Joinville tem o segundo maior número de imigrantes em Santa Catarina, com pelo menos 4,5 mil, segundo dados da Polícia Federal. A maioria deles são haitianos e venezuelanos, que veem a cidade como referência, mas encontram dificuldades com o idioma e no acesso a moradia, trabalho e educação. Um dos pedidos dos imigrantes, debatido durante reunião na Câmara de Vereadores, é a instalação de um centro de referência para acolhimento das pessoas que chegam de outros países.

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Segundo o representante da Asssociação de Imigrantes Haitianos de Joinville (AIHJ), Whistler Ermonfils, muitas pessoas vindas do Haiti chegam sem ter um local para dormir. Quando é possivel, os haitianos já estabilizados na cidade abrem espaço em suas casas para abrigar os conterrâneos, mas nem sempre há lugares disponíveis.

– Para mim, Joinville é uma referência no Brasil (para imigrantes haitianos), mas aqui precisa de um centro de acolhimento. Mesmo que tenha um assistente social, não é o suficiente. Deveria ter uma casa para acolher os imigrantes porque, às vezes, demora dois a três meses para conseguir um serviço – explica Whistler.

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Outro problema enfrentado pelos imigrantes, segundo o representante da AIHJ, é a dificuldade em conseguir estudar e ter salários melhores em Joinville. Whistler mora e trabalha há sete anos na cidade e conta que muitos haitianos chegam ao país com o projeto de investir em estudos, mas não têm acesso.

Ele afirma que os salários para imigrantes são, em média, de R$ 1,2 mil. Com as contas de aluguel, mercado e outras necessidades, não sobram recursos o suficiente para investir na educação.

– Eu queria que o Brasil e Joinville melhorassem bastante para os imigrantes porque eu queria viver nessa cidade com tranquilidade. Não é só trabalhar para sobreviver. Muitos de nós querem estudar, saem de lá com uma profissão e aqui não conseguem trabalhar na área – conta.

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Atendimento não tem distinção para imigrantes

Os vereadores das comissões de educação e cidadania, que realizaram a discussão na Câmara, protocolaram uma moção pedindo à prefeitura a instalação do centro de referência de atendimento a imigrantes.

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Segundo a secretária de assistência social, Fabiana Cardozo, o atendimento na cidade acontece para todos que precisarem, independentemente de ser ou não brasileiro. Ela entende que se houvesse um espaço exclusivo para imigrantes precisaria ser um para cada nacionalidade, o que não seria viável para o município.

– Nós entendemos como um caso de direitos humanos, então todos são atendidos da mesma forma. Estamos discutindo a questão dos imigrantes porque tem questões que eles trazem de cultura e regramento, mas de uma forma geral hoje não há distinção, estamos abertos para todos que necessitarem – garante.

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A secretária diz que existem 115 vagas em casas de passagem atualmente em Joinville para quem precisar do serviço. Também há processos em andamento na prefeitura para expandir a capacidade.

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Segundo Fabiana, entre os imigrantes, os venezuelanos costumam procurar o município com mais frequência em busca de moradia. Já os haitianos têm uma procura maior pelo Cadastro Único e encaminhamentos para mercado de trabalho e cesta básica. 

Whistler Ermonfils fala com vereadores durante reunião na Câmara
Whistler Ermonfils fala com vereadores durante reunião na Câmara (Foto: Mauro Artur Schlieck, CVJ)

Idioma é barreira para acolhimento

Mesmo que o atendimento já seja realizado pela Secretaria de Assistência Social, Fabiana admite que ainda existe uma dificuldade em relação à comunicação, principalmente com os haitianos. O presidente da Associação de Imigrantes Haitianos de Joinville também ressaltou o problema durante a reunião na Câmara de Vereadores.

Eles costumam falar os idiomas crioulo e francês, mas têm dificuldade em se comunicarem em português. Em alguns casos, a prefeitura pede ajuda para o vice-presidente do Conselho Municipal de Assistência Social, que é haitiano e faz a tradução para auxiliar na comunicação.

– Estamos fazendo o termo de referência para a prefeitura contratar um tradutor de crioulo e outro de espanhol para nos comunicarmos melhor com haitianos e venezuelanos – revela Fabiana.

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No caso dos venezuelanos, o problema com a comunicação existe, mas é menor porque a língua é mais semelhante ao português. Segundo a secretária, o maior desafio com os imigrantes desta nacionalidade é a documentação. Isso porque muitos entraram no país após o fechamento da fronteira entre Brasil e Venezuela, em março de 2020, e são considerados ilegais, sem ter acesso aos documentos.

– Conversamos com a Polícia Federal e sabemos da dificuldade política que estão passando lá na Venezuela, então ninguém foi deportado. Mas como conseguimos encaminhar para um trabalho se eles não têm a documentação? Estamos fazendo o atendimento no CRAS e encaminhando para a Defensoria Pública, que os ajuda a conseguirem a documentação – explica Fabiana.

A prefeitura também já tem materiais informativos traduzidos para outras línguas, como espanhol e crioulo para tentar facilitar a comunicação e os encaminhamentos para os imigrantes. Cartilhas da assistência social e da saúde, por exemplo, já são traduzidas para este público.

Estimativa de aproximadamente 4,5 mil imigrantes em Joinville

Atualmente, não há um levantamento completo de quantos imigrantes vivem em Joinville. Os dados mais aproximados são da Polícia Federal, que contabiliza cerca de 4,5 mil pessoas vindas de outros países e que passaram pelo órgão. A maioria é formada por haitianos, seguidos dos venezuelanos.

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Na prática, o número deve sair maior, já que após a fronteira entre Brasil e Venezuela muitos moradores do país vizinho entraram no território brasileiro de maneira ilegal. Com isso, não há registros oficiais da quantidade de venezuelanos morando em Joinville, já que uma parcela não teve contato com órgãos federais ou municipais até o momento.

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Outra base de dados usada pela Secretaria de Assistência Social é o Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico). Neste sistema, há registro de 2.040 imigrantes vivendo em Joinville, sendo 1.063 haitianos, 709 venezuelanos e 268 de outros países.

No entanto, entram nesse levantamento apenas as pessoas com renda de até três salários mínimos na família ou meio salário per capita. Ficam de fora aquelas com renda superior ou que estão dentro dos critérios, mas não procuraram a secretaria para realizar o cadastro.

Segundo a secretária de Assistência Social, uma comissão foi criada dentro da secretaria para trabalhar exclusivamente na situação dos imigrantes. Uma das iniciativas é avançar no levantamento dos dados de quantos vivem na cidade atualmente, onde moram e quem são eles.

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– Hoje a gente acolhe esse público e não tem um estudo específico. A comissão foi montada, a partir do aumento que tivemos no município, justamente para entender o quanto precisamos avançar e conhecer melhor esse público – finaliza Fabiana.

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