No ano em que a criação do Dia Mundial de Luta contra a AIDS completa 30 anos, os números de contaminação pelo vírus HIV em Joinville demonstram que há um longo caminho para garantir a prevenção na região. Em Joinville, nos últimos 12 meses, 600 pessoas foram diagnosticadas pelo Centro de Testagem e Aconselhamento da Secretaria Municipal de Saúde, o que significa um índice de 1,6 por dia. No total, são 4.417 pessoas em tratamento na cidade. O dado não é animador, mas revela a efetividade do teste rápido aplicado desde 2014 em Joinville, que garantiu maior número de detecções e, com elas, o acompanhamento e tratamento dos pacientes.
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Diferentemente do teste tradicional, no qual uma amostra de sangue é colhida, enviada para laboratório e o resultado leva alguns dias, o teste rápido retira a amostra de sangue com uma picadinha no dedo – semelhante ao teste de glicemia – e, após entrar em contato com um reagente, apresenta o resultado em cerca de 15 minutos.
– O incremento foi bem significativo de 2014 para cá, também com a implantação da notificação compulsória. Até então, o banco de dados era apenas para as detecções de AIDS, ou seja, o paciente que já apresentava a carga viral há alguns anos e havia evoluído para a infecção – afirma a coordenadora da Vigilância Epidemiológica de Joinville, Aline da Costa.
Segundo ela, desde a aplicação do teste rápido em Joinville, a detecção teve um aumento de 20% a 30% na cidade. Em 2014, por exemplo, ao longo de um ano foram 352 diagnósticos. Atualmente, Joinville é a cidade com mais casos do Estado com pacientes em tratamento pelo vírus HIV, mas o número explica-se por ser a cidade mais populosa de Santa Catarina. Em incidência, o município ocupa o 8º lugar das 12 cidades catarinenses com prioridade para adesão ao Plano Interfederativo de Cooperação Técnica entre o Ministério da Saúde, Estado e município, que tem o objetivo de reduzir os casos e a transmissão do HIV. Atualmente, a taxa nacional é de 20 casos a cada 100 mil habitantes, enquanto em Joinville a taxa é de 41,2 casos a cada 100 mil habitantes.
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– Não conseguimos estimar o porquê de termos uma taxa tão alta, mas algumas explicações possíveis são o fato de realizarmos muitos testes e o atendimento a pacientes de outras cidades. Muitas pessoas de municípios vizinhos os fazem em Joinville, ou porque trabalham aqui ou porque acham que terão mais sigilo, por causa dos preconceitos – analisa Aline, frisando que o paciente pode realizar o teste e o tratamento em qualquer lugar do país.
Desde 2014, o número de casos diagnosticados de HIV e Aids cresce na proporção de dois homens para cada uma mulher em Joinville. A faixa etá- ria com maior número de diagnósticos é entre 20 e 49 anos e a população heterossexual representa 75% dos casos, enquanto a população homossexual e bissexual juntas somam 25%. Desde 2015, não foram mais identificados casos de transmissão vertical, ou seja, de mãe para filho. Ainda que, só em 2017, 42 gestantes tenham detectado o vírus HIV em exame pré-natal, os casos tem sido controlados para evitar que o bebê seja infectado.
Entre 15 e 20 anos, o índice de detecção não é tão alto, mas Aline chama atenção para o fato de que isso não significa o número não tenha aumentado entre os adolescentes.
— Não é que não estão adquirindo o vírus, mas não estão testando e, por isso, não entram nos dados. Além disso, como não tem a vivência da AIDS como epidemia, consideram ela uma doença crônica, que tem remédio — explica.
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Tabu cria mais barreiras contra exame
Segundo dados do Ministério da Saúde divulgados em 2016, cerca de 112 mil pessoas vivem com o vírus HIV no Brasil e não sabem. Em Joinville, a coordenadora da vigilância epidemiológica Aline da Costa estima que a proporção seja semelhante. Segundo ela, o tabu que envolve as doenças sexualmente transmissíveis ainda influencia a busca pelo exame.
— É uma cultura que tentamos trabalhar na população, que quanto mais rápido fizer o diagnóstico, mais fácil é o tratamento. Além disso, quanto mais cedo identificamos, mais controle temos sobre o vírus e mais freamos a contaminação — avalia.
É possível realizar o teste rápido nas unidades básicas de saúde de Joinville e no Centro de Tratamento da Aids. Ele é oferecido durante a triagem ou pelo médico, mas também pode ser feito sob agendamento, por interesse do paciente. O teste é para HIV, sífilis, hepatite B e C. Antes dele, é realizada uma entrevista com o paciente para verificar as possíveis situações de risco às quais foi exposto, como praticar relações sexuais sem preservativo, contato com material cirúrgico não confiável ou uso drogas com seringas compartilhadas.
CASOSDEACOLHIMENTO E ORIENTAÇÃO
Se o resultado for negativo, ele passa por um aconselhamento e, no caso do resultado positivo, acolhimento e orientação. Ao ser diagnosticada, a pessoa passa por uma série de exames e começa o tratamento, com o medicamento e com acompanhamento de médicos (primeiro mensalmente, depois bimestralmente), exames, psicólogo e assistente social.
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Hoje, entre 8h e 17h, esta ação terá uma versão ampliada no Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) no pátio da sede da Vigilância Epidemiológica, na rua Abdon Batista, 172, no Centro. Os testes de HIV e sífilis, assim como kits com material educativo sobre o HIV e preservativos, serão ofertados para toda população acima de 16 anos. Basta apresentar um documento oficial com foto e o cartão SUS.
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