Habilidosas ou apenas com vontade de se divertir, cresce o número de interessadas em calçar chuteiras e bater uma bolinha. Ainda vistas com estranheza por algumas pessoas, essas mulheres também vestem a camisa contra o preconceito.

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Afinal, ter a liberdade de praticar uma atividade física que, historicamente, por muito tempo foi vista como masculina, é uma conquista e um direito de toda mulher.

Esportes não têm gênero; eles são feitos para quem quiser praticá-los. E muitas joinvilenses estão cada vez mais empenhadas em provar que lugar de mulher é no campo, na quadra e onde quer que desejem.

Uma equipe entrosada

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São sete anos de história. Lá em 2006, quando ocorreu a primeira edição dos Jogos das Unimeds de Santa Catarina (Jusc), um grupo de funcionárias teve a ideia de montar o time de futsal que viria a vencer, já na estreia, aquele campeonato. Da formação original, as amigas e colegas de trabalho Claudia Trentini e Sonia Maria são as únicas que permanecem na equipe. A competição deu a elas também a medalha de prata em 2010.

Para Sonia, além do pouco tempo que têm para reunir a equipe – treinam apenas uma vez por semana -, o número baixo de espaços para praticar o esporte e a falta de subsídios são as principais dificuldades que enfrentam.

– O futsal feminino cresceu muito nos últimos anos, então a procura por quadra é frequente. Acaba sendo uma disputa para reserva de quadras entre times masculinos e femininos, e, consequentemente, os valores se tornam altos.

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Claudia ainda aponta outro problema:

– Os olhares da sociedade machista para as mulheres que jogam futebol ainda são de preconceito.

Apesar disso, o entrosamento é evidente. Na quadra, os gritos de cobrança chamam atenção. Fora dela, é a amizade que predomina. Em clima de afetividade e descontração, não é incomum encontrar essas mulheres em barzinhos e lanchonetes após o treino semanal.

– Sempre que podemos, marcamos um churrasco, uma cervejinha… Temos muito carinho umas pelas outras, e também pelas famílias de cada integrante da equipe – conta Sonia, trajando o uniforme cinza, verde e branco e com a bola nas mãos, pronta para iniciar mais uma partida.

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A goleira

Sonia Maria, 41 anos, analista de regulação na Unimed.

Times do coração: JEC, Santos e Krona.

Ídolo: Falcão.

Aos 41 anos, Sonia Maria tem a maior idade do time, mas a empolgação lembra a de uma garotinha. Com predisposição para a prática esportiva desde criança, enfrentou a falta de incentivo dos pais – que não concordavam com a possibilidade de ter uma filha esportista – e do ex-marido com quem foi casada por 20 anos.

Hoje, a qualquer sinal de preconceito de quem quer que seja, ela simplesmente ignora.

– Este é um assunto superado por mim. Busquei independência e agora sou quem eu quero, sem medo.

Por falta de tempo, atualmente joga futsal apenas uma vez por semana, com as meninas da Unimed Federação. Quando tem uma folga, pratica também caminhada e corrida.

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Mas, apesar de levar o time a sério, a goleira topa qualquer esporte em nome da diversão:

– Mesmo que nunca tenha praticado certa modalidade, se me convidarem eu vou. Construí relacionamentos muito bons assim.

Ler, ouvir música e sair com os amigos também estão entre suas atividades favoritas.

– O importante é não ficar parada – ensina.

A armadora

Claudia Trentini, 37 anos, analista de gestão do conhecimento na Unimed.

Time do coração: Flamengo.

Ídolos: Zico e Marta (futebol), Hortência (basquete) e Maurren Higa Maggi (saltadora).

De um lado, as meninas praticavam vôlei. De outro, os garotos chutavam bola nas partidas de futebol. Claudia Trentini era só uma criança, mas sentia que estava no lado errado. Os anos passaram e, em 1999, finalmente participou do primeiro campeonato de futebol de areia no bairro Aventureiro, onde morava.

Desde então, não abandou mais o esporte. Com 37 anos, a ala da Unimed Federação conta que o futsal, hoje, representa saúde física e mental para ela.

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– Muitas vezes, fui ao treino chateada ou preocupada com algo e, depois da partida, essa incomodação se dissipou. Esporte simboliza bem-estar.

Para manter a forma física e também se divertir, Claudia faz caminhadas e adora viajar. Apenas com a mochila nas costas, visitou vários lugares do Brasil.

Time de amigas

Quando se reuniam com as crianças do bairro para jogar bola, Carol e Nara provavelmente não imaginavam que, décadas mais tarde, fariam da prática uma atividade semanal.

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Mas foi assim, da vontade de resgatar a diversão da infância, que a assistente de educação Caroline Bergui da Rosa, 29 anos, e a técnica de enfermagem Edianara da Silva de Almeida, 28 anos, tiveram a ideia de montar um time de futsal. Desde fevereiro deste ano, elas e outras sete meninas têm o mesmo compromisso toda terça-feira, das 21 às 22 horas, no Complexo Esportivo Contra Chama.

A equipe pode não ser de profissionais, mas a paixão pelo esporte e a vontade de jogar são imensas e fáceis de se notar. Os benefícios são muitos, e Nara se apressa em listá-los:

– É uma maneira de desestressar. Esqueço os problemas, fico sempre feliz. Durmo melhor. Fiz muitas amizades desde que comecei a jogar. Sem falar que se trata da união entre um exercício físico com algo que me traga bem-estar, que faço por prazer.

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– Nos divertimos e rimos bastante. Cada uma joga o que sabe, sem muita cobrança – reforça Carol.

Para a dupla de amigas, o preconceito não é mais tão forte, mas ainda existe.

– Tem amiga que diz que é coisa de ‘machorra’. Há mulheres que têm vontade de jogar, mas acham que é um esporte agressivo. Alguns falam: ‘Vocês não jogam nada, o que vão fazer lá?’ – Nara relata.

– Quando digo que jogo futsal, algumas pessoas fazem careta e ficam espantadas – revela Carol, que demonstra preocupação com uma das consequências do preconceito: a falta de procura de outras mulheres pelo esporte.

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Assim, enquanto buscam patrocínio e incentivos, também abrem os braços para receber interessadas em uma grande dose de lazer e muita camaradagem.

A zagueira

Luciane Murara, 48 anos.

Times do coração: JEC, Seleção Brasileira, Corinthians e Vasco da Gama.

Ídolos: Ronaldinho Gaúcho,

Lima e o goleiro Ivan, do JEC.

– Nosso corpo é como uma máquina que precisa estar sempre calibrada – acredita a zagueira Luciane Murara, 48 anos.

Em busca de qualidade de vida, ela joga bola quatro vezes por semana, pedala 100 quilômetros todo sábado e faz corrida de rua junto com o marido. Casada há 23 anos, sempre recebeu o apoio do companheiro. Na casa deles, aliás, todos são apaixonados por esporte: enquanto o filho de 17 anos pedala e joga basquete, o menor, de 12, faz natação.

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Mas a prática esportiva não é só brincadeira. Luciane já participou de diversas maratonas, inclusive da Corrida de São Silvestre. Em julho, vai correr com duas amigas na Meia Maratona do Rio de Janeiro.

Enquanto se prepara para a competição, alimenta o sonho de, um dia, realizar os percursos das meias maratonas de Londres e de Foz do Iguaçu.

– O esporte me trouxe uma nova vida. Eu me sinto renovada, de alma limpa. É contagiante.