O voluntariado é uma herança de família na casa dos Ribeiro, no Jardim Paraíso. Ela começou há quase duas décadas com os pais, Ricardo e Telma, e parece fazer parte do DNA dos filhos, Débora e Pedro, de 23 e 17 anos. Juntos, eles abraçam aquela comunidade com o apoio de outros voluntários e profissionais, que atendem a cerca de 200 crianças e adolescentes do bairro no Projeto Acolher. As ações foram iniciadas em um galpão da Igreja Batista, da qual Ricardo é pastor, e atualmente ocorrem neste espaço e em outras duas casas doadas para o projeto. É por meio de doações e parcerias, também, que é possível manter as sedes e oferecer as atividades que garantem que estes moradores de dois a 17 anos da região recebam educação e, principalmente, atenção.
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Há 18 anos, quando a família mudou-se para o Jardim Paraíso, começou a preocupação de atender a jovens em situação de vulnerabilidade. Em um galpão da Igreja Batista, na rua Crux, o pastor Ricardo e a esposa começaram a preparar jantar para, todas as noites, assegurar que as crianças da região tivessem esta refeição. Lá, elas também podiam praticar alguns esportes e recebiam orientação religiosa. O projeto cresceu e, agora, ampara cerca de 135 crianças de dois a seis anos com uma creche em tempo integral e proporciona atividades de contraturno escolar para 60 crianças e adolescentes.
– Eles podem participar de apenas uma ou outra atividade, mas a maioria dos pais prefere que eles fiquem aqui durante todo o período em que não estão na escola. Muitos trabalham fora ou não têm condições de oferecer alimentação ou um lugar para brincar – explica Débora.
A maioria das crianças apresenta situação de vulnerabilidade social, integra famílias disfuncionais e mora em áreas de invasão. Muitos – e cada vez mais cedo – já tiveram contato com drogas ou o tráfico. No projeto, recebem a dedicação que a família, por diferentes motivos, não consegue dar. Além da oportunidade de participar de aulas de artes marciais, música, educação física e artes manuais, eles também recebem suporte para fazer as atividades escolares e as refeições no período em que estão no projeto.
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– Nós gostaríamos de fazer mais, de ter atividades também no fim de semana e até um abrigo para as crianças que, às vezes, encontram situações problemáticas ao chegar em casa, com familiar alcoólatra ou violência – afirma Débora.
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Ela cresceu no meio do projeto e, hoje, o vivencia todos os dias, auxiliando na área administrativa e nos cuidados com as crianças e adolescentes. Apesar de estar prestes a se formar em engenharia química, não há planos para uma carreira longe das questões sociais: Débora sonha criar possibilidades para que as famílias da região possam empreender e desenvolver autonomia para promover melhores condições de vida para os filhos.
Aprender para ensinar
Pedro Ribeiro tinha apenas 14 anos quando decidiu que aprenderia a lutar jiu-jítsu especialmente para ajudar a ensinar a modalidade esportiva às crianças do Acolher. Além de auxiliar o professor, o rapaz sabe que, mais do que criar atletas, seu papel é ensinar outras lições àqueles alunos que não são muito mais jovens do que ele.
– Queremos mudar a vida delas pelas artes marciais, mostrando como é importante não desistir, superar os desafios – avalia Pedro.
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Ex-aluno do projeto, Alexandre de Souza, 28 anos, entende o que significa vencer os bloqueios. Ele tinha 12 anos quando começou a fazer aulas de violão com a mãe de Pedro, Telma, mas assistia aos colegas evoluírem enquanto não conseguia nem controlar os dedos sobre as cordas. Atualmente, toca nos grupos da igreja e ensina música no projeto.
– Eu dizia que ia desistir, mas o pastor insistia e falava “persevera, meu filho” – recorda.
Na mesma época, Leandro Silva, 28 anos, também chegava ao Acolher e, agora, é responsável pelas aulas de educação física. Mas, além dos momentos passados no contraturno, ele, Alexandre e outros participantes do projeto mantêm uma relação de amizade com as crianças e adolescentes que ultrapassam os muros da sede.
– Somos como uma família. Acreditamos que, se eles tiveram as mesmas chances que as outras crianças, poderão se desenvolver. Onde muita gente enxerga “filhos de bandidos” só porque moram no Paraíso, nós vemos crianças excelentes – afirma Leandro.
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