“Este bonito prédio está destinado a guardar pelo tempo afora o ontem, o hoje e o amanhã”. A frase foi dita por Adolfo Bernardo Schneider que, já na década de 1960, passou a reunir documentos antigos e foi o grande idealizador para a construção de um arquivo municipal a fim de resguardar a história da cidade e de seus moradores. Com 50 anos recém-completados, o Arquivo Histórico de Joinville permanece sendo o baú dos tesouros coletados pela cidade com o passar das décadas.
Continua depois da publicidade
> Acesse para receber notícias de Joinville e região pelo WhatsApp
Entre as relíquias guardadas no local – que não há como estimar a quantidade – , estão listas de embarque e desembarque dos primeiros imigrantes que chegaram à cidade; mapas de uma Joinville que ainda se iniciava em 1846 e de uma Joinville ainda debutante, mas já com propriedades e lotes dos colonos; projetos arquitetônicos de construções históricas; jornais e revistas que relatavam o cotidiano da época; e até livros considerados raros sobre a história da cidade.
Para Dilney Cunha, historiador e coordenador do Arquivo Histórico há quatro anos, dentre tantos documentos, é considerado “crime” perguntar qual tem maior importância. Enquanto caminha pelos corredores e folheia os arquivos nas compridas prateleiras, Cunha passeia por entre as décadas, cita fatos históricos e reflete sobre a importância do espaço.

— A gente tem aqui grande parte das memórias da cidade nos documentos preservados, sob todos os aspectos da vida e da sociedade local, de tudo que você imaginar: manifestações culturais, artísticas e política local — afirma o historiador.
Continua depois da publicidade
Outra função valiosa do acervo é a de gestão documental de organizar e guardar documentos do Executivo e Legislativo municipal, aqueles de valor histórico e permanente. Entre eles, o coordenador cita os impostos, os contábeis, as leis e os decretos desde o século 19, quando ainda nem se chamava prefeitura, mas superintendência municipal.
> Quem são as personalidades que dão nome para as principais ruas de Joinville
Público fiel
Entre os frequentadores do espaço, Cunha cita que há estudantes, pessoas atrás de documentação de familiares, curiosos sobre a Joinville de outras décadas e jornalistas – este, o público mais fiel, segundo o historiador. Dos documentos mais pesquisados, destacam-se jornais e lista de imigrantes ou documentos para conseguir cidadania estrangeira.
— Aqui tem processos judiciários, como inventário de famílias, títulos de eleitor, desde a década de 1930. O pessoal vem procurar aqui, por exemplo, documentos para comprovar o trabalho na lavoura, reconhecer heranças, engenheiros em busca de projetos arquitetônicos para reforma de prédios antigos… Uma pessoa, esses dias, estava à procura do pai e, por surpresa, encontramos o nome dele em uma lista telefônica da época. Isso é fantástico — considera.
Para o historiador, as motivações variadas que motivam as pesquisas no local deixam ainda mais claro o papel fundamental do Arquivo.
Continua depois da publicidade
— Tem essa função também de promover e garantir a cidadania dos habitantes. Direito à memória, de chegarem aqui e procurarem uma documentação que seja sobre seu passado, da família, de uma instituição que faça parte…Tendo essa fundamentação histórica, calcada em documentos originais, isso dá segurança, às vezes até jurídica — assinala.
Como tudo começou
Dilney Cunha conta que o acervo foi iniciado já na década de 1960 por Adolfo Bernardo Schneider, que não era historiador de profissão, mas era um “apaixonado pela cidade”, como define, e escrevia para jornais sobre a história da cidade.
De família antiga e bastante tradicional em Joinville, Schneider era bem relacionado e tinha acesso fácil a instituições e personalidades da cidade. Cunha diz que, à época, tinha uma comissão de voluntários que se dedicava a coletar objetos e documentação e, além disso, foi feita uma campanha com anúncios em jornais conclamando a população que tivesse esses documentos antigos e que quisesse doar.
— Inicialmente, o ponto foi o Museu Nacional de Colonização e Imigração, que gestou essa ideia, e os primeiros documentos foram coletados lá. E aí, posteriormente, ali no início da década de 1970, conseguiu-se um espaço, uma sala, na Biblioteca Pública Municipal, no Centro da cidade. Para lá foram essas documentações, principalmente jornais. Alguma coisa relacionada a fotografias e início da colonização também — explica.
Continua depois da publicidade
Atualmente, segundo o coordenador, há poucas doações e há critérios para a coleta de documentos que, anos atrás, não se tinha. Hoje em dia, para que um documento seja anexado ao acervo, ele precisa ter a ver com a cidade, com a história local, como fotos, registros de famílias e periódicos.
Baú dos tesouros
O baú dos tesouros, como intitula Cunha, fica no andar superior do Arquivo Histórico e os documentos, fotos e demais itens ficam divididos em duas salas diferentes. Quando se entra, é perceptível a temperatura mais gelada. Esta climatização, segundo o historiador, é essencial para evitar que a umidade danifique os materiais.
Primeiro mapa de Joinville

Feito pelo engenheiro militar Jerônimo Coelho em 1846, o mapa mostra Joinville ainda em seu início. O documento demarca o dote da princesa Francisca Carolina e do principe François-Ferdinand d’Orléans de Joinville e foi criado para estabeler os limites de dotes.
Na imagem, é possível ver que o lado esquerdo já é ocupado. Segundo Cunha, antes da chegada dos imigrantes, a cidade já era povoada por brasileiros, afrodescendentes e luso-brasileiros.
Continua depois da publicidade
Segundo mapa de Joinville

Este segundo mapa, que sobrepõe o primeiro no canto esquerdo, faz um contraponto e já mostra as propriedade, lotes dos colonos, de uma Joinville com apenas 17 anos, no início do sistema de colonização.
Listas de embarque e desembarque de imigrantes
As listas de embarque e desembarque dos imigrantes também ficam no Arquivo Histórico e suas páginas e tinta de caneta seguem intactas. Na primeira foto, estão os nomes das pessoas que embarcaram na Barca Colon em Hamburgo, na Alemanha, no dia 10 de dezembro de 1850 e desembarcaram três meses depois em São Francisco do Sul, no dia 9 de março.
Além de nomes e sobrenomes, as listas detalham a data de nascimento, a profissão dos tripulantes e o que trouxeram na bagagem. Ao lado de alguns nomes é possível perceber uma cruz. Isso significa que esta pessoa morreu durante o trajeto, em alto mar. No caso deste embarque, sete pessoas morreram a bordo.
Cartões postais, lista telefônica e jornais
Continua depois da publicidade
Leia também
Alemão, empresário e juiz de paz: quem era o primeiro prefeito de Joinville
Memórias do Colon: joinvilenses lembram histórias do hotel que fechou após 58 anos
Moradores do Anita lembram histórias do bairro de Joinville que homenageia revolucionária
Elza Soares fez show em Joinville na década de 1970 para trabalhadores da Tupy