Nada atenua a escuridão, porém, em seu breu mais profundo, a noite está túmida de luz. Os ouvidos, entre assustados e alegres, correm de um lado para o outro no quintal, em busca dos pingos da chuva que ameaça desde o fim da tarde. O corpo reclama sono e a mente vigia com astúcia essa aproximação invisível. Os sons dentro da noite estão sempre fora da compreensão. Há neles algo de infantil e fantasioso. A tempestade desaba no exato instante em que a manhã verga um primeiro palor no firmamento. Uma ruidosa vergasta deita o arvoredo de um lado ao outro pela mão invisível do vento. As grandes árvores se esquivam e a fúria intensa passa, redirecionada para os vazios da dispersão. A casa fica imóvel no caminho do furor e arranca lascas de assobio à carne do instante tempestuoso. Depois da tormenta, resta esse ar soluçante de um rosto confrangido por muito chorar.
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Desde muito antes da tempestade, vinha apontando meu lápis com o jade do silêncio para escrever sobre Morihei Ueshiba, o mestre criador do aikido que nesse 26 de abril completou 48 anos de morte. O-sensei concebeu uma arte da paz a partir de técnicas de guerra. Seu princípio é elementar: em vez do enfrentamento, a energia agressora deve ser redirecionada para seu ponto de dissipação. Não é um método para derrotar o oponente, mas para conciliar as diferenças e buscar harmonia. O propósito do “aikido” é “a realização do amor” no sentido de “fazer o bem”. A grande luta é superar os próprios limites. “Quem vence alguém é só um vencedor, mas quem vence a si mesmo é invencível”, ensina Ueshiba.
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Lá fora há um porta-aviões que se aproxima, uma guerra que se prolonga, um atirador que faz mira, um homem-bomba que dissimula. Há revoltas e barricadas. Nesse mundo que convulsiona, no decorrer dessa última quinta-feira de abril, pessoas do mundo inteiro procuram praticar pelo menos um ato de gentileza, com o compromisso de que o beneficiado passe adiante o gesto afável, formando uma corrente amorosa, que fortaleça o altruísmo, os vínculos e a solidariedade. É algo que se avizinha com a filosofia do “aikido”. Professo aqui toda gratidão ao criador do caminho, Ueshiba Sensei, ao incansável apostolado do sensei Roberto Mayurama, de São Paulo, e à paciência caminhada com o sensei Marcos Tavares.
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