Heloisa Steffen nasceu artista e, por quase 50 anos, a deixou adormecida enquanto ensinava outras pessoas a modelar argila para criar obras de arte. Há cerca de um ano, ela passou a observar a vida por cima dos moldes convencionais, e a artista renasceu para criar a exposição Sozinhas Somos Pétalas, Unidas Somos Rosas, que está aberta para visitação no átrio da Câmara de Vereadores de Joinville até 4 de novembro. As obras são um tributo à sobrevivência de quem passou pela angústia de descobrir um câncer de mama e viver os processos que o tratamento da doença provocam.
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Foi o que aconteceu com Heloisa nos últimos anos. Ela havia descoberto um nódulo no seio e, como era benigno, fez acompanhamento médico por cerca de dois anos. Nada parecia estar errado até começar a sentir dor e inchaço no local.
– Achei que era só estresse, mas comecei as investigações com meu médico e era um tumor. Outro, não aquele nódulo descoberto anteriormente – recorda.
Heloisa começou então a trajetória de tratamento, com seis meses de sessões de quimioterapia, cirurgia para retirada do tumor e da mama, sessões de radioterapia e cirurgia de reconstrução do seio. Há um ano, voltou a trabalhar após a licença médica, reassumindo o curso de cerâmica da Escola de Artes Fritz Alt, na Casa da Cultura.
O papel de professora, no entanto, não era mais suficiente para preenchê-la da mesma forma que fazia desde os 23 anos, quando se formou em artes visuais pela Udesc e retornou de Florianópolis para sua cidade natal. Assim como suas obras, Heloisa havia passado pelo fogo e se transformado em um componente mais forte. Era a hora de apresentar sua identidade de artista, que até então era ofuscada pela de mentora.
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– Como professora, você sempre se preocupa mais com os alunos, se envolve com a formação deles e deixa sua criação para depois. E, também, passa a ter muita autocrítica – avalia a artista, que tinha no currículo apenas participações em exposições com outros professores da Casa da Cultura.
Em sua primeira individual, Heloisa apresenta um conjunto de dorsos que representam os sentimentos de cada etapa do câncer de mama. Eles não são explícitos: estão simbolizados, por exemplo, por uma revoada de pombas brancas que abandonam o seio rasgado de uma das imagens, em referência ao Espírito Santo. A metamorfose no corpo ocorre até o nascimento de flores que cobrem o seio reconstruído.
– Quando falamos de câncer de mama, é sempre com uma carga muito pesada, e eu queria chamar a atenção para a doença, para a importância do diagnóstico, sem um impacto negativo. Desmistificá-la, para mostrar que a cura pode ser um renascimento – conta Heloisa.
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Sozinhas Somos Pétalas, Unidas Somos Rosas conta também com mandalas coloridas – elas representam o círculo da vida – e de mamas de diferentes cores. O fato de a exposição apresentar obras em cerâmica vislumbram ainda outro significado: em algumas obras, a artista não conseguiu os resultados que desejava ao decorar as mandalas, e as esmaltações ficaram com outros tons além do rosa.
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Mas não havia motivos para apreensão e insistência: ela já havia aprendido que, assim como na vida, nem tudo pode ser controlado.
– A cerâmica não depende só de mim, ela é alterada durante a queima do barro. Talvez por isso seja uma arte tão utilizada como terapia – reflete.
Agende-se:
O QUÊ: Sozinha Somos Pétalas, Unidas Somos Rosas, de Heloisa Steffen
QUANDO: de segunda a sexta-feira, das 8 às 20 horas, até dia 4 de novembro
ONDE: átrio da Câmara de Vereadores de Joinville (rua Hermann August Lepper, 1100, Centro)
QUANTO: gratuito. Visitações com a presença da artista podem ser agendadas pelo telefone (47) 3433-2266.