Eles estão em todo lugar: nas rodas de conversa, na praia, no silêncio do quarto, na fila de espera e nas redes sociais. Todo mundo já ouviu falar nos 50 tons – e muitas já desvendaram o mistério por trás dos olhos de Christian Grey, o enigmático galã da série de livros “50 Tons de Cinza”, que desde agosto de 2012 é campeã de vendas no Brasil.

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E, sim, o adjetivo está no feminino porque, apesar de ter sido o livro mais vendido da história no Reino Unido, seu país de origem, ter 65 milhões de cópias vendidas em todo o mundo e 2,4 milhões só no Brasil, a série é a nova paixão das mulheres e, ainda que alguns homens também estejam lendo – muitos, provavelmente, escondidos -, o mundo de Christian Grey e Anastasia Steele é quase um clube exclusivo para as leitoras.

Se os homens estão lendo longe dos olhares públicos, para as mulheres ocorre uma inversão. As capas de “50 Tons de Cinza”, “50 Tons mais Escuros” e “50 Tons de Liberdade” são orgulhosamente postadas nas redes sociais, desfilam pelas ruas e descansam na mesinha do café.

Afinal, é apenas literatura, e o fato de ser literatura com “tons” de erotismo não é um problema, já que elas estão além da opinião pública. Sem medo dos prejulgamentos, as mulheres estão se sentindo livres para ler, conversar e mostrar que estão fascinadas pelo polêmico romance escrito por E.L. James.

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Fernanda Helfenberger é acha que não há problema algum em ler o livro em público

Liberação feminina

No fim do ano, a representante comercial Fernanda Helfenberger, 29 anos, havia chegado ao terceiro volume da série e, por isso, não conseguia “largar” o livro, ansiosa para chegar ao fim. Na hora de preparar os itens para ir à praia, entre a toalha e o protetor solar, estava o “50 Tons de Liberdade”, que ela ficou lendo na areia ao lado da irmã, que lia o “50 Tons mais Escuros”.

– Meu marido ficou preocupado, perguntando se não tinha problema em mostrar a capa publicamente, porque todo mundo já sabe do que falam os livros -, conta Fernanda, que tomou uma decisão: se quiserem olhar e comentar, desde que não invadam o espaço dela, não a afetam em nada.

A publicitária Renata Tomasi Bastos, 26 anos, tem uma opinião bem definida a respeito. Apesar de não ser fã da literatura ao estilo chick-flick (como são chamados os romances femininos), ela decidiu ler a série motivada pela curiosidade.

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– Tenho que confessar que achei a literatura superficial e fraca, mas acho que o sucesso do livro está mais ligado ao novo papel da mulher na sociedade, de mandar no próprio nariz -, avalia.

Para ela, por mostrar que a mulher também tem desejos e que ela pode falar e agir a respeito deles é que “50 Tons” chama tanto a atenção feminina. Apesar de estar mais aberta e confiante quanto aos próprios desejos, a mulher moderna não espera que os homens deixem de lado a postura de protetor.

– Todo mundo quer alguém para trocar a lâmpada ou abrir o pote de conserva, mesmo que a mulher consiga fazer isso sozinha. A gente ainda admira a força dos homens e espera que eles assumam – não porque precisamos, mas porque queremos -, diz a publicitária.

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Edna Cardoso de Bem concorda: para ela, as mulheres estão mais independentes, mas não deixam de querer o “príncipe” do conto de fadas ou mocinho dos filmes românticos de Hollywood.

– Muda a época, mas a essência destes sonhos continua a mesma -, analisa.

Edna Cardoso de Bem comprou o livro por curiosidade. Para ela, a história tem mais a ver com romance do que com erotismo

E depois que o príncipe salva a princesa?

Um conto de fadas moderno: é como a empresária Edna Cardoso de Bem, 34 anos, define a história central da série “50 Tons de Cinza”. Ela agora está vidrada com a leitura de “50 Tons Mais Escuros”, o segundo livro que conta o romance da plebeia Ana com o “príncipe” Grey.

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Pelo menos é como ela enxerga a história que a conquistou em novembro do ano passado quando, curiosa para descobrir do que se tratava o livro que tinha virado comentário geral, comprou o primeiro livro.

– É um romance, apesar de ter toda a parte do sexo, que é muito importante. Mas é muito mais romântico do que erótico -, defende ela, que assim que comprou “50 Tons de Cinza” passou o feriado de 15 de novembro inteiro lendo e logo já estava na lista de espera pelo terceiro livro, lançado naquele mês.

Edna acredita que não é o teor erótico, nem o romance açucarado que definem o sucesso da obra, mas sim o mistério que existe na origem de Christian Grey.

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– Você fica querendo saber o que faz com que ele seja deste jeito, por isso não consegue parar de ler.

E como é o jeito de Christian Grey? No livro, ele é descrito como um homem alto e forte, de cabelos castanhos encaracolados e impressionantes olhos azuis-acinzentados, que dão nome ao primeiro livro. Mas, apesar das características físicas que fariam qualquer mulher suspirar, o príncipe é problemático: ao mesmo tempo que é educado e muito sedutor, Grey é controlador e violento – seja com palavras ou com ações.

É por isso que Edna, que antes de começar a folhear as páginas de “50 Tons” nunca havia lido um romance erótico e tinha como paixões os filmes “Dirty Dancing” e “Uma Linda Mulher”, usa uma frase do último para ilustrar a história de Ana e Grey.

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– Em ‘Uma Linda Mulher’, o personagem fala para a mocinha: ‘E depois que o príncipe salvou a princesa, o que aconteceu?’. E ela responde: ‘Então, ela também o salvou’.”

Kelen Sant’Anna lê trechos da trilogia junto com o marido para apimentar a relação

O homem perfeito

Para a fisioterapeuta Kelen Sant’Anna, 38 anos, por mais que E.L. James faça a descrição física do Christian “Homem Perfeito” Grey, cada leitora vai criá-lo com base nas próprias experiências e no próprio gosto. E isso não impede, por exemplo, que o marido ou namorado da leitora se transforme no protagonista do romance picante.

A leitura de Kelen é compartilhada com o marido, Marcelo, que é chamado para ler trechos em algumas páginas quando ela acha interessante.

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– Dá para apimentar a relação e transformar o marido no Christian Grey, com os limites que a gente impõe, claro -, afirma.

Até agora, a fisioterapeuta – que ficou sabendo dos “50 Tons” quando uma cliente comparou a sala de Pilates com a sala de jogos onde acontece boa parte da “ação” de Grey e Ana – já havia lido romances com histórias sensuais.

– Mas nada tão erótico e detalhado -, diz ela.

Desde que começou a ler e conhecer outras leitoras da série, Fernanda Helfenberger só viu mulheres (de idades diferentes) conversando sobre o romance, mas ela faz uma aposta:

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– Tenho certeza de que muitos homens pegam o livro para dar uma olhadinha quando não tem ninguém olhando.

Agradecimento: Otto Café Bar