Rodrigo Cunha diz que na faculdade se sentia excluído da turma a que pertence Gabriela Machado, a dos artistas visuais. Eles trilham caminhos opostos. Enquanto o primeiro se dedica a retratar a figura humana no ambiente doméstico, o olhar de Gabriela está voltado para a natureza e se manifesta de formas variadas. Seja numa instalação para o desfile de Isabela Capeto na São Paulo Fashion Week, em telas com três metros ou nas peças em porcelana que produz atualmente.

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– Gosto de grandes escalas onde eu possa projetar e ver a pintura com o meu corpo, mas também tenho estado muito conectada com a escala menor, onde somente meu pulso funciona. No momento, estou produzindo peças em porcelana, onde o que importa é o aparecimento da forma por meio do acúmulo do próprio material. São esculturas que trazem a linguagem da minha pintura para o espaço – explica a catarinense de sotaque carioca. Maria Gabriela de Mello Machado nasceu em 1960, em Joinville, e ficou na cidade somente até os dois anos de idade.

Morou até os 10 na Gávea, no Rio, e construiu memórias de infância na casa da fazenda em Bananal (divisa de SP/ RJ), pra onde a família se mudou definitivamente em 1970. Era uma das principais propriedades da era de ouro do café na região e o pai de Gabriela passou 10 anos restaurando a casa, que tem afrescos pintados por José Maria Villaronga, nos mínimos detalhes.

– Algumas salas são pintadas em trompe l’oeil (técnica artística que, com truques de perspectiva, cria uma ilusão de ótica), mas na época estavam cobertas por tintas. Durante muito tempo, pude ver a descoberta das pinturas e como elas foram recuperadas. No período que morei nesta casa e vivenciei o trabalho de restauro criei um olhar para a pintura que me fez passar a ter muita intimidade com ela. Meus pais eram muito conectados com a arte e em como ela poderia estar dentro do nosso cotidiano – descreve.

Gabriela expôs na Galeria Celma Albuquerque na PINTA Art Fair de Nova York, que reúne o que há de melhor na arte moderna e contemporânea na América Latina, Espanha e Portugal. À direita: Berimbau Fotos reprodução Gabriela deixou a fazenda aos 18 anos para estudar Arquitetura no Rio e lá aderiu a um típico programa carioca, as rodas de samba, paixão que compartilha com a filha. Quando não está trabalhando, Gabriela gosta de tocar pandeiro, andar pelo Jardim Botânico ou se refugiar em Mauá (na serra do Itatiaia).

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– Preciso da música para me inspirar e ouço tudo o que me cai em mãos. Sou muito ligada em percussão, tenho aulas de pandeiro e estou muito conectada com o samba de origem. Aprecio trabalhos em que vida e arte estão juntos.

Gabriela estudou gravura, pintura, desenho e teoria da arte na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (RJ). Formada em 1992, venceu o Prêmio de Artes Plásticas Marcantonio Vilaça e viu sua obra alcançar novos espaços fora do país, como Nova York e Europa. Ela acaba de voltar de sua terceira exposição em Lisboa, onde é sempre bem recebida. Em Floripa, há uma obra da artista no acervo do Museu de Arte de Santa Catarina (Masc).