Ser mãe de uma criança com autismo traz muitos desafios para a vida de qualquer pai ou mãe. O que faz a diferença é reconhecer o transtorno e entender as particularidades que ele pode trazer para cada um. A professora joinvilense Caroline Helena Zimmermann Cardoso, 34 anos, é um exemplo disso. Com dois filhos autistas, ela usa da vivência com Henrique e Daniel para disseminar informação e até escreveu um livro para contar um pouco mais sobre essas experiências.

Continua depois da publicidade

"As Aventuras Sensoriais de Theo" foi lançado no ano passado e teve os exemplares esgotados em poucos meses. O livro foi criado a partir das vivências mais dolorosas e importantes da família antes do diagnóstico do filho mais velho. A mãe descobriu o autismo de nível um (o menor grau) de Henrique quando ele tinha cinco anos – hoje o menino tem oito. Ela já havia notado que o filho chorava por coisas que, a princípio, pareciam normais para uma criança, como tirar as meias. No entanto, a descoberta foi tardia.

— A sociedade nos julgava muito como pais e sentíamos que não estávamos sabendo educar ele. Nós fazíamos o máximo e não conseguíamos entendê-lo. Quando tivemos um laudo, fiquei aliviada porque sabia que tinha um norte para seguir — conta.

Após o diagnóstico, a professora buscou muitos livros que tratavam sobre o autismo para entender melhor o assunto. Nesses estudos, percebeu que não havia nenhum material que permitisse uma criança entender o que era o autismo. Foi assim que ela criou o personagem Theo, inspirado no filho Henrique, para mostrar às demais crianças as diferenças que podem existir entre elas.

— Parece que, às vezes, fica um mito de que as crianças com autismo são muito diferentes das demais. Eu quis trabalhar de forma bem lúdica com esse assunto para as crianças, mas os pais e professores também conseguiram se conscientizar através da história — explica a autora.

Continua depois da publicidade

O livro foi escrito antes do laudo que apontou que o caçula, Daniel, de quatro anos, também está dentro do espectro. O autismo de nível um foi descoberto quando ele tinha três anos. Ela conta que o menino se desenvolveu bem até os dois anos de idade, mantendo um relacionamento com os colegas e iniciando a fala. No entanto, parou de evoluir e começou a ter problemas para se relacionar com as crianças. A família buscou um neurologista, que diagnosticou o autismo e deu início ao acompanhamento.

A mãe reconhece que há momentos difíceis no dia a dia com os dois filhos autistas, mas não se deixa abater. Ela segue em frente porque tem consciência de que o tratamento dos meninos tem de ser prioridade, assim como a conscientização sobre o transtorno.

— Quando você é mãe de uma criança que tem um pouco mais de dificuldades, você comemora coisas que para outras mães seriam tão simples. Você luta mais, mas também comemora muito mais porque aprende a celebrar cada pequeno aprendizado.

Caroline brinca com os filhos em casa
Caroline brinca com os filhos em casa (Foto: Salmo Duarte, A Notícia)

Conscientização sobre o autismo

Nesta terça-feira é o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, criado em 2007 para difundir informações para a população e reduzir o preconceito. Nesta semana, uma série de eventos são realizados para marcar a data. A psicóloga Ana Carolina Wolff Mota defende a informação como a principal ferramenta para quebrar os preconceitos. Segundo ela, é importante que os pais contem para as pessoas do diagnóstico de autismo porque a escolha em não falar pode fazer com que os outros estranhem um determinado comportamento e não se sintam autorizados a conversar a respeito.

Continua depois da publicidade

— Quando a gente tem a informação disponível também é uma garantia de que outras famílias consigam chegar logo ao diagnóstico. É importante que ele seja feito o quanto antes para conseguirmos oferecer o tratamento — acrescenta.

Para a psicóloga, um dos grandes desafios na conscientização sobre o autismo é que as pessoas conheçam a diversidade de manifestações do transtorno. A visibilidade é maior quando há um autismo mais grave, mas ainda existe dificuldades no reconhecimento do transtorno em níveis mais leves.

— Quando o autismo é mais leve, as pessoas podem ter muita dificuldade em reconhecer as alterações como algo que prejudica o funcionamento da pessoa e faça com que ela precise de ajuda — explica.

A professora Caroline, mãe de Henrique e Daniel, ainda passa por esse tipo de preconceito. Segundo ela, a sociedade não costuma entender que os seus filhos tem autismo porque o transtorno se manifesta em um nível mais leve. Já houve situações em que pessoas acharam que os meninos estavam apenas fazendo birra quando, na verdade, passavam por uma crise.

Continua depois da publicidade

— Eu já escutei muito isso e é doído. A gente demora um tempo até conseguir aprender a lidar e percebe que a pessoa não tem informação ou falta vontade de se informar.

Por isso, Caroline se tornou uma semeadora de informação, como gosta de descrever. Deixa claro para as pessoas que os filhos tem autismo e não tem problema em investir tempo para tirar dúvidas e explicar tudo aquilo que possa ajudar os outros a conhecerem um pouco mais sobre esse universo cheio de peculiaridades.

Confira a programação da 1ª Semana do Autismo em Joinville

Terça-feira, 2 de abril

Horário: das 8h30 às 11 horas e das 19 às 22 horas.

Tema: Atividades multidisciplinares com ênfase do autismo.

Local: Associação Catarinense de Ensino (ACE).

Público-alvo: acadêmicos, professores, familiares e comunidade em geral.

Horário: das 14 às 14h45.

Tema: Direitos trabalhista do autista, com a advogada Adriana A. dos Santos Silva.

Local: Câmara de Vereadores de Joinville.

Público-alvo: geral.

Horário: das 18 às 21 horas.

Tema: Dia da Inclusão do Autista.

Local: Adventure Park.

Público-alvo: geral (100 pessoas).

Inscrições limitadas pelo site www.oabjoinville.org.br/agenda

Quarta-feira, 3 de abril

Horário: das 14 às 16 horas.

Tema: Protagonismo da Família e a interação familiar do autista.

Professores: Hudelson dos Passos (mestre em Educação) e Roselaine Pietra (doutora em Educação).

Local: Câmara de Vereadores de Joinville.

Público-alvo: familiares e comunidade.

Horário: das 19h30 às 21 horas.

Tema: AEE -Atendimento Especializado Educacional.

Local: Câmara de Vereadores de Joinville.

Público-alvo: geral.

Quinta-feira, 4 de abril

Horário: das 9 às 11 horas e das 14 às 16 horas.

Tema: Capacitação em Atenção à Crise – Ênfase sobre o Espectro do Autismo.

Entidade: Naras – Secretaria da Saúde de Joinville e Secretaria de Educação.

Local: Escola Maria Carola Keller, (Rua Iririú, 2475, bairro Iririú).

Vagas: duas turmas de 20 vagas.

Público-alvo: Guarda-Municipal, SAMU, Agente de Trânsito, Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros, Secretaria de Educação e Transporte Público de Joinville.

Horário: das 19 às 21 horas.

Tema: Palestra sobre Autismo, um olhar integral.

Local: Câmara de Vereadores de Joinville.

Palestrante: Dr. Marlon W. Fritze Soares (médico psiquiatra da Naras, da Secretaria de Saúde).

Público-alvo: geral.

Sexta-feira, 5 de abril

Horário: das 14 às 14h45.

Tema: Abordagens e atendimento ao autista.

Local: Câmara de Vereadores de Joinville.

Público-alvo: geral.

Horário: das 15h às 15h45.

Tema: protocolo de acesso.

Local: Câmara de Vereadores de Joinville.

Público-alvo: geral.

Horário: das 16h às 16h45

Tema: aprendizagem das crianças.

Local: Câmara de Vereadores de Joinville.

Público-alvo: geral.

Sábado, 6 de abril

Horário: 14h30 às 17h30

Tema: Momento de sorrir!

Local: Câmara de Vereadores de Joinville.

Palestrante: Alexandre Velho.

Público-alvo: geral.

Domingo, 7 de abril

Horário: das 8 às 14 horas.

Tema: Encerramento da 1ª Semana do Autismo de Joinville.

Local: Rua do Lazer (avenida Hermann Lepper, entre ruas Dona Francisca e Itaiópolis).

Entidade: Sesporte.

Público-alvo: interação dos autistas, familiares e amigos.