Três joinvilenses estão na final de um prêmio nacional em saúde pública com uma ferramenta que promete ser inovadora na medicina. Eles criaram um aplicativo para computadores, tablet e celulares chamado SmartDengue, que ajuda médicos a diagnosticar e tratar casos de dengue com critério, rapidez e alto grau de precisão.

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A criação nasceu de uma parceria nas horas de folga do médico e professor de medicina Luiz Henrique Melo, do engenheiro e programador José Alberto Andrade e do estudante de medicina Klaus Schumacher, de 23 anos.

O aplicativo é um dos três finalistas na categoria medicina tropical do Prêmio Inovação Medical Services, promovido por uma empresa médica, que busca valorizar a inovação em saúde pública. A iniciativa vencedora será conhecida na próxima segunda-feira, em São Paulo. O programa dos joinvilenses compete com um estudo sobre hepatite A em crianças e com um plano contra bioterrorismo na Copa do Mundo de 2014 e nas Olimpíadas de 2016 no País. A premiação é de R$ 15 mil para o primeiro colocado.

A ideia de aliar informática ao diagnóstico de doenças é do médico Luiz Henrique Melo. As necessidades do dia a dia da profissão o levaram a se aprofundar nos chamados aplicativos de suporte à tomada de decisão (ASTD) na medicina.

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De sua parceria com José Andrade, que há 20 anos trocou a engenharia pela informática, já nasceram outros aplicativos, um para diabetes (SmartHIH), outro para pneumonia (SmartPAC) e outro para candidíase, fungo que ataca órgãos genitais (SmartIF). Este último já tem tradução para espanhol e uma média de cem downloads por semana para iPad, a maioria feita em países da América Latina.

Interesse pela dengue

Ao observar epidemias de dengue e as dificuldades de cidades em atender à demanda que a doença causa, o grupo passou a trabalhar também no SmartDengue. Klaus, aluno do quinto ano de medicina da Univille, entrou no projeto com a missão de melhorar a cara e a funcionalidade dos programas.

O resultado dessa mistura é um aplicativo ao mesmo tempo fácil de operar, mas que permite desdobramentos complexos, como formar vastos bancos de dados sobre a doença, recuperar o histórico de um paciente ou determinar, por meio dos sintomas, qual o grau de complicações e que tipo de tratamento o paciente deve ter, desde uma simples medicação até a internação. Tudo isto em alguns poucos cliques ou toques na tela.

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Em busca de parceiros

As expectativas dos criadores do aplicativo com o prêmio vão além dos R$ 15 mil que podem ganhar. O objetivo é dar visibilidade à ferramenta para que empresas médicas ou, quem sabe, até o Ministério da Saúde conheçam e passem a financiar o desenvolvimento e a difusão do programa.

O modelo de negócio é o que se chama de startup, embrião de empreendimento com potencial inovador na área de tecnologia. Esta “empresa”, que ainda não existe formalmente, chama-se SmartMedicine, em alusão aos smartphones. Foi já pensando no marketing e na unidade do negócio que o grupo passou a usar o mesmo prefixo para os aplicativos, como o SmartDengue.

O engenheiro José Alberto Andrade explica que a intenção não é comercializar o aplicativo individualmente, nem permitir que ele favoreça uma determina técnica de tratamento ou mesmo um medicamento, o que feriria o código de ética médica.

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– O que buscamos é parceiros que invistam na startup para que os aplicativos sejam aprimorados e difundidos. Para o usuário final, que é o médico, ele é gratuito -, diz ele.

Além da vontade de transformar os aplicativos em algo rentável, o grupo, em especial o médico Luiz Henrique, ressalta o potencial educativo e de padronização de dados sobre doenças que a ferramenta oferece e que a área da saúde tanto reivindica. Em países como os EUA, a tendência não é nova. A análise de grandes quantidade de dados por computador, que ganha o nome de “Big Data”, já orienta tomadas de decisões não só na saúde, mas na economia, área social, no esporte e até na política.

Na saúde, segundo Luiz, há necessidade de se saber cada vez mais rápido como se comporta o surto de uma doença, como se alastra, com quantos dias de infecção a pessoa vai ao médico e qual a taxa de cura. Ter ferramentas que, a partir do diagnóstico e do tratamento, já gerem estes dados é uma mina de ouro para melhorar medicina.

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Para a nova geração

– Se uma ferramenta destas for padronizada e aperfeiçoada pelo Ministério da Saúde, por exemplo, você consegue criar uma mesma rotina para o atendimento no País, reduz o risco de erro do médico na tomada de decisões e presta um atendimento mais rápido e eficaz, que em tempo real ainda gera dados aos gestores da saúde pública -, defende.

O médico tem buscado aplicativos na área de doenças infectocontagiosas não só por ser sua especialidade, mas pelo fato de elas terem protocolos quase matemático, que permitem a transformação do diagnóstico de algoritmos (cálculos passo a passo que são a base da computação).

O diagnóstico da dengue, por exemplo, depende de fatores como grau de febre da pessoa, quadro clínico, se ela veio de uma região onde há contaminação, entre vários outros. Filtrando-os, o aplicativo consegue dizer com precisão se um paciente está com dengue, qual o grau da doença ou se pode ser outro problema com sintomas parecidos.

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O estudante Klaus diz que em seu internato na Estratégia Saúde da Família (ESF) é comum colegas pesquisarem pelo celular dúvidas sobre um sintoma ou uma doença. Para ele, ver novas gerações de médicos consultando um smartphone no atendimento será cada vez mais comum em poucos anos, o que faz da produção de aplicativos médicos uma área promissora.