Às efemérides de maio se junta a morte de Toshie Kobayashi, a mestre samurai da dança brasileira. Conheci-a num tempo em que o telex ainda era instrumento de trabalho nas redações de jornais. Ao telefone, quis ouvir sua posição sobre a grande polêmica do Festival de Dança de Joinville à época. Esperava colher sangue em suas palavras para compor a manchete do dia seguinte, mas ela tinha apenas uma amorosa sobriedade ao falar. Uma retidão, um sentido de dever à verdade. Havia nela certo acanhamento, um acento constrangido por aquele momento que – saberia mais tarde – não passaria de uma nota de rodapé em uma página virada pelo tempo.

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Já em Joinville, fui encontrá-la no hotel. A Suzana Braga fez as apresentações, com a observação zombeteira de que era boa gente e não carecia temer aquele ar de impiedade. Nesses vinte e tantos anos desde então, encontrei-a muitas vezes nos bastidores do grande festival da vida. E em todas elas, melhor se consubstanciou aquela primeira impressão de seu amoroso rigor pela verdade. Essa medida ao mesmo tempo ética, mas também estética, fez daquela mulher de estatura e conduta oriental a mestre e grande formadora de bailarinas clássicas do Brasil.

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Rigor e verdade foram a norma da sua vida e arte. A esses dois valores basilares da beleza clássica ela acrescentou o bushido, a arte samurai do dever. E aqui sua técnica na dança apropria-se de uma lição de aikido bastante cara ao sensei Marcos Tavares: em balé, como nas artes marciais, não existe êxito sem esforço e dedicação. Para levar os movimentos à perfeição é preciso fazer o necessário e não apenas o que nos agrada. Esse, aliás, também é um princípio russo por excelência.

Outro registro: fui embriagado por meio milhar de cumprimentos e felicitações pelo 11 de maio. Fica aqui minha gratidão por cada pensamento e, em reverente silêncio, intento guardar um pouco desse azul para quando estiver sóbrio e só. Quando, enfim, sobrevir o ocaso sobre esse longo dia da vida, há de restar uma sombra comprida a me fazer companhia na estrada já cumprida.

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