Ousadia parece ser parte integrante do joinvilense Jovani Furlan Neto, assim como o talento para dançar inerente ao menino que cresceu na zona sul da cidade e não tinha a menor ideia de nenhuma destas qualidades até uma equipe da Escola Bolshoi aparecer na Escola de Educação Básica João Colin há pouco mais de 15 anos. Em agosto, Jovani passa a integrar o elenco de bailarinos da New York City Ballet, uma das companhias mais tradicionais dos Estados Unidos e uma das mais importantes do mundo. Entre os dois momentos desta trajetória, a ousadia foi fundamental, assim como a força para moldar o corpo ao talento e tornar-se um destaque na nova geração de bailarinos brasileiros.
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Jovani ingressou na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil aos dez anos, após ser escolhido entre os alunos da Escola João Colin para participar da audição da filial do Bolshoi de Moscou que chegara em Joinville apenas quatro anos antes. Antes mesmo de se formar, aos 17 anos, ele participou do USA International Ballet Competition (IBC) e chamou a atenção do diretor do Miami City Ballet, que ofereceu que ele concluísse os estudos na escola de formação da companhia, já com a promessa de contratação em seguida.
O jovem foi, mesmo que a companhia tivesse como base o método, enquanto ele dedicara sete anos de formação pelo método Vaganova; e que a partida significasse deixar o país antes mesmo de completar a maioridade. Foi aprendiz por um ano, depois corpo de baile, passou a solista e, há um ano e meio, alcançou o mais alto posto dentro de uma companhia de balé, o de bailarino principal dos espetáculos.
— Fiquei pouco mais de oito ano no Miami City Ballet. Para mim, vai ser uma mudança muito grande, porque nunca me imaginei saindo do Miami City Ballet, o meu plano era realmente me aposentar na companhia — recorda.
O contato com o método Balanchine, criado pelo fundador da New York City Ballet, George Balanchine, em 1948 fez com que os olhos do bailarino joinvilense estivessem sempre voltados para a companhia nova-iorquina, já que, ainda que o método seja usado pela maioria das escolas e companhias americanas, a NYCB é a única que herdou o repertório de Balanchine. É também uma companhia bastante fechada: tradicionalmente, só contratam bailarinos que estudaram na escola de formação da companhia, a School of American Ballet. A última vez em que contrataram um bailarino de fora foi há 13 anos — e nunca um brasileiro ingressou no elenco. Por tudo isso, e apesar do amor pela companhia onde se tornou adulto, Jovani — agora com 26 anos — decidiu ousar mais uma vez.
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— Mandei um e-mail (para a direção do New York City Ballet) perguntando se eles tinham interesse em contratar alguém de fora. Joguei no universo, disse que ia adorar fazer audição. Eles responderam bem rápido dizendo que queriam sim que eu fizesse uma audição, e eu fui na mesma semana — conta o bailarino.
Antes de mudar para Nova York e começar a ensaiar com a companhia, em agosto, Jovani passa as férias em Joinville, onde mantém a rotina de prática e ensaios na Escola Bolshoi. Neste período, ainda oferece workshops de balé pelo país e se prepara para uma performance como convidado em um espetáculo no Canadá. Depois, começa uma nova trajetória entre os corredores e palcos do David H. Koch Theater, casa do New York City Ballet.
— O mais legal da carreira de bailarino é que você tenha flexibilidade de escolher onde você quer morar, de escolher seu destino — afirma.
A New York City Ballet publicou sobre a contratação do bailarino joinvilense em março nas redes sociais da companhia:
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