Os cabelos prateados de Naná denunciam que a idade chegou para a mulher que adorava dançar valsa nos bailinhos de Joinville. A pela enrugada, os olhos profundos e as mãos que gesticulam são sinais da tranquilidade que sempre fez parte de Anália da Silva Reck. Na memória ainda lúcida estão as lembranças de cem anos completados nesta sexta. Tempos difíceis e bons, dos quais Joinville foi pano de fundo.

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Caçula de cinco irmãos, ela perdeu o pai aos oito meses; a mãe morreu dois anos depois. Naná foi criada pela irmã mais velha e uma tia. Mais tarde, foi viúva jovem, com cinco filhos para criar. Em meio a tudo, Naná aprendeu com a vida a ser doce e a enfrentar os problemas. Hoje, os filhos se surpreendem ao vê-la sem reclamar de dores, com gosto por passeios e prazeres simples.

Todos os dias, Naná toma duas tacinhas de vinho, uma no almoço e outra no jantar. Não fosse o olhar atento de Leni (uma de suas quatro filhas, com que Naná mora em Florianópolis), até arriscaria uma caipirinha, bebida que também aprecia.

Ela morou em várias cidades, como Rio Negrinho. Mas passou a maior parte do tempo em Joinville. É a cidade da sua infância: lembra de buscar gravetos perto do rio, no Centro, e brincar em uma ponte que hoje não saberia localizar no mapa. Estudou no primeiro grupo escolar do Estado, o Conselheiro Mafra, quando funcionava em salas improvisadas pelo padre Carlos Boegershausen. Fez até a 4ª série e trocou os estudos pelo trabalho aos dez anos.

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Opções de emprego para mulher eram duas: professora ou costureira. Jovem, com pouco estudo, Naná se rendeu a agulhas e tecidos. Trabalhou na Malharia Martric, na rua São Paulo. Depois, entrou na Malharia Arp. Foi quando se encantou por um jogador do Caxias Futebol Clube, Adolph Ernest Reck, o Ata.

Ao 26 anos, Naná andou os passos de noiva no Santuário Sagrado Coração de Jesus ao encontro do rapaz que havia conhecido em um baile no antigo Cine Palácio, daqueles em que ficava até o fim. Namoradeira, admite que varria o salão. Mas logo se explica: o namoro era apenas dançar, olhar e paquerar. Adolph roubou o coração de Anália e de boa parte dos joinvilenses. A senhora não titubeia ao dizer que o marido foi o melhor meia que o Caxias já teve.

Ata morreu aos 37 anos, de apendicite. Outra perda que Naná encarou, com o agravante de ter os filhos a cuidar. A situação levou uma filha a morar com uma tia. É um assunto delicado, mas nada que tenha trazido atritos ao atual relacionamento entre mãe e filha. Naná diz que sua única pedra no sapato é a preguiça.

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– Sou aposentada, posso sentir agora, né -, releva ela, que ainda assim tem energia para passear e ir à missa.

– Até hoje gosto de dançar. Queria dançar uma valsa no meu aniversário. Mas com quem? -, brinca.

Com 20 netos, 34 bisnetos e quatro tataranetos, não faltará a ela pares na festa de amanhã, no bairro Floresta.

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