A memória eletrônica vem avisar que 20 de julho é o Dia da Amizade. Seis horas da manhã, o termômetro marca 12 graus. A cidade subjaz austera e póstera como se não existisse. Uma Lua lá fora do tamanho daquela que paira sobre São Jerônimo da Serra, almiscarada e nua, espera à porta do elevador. Toques da gaita campeira de Gilberto Monteiro – que conheci graças aos amigos Norberto Sganzerla e o maestro Mello – erigem uma catedral sobre as pedras do silêncio. Ainda ontem convidei o Luiz Pinto Ferreira para celebrar uma Opa em Pirabeiraba, mas ele está às voltas com sua exposição que será aberta no sábado na Galeria El Clandestino, com todo deslumbramento que o papel é suscetível em desdobrar.

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Mais cedo, emprestando a memória do jornalista João Arruda, estivemos a relembrar de nosso colega de redação da “Folha de Londrina”, lá nos findos da década de 1980, o Rui Brito. Figura de um coração generoso e afabilidade imensa, embora carregasse um fardo de herói grego. Nessa semana morreu o André, filho do Valdir, a quem chamávamos de Dentinho, desde a universidade. Guardei-o na bagunçada gaveta da memória pela sua imensa capacidade de fazer amigos, esse um talento que sempre me faltou. Agora vem a vida e leva-lhe o menino. A palavra triste não comporta seu padecer, não alcança, nem exprime a agonia de ter amputada essa metade de si. É só o limiar de uma dor sem nome.

Outra indesejável notícia foi a partida da professora Guaraciaba. Ela, com Tamar, Fernanda Jiran e outros mestres do Colégio Vicente Rijo, predispuseram os lampejos para romper os limitados horizontes da minha meninice. Não era popular entre os alunos, pois, como quase todos daquela geração de professores que sabiam latim, Guaraciaba tinha uma severidade que atiçava nossa intelecção pueril. Foi em suas aulas de física que ergui a pedra angular da confiança: em matéria tão árida, tirei uma nota dez. Fiquei petulante. Durante as aulas, resolvia as questões antes mesmo que terminasse o enunciado na lousa. Ela dedicava um olhar silencioso ao aluno afoito. A prova seguinte foi desastrosa, pois não bastava o resultado, tinha de demonstrar o processo. Agora, olhando o pote da amizade transbordar memórias, aprendo que nem por isso se esvazia da esperança.

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