A Panificadora Vieira, no bairro Comasa, estava quase encerrando o expediente quando dois homens entraram e anunciaram assalto. Era uma noite quente de abril e o movimento estava tranquilo. Do lado de trás do balcão, Julio Cezar Vieira, 22 anos, demonstrou desconforto com a atitude dos bandidos. O estabelecimento já havia sido alvo diversas vezes, e Julio reagiu, com a intenção de proteger o sustento da família. O jovem foi atingido por disparos de arma de fogo e morreu no local.

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A história é narrada por Joice Eli Vieira, 33 anos, irmã da vítima, com a voz embargada. Há quatro meses, ela e a família tentam prosseguir sem a presença de Julio. Por ser o caçula e ela, a mais velha, os dois sempre tiveram uma relação bem próxima.

– Eu cuidava do Julinho para a mãe trabalhar, eu que dava comida, banho, quando ele era pequeno. Nós nos dávamos muito bem… – relembra.

Joice conta que a morte do irmão trouxe marcas profundas na família. Para ela, é difícil abrir a padaria todos os dias e observar exatamente onde o irmão faleceu. Além disso, a sensação de insegurança – e também de impotência – perante o crime fez com que o horário de atendimento fosse alterado.

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Atualmente, a panificadora fecha quase duas horas mais cedo. Uma balconista também foi dispensada para a contratação de um vigilante. Julio foi vítima de latrocínio – roubo seguido de morte (a cidade é líder em latrocínios no Estado).

Segundo dados do Sistema Integrado de Segurança Pública (Sisp), até junho deste ano, o número de vítimas de roubos em Joinville chegou a 1.298 registros. O dado representa, em média, a incidência de 7,17 casos a cada dia na cidade. Se comparar o número com o mesmo período do ano passado, o índice está 1,4% maior.

Números da Secretaria de Segurança Pública indicam que houve 27 roubos seguidos de morte neste ano no Estado – uma redução de 18% com relação ao ano passado, quando 33 casos desse tipo foram registrados no primeiro semestre. Em todo o ano de 2016 foram 62 latrocínios em SC.

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Para os casos de furto em Joinville – em que não há uso de violência, nem flagrante para subtrair o bem –, o total de vítimas até junho deste ano está 79,7% maior que o registrado no mesmo período de 2016, segundo dados do Sisp. Houve registro de 4.919 vítimas do delito neste ano, o que representa, em média, 27,1 casos diários em 2017.

Tanto a estatística de furto quanto a de roubo compreendem crimes que vão de estabelecimentos comerciais e veículos a celulares e bicicletas, por exemplo. A crescente na ocorrência desses casos reflete na percepção de segurança da população.

Outros dois comerciantes – que não quiseram se identificar – ouvidos pela reportagem no Comasa relataram que já sofreram com assaltos durante este ano. Em um dos casos, o dono de um supermercado relatou que o assaltante levou R$ 2 mil do caixa. A ação fez com que ele também alterasse o horário de atendimento.

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– Hoje, fechamos uma hora mais cedo, mas acho que nem adianta. Porque há locais aqui nos arredores que foram assaltados no meio da tarde – desabafa.

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Mudança na lei pode ser uma saída, diz a PM

Para o comandante da 5ª Região de Polícia Militar, Amarildo de Assis Alves, a Polícia Militar vem trabalhando para garantir a segurança da população nos bairros da cidade por meio de policiamento e intensificação das ações de blitze que, segundo o comandante, têm contribuído bastante para coibir os crimes.

Segundo ele, a crescente onda de violência não ocorre somente em Joinville, mas em todo o País e deve ser encarada de maneira mais abrangente, inclusive com o pensamento de mudanças na legislação.

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– Quando nós vemos, temos policiais e agentes prisionais sendo atacados e mortos, por exemplo. A PM prende os criminosos e eles são soltos. Enquanto não mudar essa legislação, esse sistema, esse pensamento, nós vamos continuar sofrendo – afirma.

De acordo com o coronel, a PM não tem recebido ajuda, principalmente de instituições públicas ou de outras associações. A população se envolve por meio do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg), que estão espalhados pelos bairros de maior porte.

A comunidade se organiza de maneira voluntária para discutir, planejar, analisar e acompanhar as soluções dos problemas de segurança das regiões. Ainda segundo Amarildo, a Polícia Militar terá uma nova turma de policiais, que será formada em dezembro.

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Reforço na segurança patrimonial

A sensação de insegurança também causa mudança na paisagem urbana. Em alguns bairros, é possível ver maior presença de grades, cercas e arame farpado em casas e comércios.

O empresário Evandro Ramos, 40 anos, nunca teve o estabelecimento roubado. Ele abriu uma loja no bairro Fátima há oito meses e, por acreditar que o local tem grande incidência de crimes, abusou dos equipamentos de segurança. Um vigilante também faz a sentinela no local.

Outra medida para ajudar a comunidade é a Rede de Vizinhos. O projeto da PM consiste em uma rede que reúne moradores de determinada rua e um coordenador técnico da PM. Por meio de grupo nas redes sociais, os moradores avisam à PM e os vizinhos de movimentações suspeitas.

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A Polícia Civil também trabalha no combate à incidência de crimes patrimoniais. Recentemente, a Divisão de Investigação Criminal (DIC) ganhou mais um delegado, e as delegacias de área também têm trabalhado para combater esses crimes que antes eram direcionados para a DIC.