Joinville contratou 1.583 pessoas com idades entre 14 e 24 anos por meio da Lei da Aprendizagem Profissional no primeiro semestre deste ano. O número representa um crescimento pequeno em relação ao mesmo período no ano passado, que teve 40 contratações a menos entre janeiro e junho. É um cenário semelhante ao do País, que tem registrado aumento nas contratações de aprendizes todos os anos, mas está longe de alcançar o potencial mínimo de jovens no mercado de trabalho.
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A Lei da Aprendizagem (Lei 10.097/2000), que foi regulamentada em 2005, afirma que todas as empresas de médio e grande porte devem contratar jovens com idade entre 14 e 24 anos como aprendizes, em cotas que variam de 5 a 15% por empresa, de acordo com o número total de empregados.
Se todas as empresas de Joinville com mais de sete funcionários cumprisse pelo menos a cota mínima, de 5%, cerca de 10 mil aprendizes estariam trabalhando. No entanto, no mês de julho, o número total era de 2.913 jovens, segundo levantamento do Ministério do Trabalho e Educação (MTE). Santa Catarina, que foi o quinto Estado brasileiro com maior número de contratações no primeiro semestre, atingiu apenas 32,5% do potencial, com 16.643 admissões.
— A lei da aprendizagem foi criada com o apoio do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e munida da lista Tip (Lista das Piores Formas de Trabalho Infantil) com o papel de inibir e extinguir a mão de obra infantil. Isso porque, na época, a CLT só permitia contratação de maiores de 16 anos, mas muitos adolescentes mais novos já eram expostos à formas de trabalhos que não respeitavam sua integridade física e psicológica — explica a coordenadora educacional Karize Vaz, responsável pela unidade regional da organização social Gerar, uma das instituições responsáveis pelo encaminhamento dos adolescentes e jovens ao mercado de trabalho em Joinville.
Confira as áreas e funções que mais contrataram jovens em Joinville em 2018
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Em geral, os especialistas apontam que falta compreensão sobre os benefícios que a empresa pode ter com a contratação de aprendizes e os papéis que estes podem desempenhar. Além de vantagens e incentivos fiscais, como pagamento de apenas 2% de FGTS, dispensa do aviso prévio remunerado e isenção da multa rescisória — porque o jovem aprendiz tem um período de contrato pré-estabelecido e, com isso, não tem direito a seguro-desemprego —, as empresas têm a oportunidade de capacitar mão-de-obra que pode ser absorvida após a conclusão do programa.
— Deixa de ser apenas cumprimento de cota quando a indústria percebe que o programa pode ser um treinamento que desenvolve o jovem durante um ou dois anos e, no fim, você tem um profissional com conhecimento técnico e que já conhece a produção e a rotina da empresa. Os gastos com recrutamento diminuem — avalia a coordenadora de aprendizagem do Senai Joinville, responsável pelo programa que inclui cerca de 40% dos contratados na cidade.
Para Karize, é necessário também que o jovem aprendiz seja valorizado por sua responsabilidade social. Ele é porta de entrada para o mercado de trabalho, processo que é dificultado no País em momentos de alta taxa de desemprego, quando há profissionais com experiência e maior formação disputando as mesmas vagas que os jovens.
Segundo pesquisa divulgada pelo IBGE na última semana, o desemprego entre os trabalhadores de 18 a 24 anos é de 26,6%, mais que o dobro da população em geral, que estava em 12,4% no segundo trimestre de 2018.
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— Em especial no caso dos jovens em situação de vulnerabilidade social e econômica, o programa é essencial — analisa Karize.
Confira como conseguir emprego como aprendiz entre os 14 e 24 anos em Joinville
Indústrias e serviços são principais áreas de contratação
Quando Nivaldo Mathes, 63 anos, começou a trabalhar e decidiu a área em que seguiria carreira, há quase 50 anos, passava os sábados, de forma voluntária, observando o contramestre no setor de tecelagem de uma empresa têxtil, a mesma em que, durante a semana, trabalhava em serviços administrativos na portaria.
Agora, como supervisor de manutenção, é o responsável por acompanhar as rotinas de Renan Medeiros, 18 anos, que há seis meses é jovem aprendiz na Companhia Catarinense de Fiação (Comfio), do mesmo grupo empresarial em que Nivaldo trabalhou quando adolescente e no qual construiu a própria carreira.
— Não havia tantas opções de escolas e cursos quando eu era jovem. Por isso, sempre falo para os aprendizes aproveitarem a oportunidade de se aprimorarem — conta ele.
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Renan tem aproveitado: antes de entrar na empresa pelo programa de aprendizagem, apenas imaginava que gostava da área de mecânica, mas não tinha nenhuma proximidade com ferramentas ou o interior de grandes fábricas. Agora, já tem certeza que é nessa área que investirá os próximos passos. O jovem cumpre uma rotina de oito horas diárias, divididas em dois períodos: auxilia na produção de peças para manutenção da indústria têxtil de manhã e faz curso de ajustador mecânico no Senai à tarde.
— Faço aqui o mesmo que nas aulas práticas do curso, mas é mais fácil de aplicar o que aprendo e, na empresa, convivo com outros profissionais que me ajudam. Seria bem diferente se tivesse entrado direto em uma empresa — afirma Renan.
O garoto escolheu a área de trabalho que mais contrata em Joinville. Segundo dados do Ministério do Trabalho e Educação, no primeiro semestre as indústrias admitiram 956 aprendizes. As principais contratações, em geral, são para funções na área administrativa, como auxiliar de escritório e assistente administrativo.
Maturidade para entrar no mercado de trabalho
Foi realizando serviços administrativos que Paulo Vinícius Esteves, 18 anos, ganhou experiência e maturidade nos últimos 14 meses. Com a conclusão do Ensino Médio chegando, ele sentia-se inquieto com a vontade de começar a trabalhar. Uma indicação de amigos e a noção de que gostava de trabalhar com atendimento ao público o levaram a um cargo no setor de recursos humanos de uma unidade do Grupo Orcali.
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— Agora, eu decidi que quero estudar mecânica, que é outra área que gosto. Mas essa primeira experiência de trabalho foi muito importante porque me ensinou a ser mais responsável, a lidar com pessoas de todas as idades e classes econômicas, a administrar meu próprio dinheiro — conta o jovem, que faz curso de serviços administrativos duas vezes por semana na unidade do Senac e trabalha três dias por semana.
Joinville contratou 1.583 jovens pelo programa de aprendizagem no primeiro semestre de 2018
Programa pode representar início de carreira
Aos 24 anos e prestes a concluir a faculdade de Engenheria de Produção, Alisson Correa poderia estar preocupado com o início da carreira profissional. Em vez disso, contabiliza funções que já executou em uma multinacional de Joinville, a Embraco, a mesma que realizou o primeiro registro em sua carteira de trabalho há seis anos. Ele entrou no programa de aprendizagem quando, prestes a completar 18 anos, decidiu esperar para escolher o curso de graduação.
— Eu não tinha definido minha carreira, mas queria muito entrar no mercado de trabalho. Meu pai trabalhou por 26 anos nesta empresa e isso sempre me impressionou. Foi ele quem levou a ficha de inscrição para o programa de Jovem Aprendiz para casa — recorda Alisson.
No processo seletivo, o fato de demonstrar muito interesse em fazer parte do quadro de funcionários e de ter informações aprofundadas sobre as atividades da empresa foram um diferencial para conseguir uma vaga. E, ao fim dos dez meses em que vivenciou o primeiro emprego auxiliando nos processos administrativos da fábrica, descobriu a faculdade que realmente queria cursar e recebeu a proposta de ficar, assumindo mais atividades.
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— Quando entrei na faculdade, já podia explicar em sala de aula sobre os processos que estavam sendo discutidos na teoria — conta ele, que atualmente é analista em gestão de projetos.