulário está disponível no site da Acij.

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