João Derly não conseguia conter a emoção enquanto o ginásio da Sogipa explodia em gritos da torcida, que preencheu todos os espaços para homenagear o atleta, na noite desta quinta-feira. Apenas sorriu diante de um boneco gigante, caricatura sua, passeando sobre o tatame amarelo, minutos antes de despedir-se do judô, aos 31 anos.
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De um lado, a equipe Amigos de João Derly com quimono azul. De outro, os desafiantes, todos de branco. Quando o primeiro confronto se desenrolou, e o judoca Felipe Kitadai, um dos três que disputará em julho medalhas olímpicas em Londres, venceu por ippon. Olhou direto para Derly, apontou para ele e bateu no peito. E assim as outras lutas sucederam, com vitórias da equipe da casa e apenas um empate. Argentinos, uruguaios, um peruano e um costa-riquenho caíram, um a um.
O único confronto feminino ocorreu entre as brasileiras Maria Portela e Viviane Nazário. Faltando 3min38s para o cronômetro zerar, Maria venceu por ippon a disputa. A judoca Mayra Aguiar, número 1 do mundo e favorita para uma medalha olímpica, não participou porque se recupera de uma dor no ombro. Está se guardando para Londres. Mas prestou sua homenagem:
– Estou com ele desde os 11 anos, ajudava ele a treinar quando era pequena. Ele me ensinou muito tecnicamente e também a lidar com a parte psicológica – resumiu Mayra, 20 anos.
Cada luta se encerrou com um tributo ao bicampeão mundial na categoria meio-leve (até 66kg). Um olhar firme, o dedo indicador estendido, um abraço forte. Na noite de Derly, todas as vitórias foram dele. Em especial, na luta que encerrou o encontro na Sogipa. Ao pular durante o aquecimento, no canto superior esquerdo do ginásio, Derly levantou a torcida. Na arquibancada, dezenas de balões estourados entre gritos de “João! João!”. Diante do costa-riquenho Murilo Osman, pesaram as duas conquistas mundiais do gaúcho – ele só precisou de 21 segundos para vencer por ippon.
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Após a luta, enquanto ajeitava a faixa em torno da cintura, ao som de Queen, um choro silencioso. Os companheiros invadiram o tatame para abraçá-lo. Depois, finalmente, falou:
– Eu planejei muitas vezes o que dizer hoje, e não vem nada na cabeça. Pensei, agora, na saída do tatame, em tudo que eu passei para chegar até aqui – disse, antes de agradecer, e receber o beijo carinhoso da mãe, Vera Lúcia Nunes.
Após uma homenagem feita pela SporTV, emissora na qual Derly comentará a Olimpíada, seu técnico, Antônio Carlos Pereira, o Quico, ainda lhe entregou uma medalha. Mais uma para a coleção do campeão. A última conquistada no tatame.