Era noite de Natal e dois rapazes brancos, bem nutridos, vinte e poucos anos e fortes, haviam bebido um pouco. Estavam assim, à flor da pele, e só queriam se divertir. Conforme relatos, em torno das 21 horas, nas imediações da estação do metrô, agridem um morador de rua, mas o ambulante Luiz Carlos Ruas vai à sua defesa. Corte para imagem interna da estação: Luiz Carlos entra na cena correndo, perseguido pela dupla. É derrubado bem em frente às câmeras e espancado até a morte. Luiz Carlos era negro, com cara de bluesman, tinha o codinome Índio; a vítima que ele foi tentar defender era travesti e atendia pelo nome Brasil. A sequência com o homem caído, inerte, incapaz de qualquer reação, sendo chutado, escoiceado e socado pela dupla ilustra o tempo e o mundo em que vivemos: intolerante, covarde e de prevalência da força bruta. Tudo foi captado, gravado, registrado e televisionado, mas o advogado dos dois já tem uma tese: legítima defesa.
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Faltam apenas dois dias para este ano indesejado acabar, mas não nos enganemos, o fluxo dos acontecimentos continua igual. O tempo é feito uma liga, com sucessões interligadas e intercambiantes: cada instante está contaminado com antecipações do que virá e vestígios do que já foi. A lista de baixas neste ano que se encerra é enorme. Muitas pessoas queridas foram alcançadas pelo fim do seu ciclo. Cada ausência é uma dor que não se consola. Mas ainda mais triste é constatar que alguns amigos morreram enquanto ainda estão vivos.
Será um ano comum que começará num domingo, 2017. No decorrer, haverá eclipse solar e também lunar. Grandes efemérides estão agendadas: em maio, o centenário da primeira aparição de Nossa Senhora às três crianças pastoras em Fátima; e, em outubro, completa-se o primeiro século da Revolução Bolchevique, os 500 anos da Reforma de Lutero e tricentenário da aparição de Nossa Senhora da Conceição Aparecida. A profecia do terceiro segredo revelado aos pastorinhos na gruta de Iria repete três vezes a palavra “penitência”, que pode ser traduzida como aflição, remorso, arrependimento e absolvição. Podemos esperar que um ano nascido no dia consagrado tenha direito à redenção?
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