Quando cheguei ao jornal “A Notícia”, há quase um quarto de século, ele já era o Seu Alaor, o Capista. Eu ainda tinha uma presunção que levei tempo para me livrar, embora, vez em quando, volte, para desagrado dos interlocutores e desgosto meu. Fazíamos duas reuniões de pauta. Uma no início e outra no final da tarde. Mas antes dos editores irmos nos sentar em torno da grande mesa para discutir o que havia de mais importante em apuração, Seu Alaor já havia passado em cada uma das dez editorias, anotando em um toco de papel os assuntos que estavam em pauta na rua.
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Na época, o capista era uma autoridade dentro da redação. Tinha de ter histórico “na casa”, ser bom titulista, possuir tino para antever o que de fato teria importância no dia seguinte e boa relação com a “turma de cima” do jornal. Afinal, os acontecimentos têm vida própria e podem se desenrolar ou se encolher da noite para o dia, ou mesmo na travessia do curto espaço entre sua mesa de trabalho e a salada da diretoria.
Além disso, carece de um mínimo de psicólogo e maestro, para reger a orquestra de egos que é a redação de um jornal. E era com aspecto de médico de alma que ele se acercava de cada editor setorial. Munido de um sorriso que infundia confiança, mas também um ar de mofa, que a gente nunca decifrava, ouvia, fazia breves considerações — mais com o cenho do que com palavras — anotava e nunca diagnosticava irrelevância ou gravidade.
A primeira reunião de pauta era sempre descontraída, com uma anedota sobre a edição do dia ou alguma ocorrência havida do interior. À época, o jornal tinha invejáveis 18 sucursais, circulação estadual e até em Curitiba. O fechamento no final da tarde era mais tenso, mas Seu Alaor mantinha o mistério no sorriso, puxava de suas “epígrafes provisórias” feitas quatro horas antes. Era o momento do mestre em jornalismo dar lição sem dizer palavra. Ali, também, se interpunha o galeno da psique, a nos levar a fazer autoexame de nossas veleidades enquanto profissionais de imprensa e seres humanos. Esse foi Alaor Lino da Silva, que “virou capa” ao nos deixar, no último domingo. A manchete definitiva, ele anotava a lápis, como a dizer que tudo na vida é provisório.
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