Todos conhecem a história da Cinderela. Para ir ao baile no qual o príncipe escolheria sua esposa, a jovem serviçal precisou contar com a ajuda da fada madrinha que, com sua mágica, criou um lindo vestido.

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Para algumas mulheres, o dia do casamento é o momento em que se tornam princesas, com toda a atenção dispendida a um membro da realeza. E, ainda que sem sapato de cristal, abóbora que vira carruagem e madrasta do mal, nos contos da vida real um item costuma ser indispensável: o vestido de noiva.

A escolha do traje mais importante da celebração exige paciência. E sua confecção, mãos de fada. Talvez por isso, algumas mulheres decidam confiar essa missão àquelas figuras que lhes enchem de amor, dedicação, afeto e coragem: as mães.

E se a mãe for avó, há também os fatores mimos e carinho sem fim. Quando essas personagens costuram, é quase natural que linha e agulha se transformem em vara de condão e pó mágico para tornar o sonho do vestido perfeito real.

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Conheça história de joinvilenses que apostaram na família para garantir um casamento marcante, emocionante e cheio de tradição.

Mãos de fada

Se tem uma coisa que Laureci Barbosa Rodrigues, 70 anos, ama fazer é costurar. Aprendeu o ofício aos 13 anos, observando a irmã, e aos 15 comprou a primeira máquina. Quando se casou, as duas criaram o vestido de noiva juntas. Ali nasceu uma grande paixão que Laura, como é conhecida, nutre carinhosamente até hoje. O tempo passou, vieram os filhos e um grato convite.

– A mãe fez o vestido do próprio casamento, o da minha formatura, sempre produziu as nossas roupas. Parecia natural que fizesse também meu vestido de noiva – conta Maria de Fatima Rodrigues Duarte, a primogênita.

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Quando decidiu que iria casar, os pais estavam em Portugal. De lá, a mãe trouxe a renda que usaria no traje festivo. O vestido tinha também um tule com gotas d’água, novidade no Brasil daquela época. Aos risos, Fatima lembra que todos ficaram muito curiosos para saber o que era aquilo e pediam para tocar no vestido. Maior sucesso.

– Minha mãe costura maravilhosamente. A vida toda, eu já estava acostumada a dizer “foi minha mãe que fez”, toda orgulhosa, quando alguém elogiava minhas roupas. Sempre confiei nela e no trabalho dela. Então, eu sabia que ficaria bom se ela fizesse. E essa relação de confiança foi fundamental – revela.

Se Laura transformou seu vestido em colcha de cama, Fatima, apegada, guardou o dela por anos, intacto. Até a primeira eucaristia de Barbara, ao menos. Filha de Fatima, a garota usou na celebração religiosa o vestido de noiva da mãe, devidamente adaptado ao seu corpo infantil. Hoje, Barbara é adulta e também casada. E quem fez seu vestido quando subiu ao altar, em outubro de 2012? Isso mesmo, a avó.

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Laura e Fatima escolheram tecidos, renda e pedrarias em São Paulo, onde a mais velha reside atualmente. Um mês antes do casamento, Laura veio para Joinville confeccionar o traje da neta. Além da confiança e do afeto, o fator financeiro colabora muito quando as produções são feitas na família. Enquanto o modelo que havia gostado custava R$ 5 mil apenas para alugar, Barbara gastou R$ 700 num vestido só seu, incluindo arranjo para cabelo e véu.

– O vestido foi usado num momento muito especial, então não tenho coragem de vender. A emoção de vê-lo pronto é indescritível. E o orgulho de poder dizer que as mãos de fada que criaram o vestido são da minha avó dá uma satisfação enorme – avalia Barbara.

Se o resultado é tão positivo, o amor de Laura pelo trabalho certamente é parte importante dessa equação. Muito paciente, ela garante que fazer vestidos de noiva é seu maior prazer. Depois do de Fatima, costurou também os modelos de outras duas filhas. Em suas palavras, não é trabalho, mas diversão.

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– Eu quero ficar velha gagá costurando – brinca a vovó.

De mãe para filha

Existem desafios que só uma mãe para topar. Aquele sentimento de fazer tudo pela cria, ainda que o tudo esteja no campo do quase impossível. Quase, porque mãe é mãe. E parece que elas sempre dão um jeitinho. Gelinda Füchter, hoje com 80 anos, é esse tipo de figura. Lá em 1977, quando a filha Claudete casou e adotou o sobrenome Dos Santos do marido Geraldo, era um vestido de noiva feito por Gelinda que ela usava.

A mãe costurava, bordava e tricotava muito bem, mas suas peças vestiam apenas a família. Vestido de noiva, se ela fazia? Que nada, o da filha foi o primeiro. E ficou perfeito, como Claudete enche a boca para lembrar.

– Eu vi o modelo numa revista de noivas internacional. Minha mãe teve seis filhos e sempre foi prendada para trabalhos manuais. Quando iniciei os preparativos para o casamento, disse a ela que gostaria que fizesse meu vestido. “Você está doida?”, perguntou. Ela nunca tinha costurado nada parecido, tão elaborado. Mas eu estava convicta de que ficaria bom se ela o criasse.

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Depois, o sucesso foi tanto que Gelinda recebeu vários pedidos de vestido. Acabou fazendo os de outras duas filhas. Claudete diz que a convicção de que poderia contar com a mãe foi o que a motivou a fazer o convite.

– Sei que minha mãe colocou todo empenho, carinho e dedicação na confecção do traje. Eu não tinha dúvidas de que ela seria capaz de fazer o mesmo vestido da revista.

Dezembro de 2012, quase quatro décadas depois, é a vez da filha de Claudete noivar. Michele Karina Füchter dos Santos Haas havia visto fotos do casamento da mãe, mas nunca prestou muita atenção à vestimenta. Nas lojas que visitou, nada a agradava. O vestido dos sonhos, para ela, deveria ser rendado, com mangas, justo em cima e levemente rodado da cintura para baixo.

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– Quando descrevi o que eu queria para minha mãe, ela perguntou: “Tem certeza de que é esse o modelo?”. “Tenho. Por quê? Achou feio?”. “Esse é o meu vestido, ele é exatamente assim”, disse minha mãe.

Assim que viu o vestido, Michele se apaixonou. Mas ele não servia. Além de ser mais alta que a mãe, também estava pesando quatro quilos a mais. O traje, então, foi para restauração.

– Quando o provei pronto, em abril de 2013, amei. Foi a primeira vez que me senti noiva de verdade. Eu queria manter o máximo de originalidade. Por isso, fiz poucas adaptações, como aumentar o laço nas costas e colocar uma fita de cetim para marcar a cintura. Mas a mãe não estava satisfeita e rebordou as pérolas ela mesma, além de remover o babado original das mangas e transformá-lo em punho – revela Michele.

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E onde estava Gelinda nisso tudo? Sem pistas da nova tradição familiar, a avó só soube do vestido quando viu a neta na igreja no dia do casamento. Na festa, foi homenageada pelo trabalho bem-feito anos atrás e recebeu o buquê da noiva como presente.

– Foi muito emocionante usar o mesmo vestido que minha mãe. Eu entrei não apenas com meu pai na igreja, mas também com a mãe. E eu me senti linda usando um vestido escolhido por ela, feito para ela.