Em 2017, Matheus Correa, 16 anos, já ultrapassou muitas linhas de chegada e ganhou trofeus em competições de corrida. Ele divide o prazer de sentir o vento no rosto com a recepção do público no fim, entre fotos e palmas. Matheus não caminha sem apoio, mas faz longas distâncias com um suporte importante: a mãe, Lucia, que garante a velocidade do triciclo ao guiá-lo pelas corridas. Por trás deles, está Cleiton Luiz Tamazzia, idealizador do Projeto Pernas Solidárias, em Joinville.
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Cleiton nunca pensou em ser protagonista do voluntariado, mesmo que as boas ações sempre estivessem presentes na vida do comerciante joinvilense que, há pouco mais de três anos, descobriu o amor pelas provas de velocidade e resistência. Ele dividia os frutos desta dedicação ao contar detalhes de sua rotina esportiva ao primo cadeirante, Rodrigo Tamazzia até perceber que poderia compartilhar muito mais do que conceitos.
Cleiton e Rodrigo começaram a participar juntos de corridas e tornaram-se inspiração para o projeto que, em menos de um ano, já reúne conquistas, ganhou voluntários em outras cidades de Santa Catarina e, na semana passada, foi contemplado pelo 15º Prêmio IGK, do Instituto Guga Kuerten, na categoria Inclusão no Esporte.
A ideia é promover a experiência de corrida a cadeirantes como Rodrigo, que perdeu os movimentos das pernas após um acidente de moto há dez anos; e como Matheus, que nasceu com paralisia cerebral. Desde que o projeto começou, ele já conseguiu seis triciclos — cadeiras de rodas desenvolvidas especialmente para corridas — e reúne pessoas e suas histórias interessadas em ajudar.
Eles participam de provas e circuitos na região com um condutor empurrando um cadeirante, sem pressa nem pressão para ganhar prêmios. O objetivo é romper os limites impostos até então para crianças, jovens e adultos que não tinham chance de viver a emoção de estar lado a lado com outras pessoas em uma prova onde o mais importar é a superação pessoal e a amizade.
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— Há uma fila de espera de pessoas querendo ser condutores, mas dou prioridade a parentes, pessoas que tenham alguma relação com o cadeirante conta Cleiton.
Foi assim que ele mudou a vida da família de Matheus e Lucia Correa. Lucia viu no Projeto Pernas Solidárias uma oportunidade de oferecer uma opção diferente para o filho, que tem a terapia ocupacional, a fisioterapia e a equoterapia como atividades principais na programação semanal.
Na primeira corrida do adolescente, Cleiton foi o condutor. Na segunda, algo já havia se transformado em Lucia: a motivação que faltava para deixar uma vida sedentária e começar a praticar o esporte que sempre admirou era praticá-lo junto com Matheus.
— A corrida aconteceu uma semana antes do Dia das Mães: eu treinava há duas semanas. Agora, corro todos os dias. É como iniciar uma nova história de vida — afirma Lucia.
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Matheus já recebeu quatro troféus de corrida. Lucia tem 12 medalhas e Arthur, o caçula de sete anos, aprende estas lições de superação enquanto inicia sua própria coleção, com três medalhas. Agora, as reuniões familiares acontecem também em dias de prova, e todos podem assistir às mudanças que ocorreram em cinco meses com Matheus.
— Melhorou o desenvolvimento cognitivo, a socialização e a auto-estima dele, agora que ele viaja para as corridas, sente a vibração e ouve aplausos no fim — conta a mãe.