Na última quarta-feira, jogadores das séries A e B se uniram de forma inédita no futebol brasileiro para protestar contra o calendário nacional. Liderados por atletas renomados, como Paulo André, Alex e Rogério Ceni, 75 profissionais, entre eles cinco jogadores de clubes catarinenses, assinaram uma nota oficial, pedindo uma reunião com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para repassar suas reivindicações, que vão desde o tempo de férias à maratona de jogos em sequência e até mesmo aposentadoria.

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Se organizando através de um aplicativo de celular, eles se juntam na segunda-feira em São Paulo para acertar os detalhes da mobilização. Em Santa Catarina, dois clubes estão diretamente envolvidos na conversa: Figueirense, com André Rocha chefiando o assunto; e Criciúma, na liderança de Serginho. O DC conversou com os dois atletas para entender como surgiu e para onde pretende ir a discussão, que já ganhou grandes proporções com menos de uma semana de criação.

Entenda o caso

Denominada de Bom Senso F.C., a mobilização surgiu em resposta a divulgação das datas para os Campeonatos Estaduais e o Brasileirão de 2014, feita no dia 20 de setembro. Por ter, entre junho e julho, a Copa do Mundo no Brasil, o calendário teve que ser apertado, adiantando o início dos Estaduais por o dia 12 de janeiro – quase um mês antes do comum. A alteração afetou diretamente o período de folga dos atletas, que foi reduzido de 30 para 24 dias, gerando o início de uma discussão que agora passa a ter grandes proporções.

A reivindicação é que os jogadores, que são as estrelas do espetáculo futebol, tenham voz nas decisões tomadas pela CBF. O conflito de datas de campeonatos, num cronograma inchado de partidas, já é reclamação recorrente entre jogadores, técnicos e preparadores físicos de clubes por todo Brasil. O desgaste físico dos atletas é apenas um entre muitos tópicos em discussão, e até mesmo e prestação de contas dos clubes e a aposentadoria de jogadores de futebol estão em pauta que. A manifestação, retratada como inédita e independente, se diz em prol “do futebol e da qualidade do espetáculo apresentado por nós a milhões de torcedores”.

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André Rocha, representante do Figueirense

Diário Catarinense – Como chegou a você esta mobilização?

A conversa começou a mais ou menos um mês, o Paulo André, que é meu amigo pessoal, me ligou explicando o que ele estava programando e pedindo para eu falar com os jogadores do Figueirense. Eu repassei, todos estiveram de acordo com o que foi proposto, e nós seguimos conversando.

DC – Quais as principais reivindicações de vocês?

O calendário muito apertado é ruim para a gente, atrapalha o futebol. O torcedor cobra o resultado, e a gente tem que dar o máximo em campo, é a nossa obrigação, mas a maioria das pessoas não acompanha o que a gente passa fora, com preparo físico, viagens. E não é só isso que a gente reclama. Tem o ponto dos jogos em sequência, das férias, mas também tem uma conversa sobre aposentadoria, que não tem para os jogadores.

DC – E as expectativas de vocês com esta mobilização, são boas?

Nós vamos ver depois desta reunião na segunda-feira. Eu vou estar em viagem, mas na hora estarei no hotel e participarei de alguma maneira. As lesões atrapalham muito, e a gente não consegue jogar bem. Estamos pensando em tudo pelo bem futebol, e o objetivo é que mais tarde todos os jogadores dos clubes participam, de todas as séries, A, B, C e D.

Serginho, representante do Criciúma

Diário Catarinense – Como chegou a você esta mobilização?

Serginho – O Sindicato dos Atletas do Rio de Janeiro entrou em contato comigo para conversar sobre as nossas férias, que seriam de 24 dias, ao contrários dos 30 que temos direito. E isso faz muito diferença para a gente. Então o Paulo André e o Alex me ligaram, na época eu era o capitão do Criciúma, e falaram sobre essa mobilização. Tudo que eu converso com eles (os participantes da mobilização), eu repasso aos jogadores e eles estão de acordo com o que a gente propõem.

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DC – Quais as principais reivindicações de vocês?

Serginho – Este ano está sendo muito desgastante para todo mundo. Alguns times tiveram 72 horas de recuperação entre partidas, e isso causa muitas lesões, acaba prejudicando a qualidade técnica do futebol. O que nós mais queremos é que a folga para 2014 seja de 30 dias, e não menor. Nós precisamos deste descanso para poder voltar bem na temporada, que já começa cedo com a semana de preparação e os estaduais.

DC – E as expectativas de vocês com esta mobilização, são boas?

Nós queremos as férias que temos direito, e se isso vai ou não mudar o calendário não cabe a nós. Estamos pensando em mudanças não só para 2014, mas sim para os outros anos.