É segunda-feira. Sentado à beira da Rua Alberto Stein, no bar anexo ao Parque Ramiro Ruediger, o blumenauense Diego Roncaglio devora uma tigela com 500ml de açaí como se o amanhã não existisse.

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Enquanto se aproveita de pequenos pedaços de banana estrategicamente posicionados sobre uma bela camada de leite em pó, espia no berço se o pequeno Davi Lucca pegou no sono ou não. Ao seu lado, está Narjara, sua esposa, mãe há menos de dois meses e fiel companheira nas idas e vindas que a profissão proporciona.

Pode parecer uma situação corriqueira de uma família do Vale que quer aproveitar um dia de sol e temperatura agradável, mas não é. Aliás, a viagem de Roncaglio para o trabalho vai muito além de pegar o ônibus na Nova Rússia em direção à Vila Itoupava e atravessar Blumenau de ponta a ponta todos os dias, já que o goleiro, de 28 anos, é um dos brasileiros que joga no Kairat, do Cazaquistão. Ou melhor: jogava.

É justamente por esse contexto, com bebê recém-nascido e uma família constituída, que o blumenauense deixará para trás o país dividido entre a Europa e a Ásia e o russo arrastado para se mudar a um lugar um pouco mais familiar: Portugal.

Unindo o útil ao (muito) agradável, o arqueiro do peculiar chute forte de perna direita vai se dirigir à terra de Pedro Álvares Cabral onde pretende ter aquele que chama de melhor momento da carreira. O contrato foi assinado, mas o nome do novo clube é mantido sob sigilo.

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Se por um lado a questão financeira – que foi o principal motivo de sua ida ao território cazaque – será deixada um pouco de lado nesse momento, o que vai prevalecer é a vontade de jogar e a projeção para o futuro no futsal. Com poucas oportunidades – afinal de contas ter Higuita, o melhor goleiro do mundo, como companheiro não é uma tarefa muito fácil –, Roncaglio escolheu deixar a cidade de Almaty.

A oportunidade vem com um bônus, já que além de mais tempo de quadra, poder falar português e estar ao lado de mulher e filho, o blumenauense seguirá na disputa das principais competições europeias. Bom para a família e para o goleiro que aos 28 anos faz planos:

– Quero jogar, ainda sou novo e tenho condições de atuar mais do que agora. Em dois anos no Cazaquistão se joguei 20 jogos completos foi muito. Busco um algo mais profissionalmente, almejo chegar à Seleção Brasileira e preciso da visibilidade que o futsal de Portugal proporciona – conta o goleiro, que em 2014 foi um dos destaques da campanha que levou Blumenau às quartas de final da Liga Nacional.

Goleiro projeta futuro com a mulher e o filho longe do Brasil

A experiência de morar em um lugar pra lá de alternativo e a diferença para a ¿vida real brasileira¿ fizeram Roncaglio começar a projetar o futuro sem colocar mais os pés em definitivo no seu país natal. Embora o sufixo ¿istão¿ remeta a lugares nem tão calmos como Afeganistão ou Paquistão, o Cazaquistão é longe – bem longe – de ser um país complicado para se viver.

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– O pessoal se assustava quando eu dizia que ia para lá. Perguntavam por que, e eu respondia que era por conta do trabalho do meu marido. Chegaram a me questionar se ele era soldado – conta, ao risos, a esposa Narjara.

– Chega um momento em que a gente começa a pensar mais no bem-estar. Lá no Cazaquistão, por exemplo, posso muito bem receber meu salário e sair na rua com ele. E isso vale para Portugal também. Aqui no Brasil não tenho essa segurança – argumenta Roncaglio sobre a ideia de se mudar definitivamente para o Velho Continente depois de pendurar as chuteiras.

O destino do goleiro ainda é mantido a sete chaves – até porque há campeonatos rolando em Portugal e o clube não divulgou oficialmente a contratação –, porém, a ida do blumenauense já está selada. Com contrato de dois anos, Roncaglio quer aproveitar a chance para se consolidar entre os grandes europeus e, quem sabe, chegar no futsal espanhol, de longe o melhor mercado do mundo. Um passo de cada vez, é claro.