Imagine um inseto que coloca até 500 ovos em 45 dias e, neste período, pode picar pelo menos 300 pessoas. Ao picar, pode transmitir pelo menos quatro doenças e 50 tipos de vírus, levando a febre, dores, sangramentos, paralisação dos membros e, em alguns casos, à morte. Imagine que ele mede apenas um centímetro e geralmente voa entre as pernas das pessoas – e que não há nenhum jeito de garantir que ele não pousará nas suas a não ser fazendo a manutenção correta da área externa dos imóveis e evitar a reprodução e proliferação do mosquito Aedes aegypti.
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Em Joinville, atualmente, há 225 focos positivos da larva do mosquito, que é o transmissor da dengue, da febre chikungunya, do zika vírus e da febre amarela – destes, 110 locais de reprodução do vetor estão no bairro Boa Vista, que desde o ano passado já era o bairro com maior número de focos da cidade, a ponto de a região entre a rua Aubé e a Zona Industrial Tupy ser considerada infestada.
Os agentes da Vigilância Ambiental responsáveis pelo controle de endemias fazem visitas periódicas às residências durante o ano inteiro, mas, nesta semana, a Secretaria de Saúde realiza ações especiais por causa da Semana Nacional de Mobilização no Combate ao Mosquito Aedes aegypti. Nesta quarta-feira, a Unidade Básica de Saúde Bakita, no Boa Vista, recebe atividades para conscientizar a comunidade de forma quase lúdica: haverá uma trilha pontuada com exemplos das principais formas de criação do mosquito e a exposição da larva do Aedes aegypti.
Também haverá palestra na Escola Municipal Presidente Castelo Branco, às 9h30, e, na sexta-feira, também às 9h30, palestra na Escola Municipal Governador Heriberto Hülse. Unida às vistorias frequentes nas residências, a educação é a principal estratégia para evitar a disseminação do vetor, considerado o maior desafio da saúde pública brasileira em 2017.
No ano passado, por exemplo, Santa Catarina registrou um aumento de 18% em relação a 2015 no número de casos em que a transmissão da dengue ocorreu dentro do território catarinense. Segundo a coordenadora da Vigilância Ambiental de Joinville, Nicoli dos Anjos, apesar das campanhas e das notícias sobre as doenças, a maioria das pessoas não toma os cuidados necessários para evitar a proliferação do Aedes aegypti.
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– Elas recebem a visita do agente, se comprometem e, logo depois, descuidam novamente. Pensam que nunca vai acontecer nada com elas sem se dar conta de que, com 227 focos, se uma pessoa infectada chegar à cidade e for picada por um mosquito, pode ocorrer uma epidemia muito rapidamente – afirma Nicoli.
Por isso, além das ações desta semana, a Vigilância Ambiental realiza atividades em escolas – em setembro, foram 40 palestras – nas quais, além de receberem instruções, crianças e adolescentes cumprem uma atividade: em casa, com os pais, devem vistoriar o terreno como se fossem um agente, em busca de possíveis acumuladores de água parada, e reportar a experiência aos professores.
– Assim, educamos as crianças e estendemos a orientação aos pais – explica a coordenadora.
Depósito de lixo à beira do mangue
O aumento de focos positivos no bairro Boa Vista ocorreu muito rápido: entre 2014 e 2015, o bairro nem mesmo aparecia na lista. Entre fevereiro e maio de 2016, já havia se tornado o local com maior concentração de criadouros do Aedes aegypti. Segundo Nicoli dos Anjos, o principal motivo é o descuido da população, que acumula lixo em casa, e os depósitos à beira do manguezal.
Apesar das ações de limpeza na “avenida Beira-mangue” feitas pela subprefeitura, o local continua sujo. Ontem, em cerca de dez metros no bairro Boa Vista, a equipe do jornal “A Notícia” encontrou quatro televisões quebradas, além de plásticos e entulhos de construção jogados perto da área do mangue.
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A coordenadora avisa que, em caso de reincidência — os agentes realizam a visita e, em caso de foco positivo, dão um prazo para o proprietário fazer a limpeza do terreno — há previsão de multa, que pode variar de duas a dez UPMs, ou seja, de R$ 547,10 a R$ 2.735,50. Além disso, amparados pela lei federal 13.301/2016, os agentes podem forçar a entrada em terrenos abandonados, de ausência frequente ou recusa do proprietário para realizar a vistoria.
O segundo bairro com maior número de focos positivos em Joinville é o Jardim Sofia, com 29 pontos. Os bairros Itaum e Floresta, que apareciam no topo da lista até 2015, não estão imunes: eles continuam infestados e, agora, só são contabilizados os focos em armadilhas colocadas pela equipe de combate à dengue.