O médium João de Deus, 76 anos, deve passar a noite deste domingo (16) em uma cela individual e isolado dos demais detentos no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, denominado Núcleo de Custódia. Ele vai cumprir prisão preventiva, que não tem prazo para terminar.
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A negociação para que o João de Deus tivesse tratamento diferenciado foi feita pelos advogados de defesa do médium, que argumentaram com a idade e o estado de saúde dele, com o fato de ter passado por um câncer de estômago.
Paralelamente, os advogados Alberto Toron e Ronivan Peixoto Morais Júnior preparam para esta segunda-feira (17) um pedido de habeas corpus na tentativa de que ele possa cumprir prisão em casa.
João de Deus é acusado e suspeito de ter abusado sexualmente de mais de 300 mulheres que o procuraram para cirurgias espirituais. As denúncias vieram de todo o país e também do exterior, após o programa Conversa com Bial, da TV Globo, ter entrevistado mulheres que se disseram molestadas pelo médium.
João de Deus será interrogado antes de ir para a prisão
O delegado-geral de Goiás, André Fernandes, informou que, antes de João de Deus ser levado para o Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, o médium será interrogado, ainda na noite deste domingo, com base em 15 depoimentos coletados de mulheres que denunciaram diversos crimes sexuais. João de Deus se entregou à polícia na tarde deste domingo.
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De acordo com o delegado, será um interrogatório longo. Pela prática, cada caso será questionado separadamente, o que deve levar horas.
— Essa ação da Polícia Civil demonstra a seriedade. Em momento algum nós nos furtamos — disse André Fernandes, que acrescentou. — É o momento de a Polícia Civil confeccionar suas provas. Temos uma polícia séria e um Poder Judiciário sério. As vítimas que queiram procurar (a polícia), podem procurar.
André Fernandes admitiu que o médium pode ser beneficiado em decorrência da idade elevada e do estado de saúde. Segundo o delegado, são benefícios assegurados na lei. Porém, ressaltou Fernandes, há semelhanças entre os depoimentos envolvendo vários suspeitas de crimes – uma mulher em Santa Catarina está entre as que procuraram o Ministério Público para denunciar João de Deus.
— Contra costumes diversos, mediante fraudes, várias tipologias pela equipe e que, ao final, teremos uma posição mais clara — afirmou o delegado.
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Após coletar 15 depoimentos, André Fernandes disse que há fortes indícios de culpa por parte do médium.
— O que chama mais atenção é a singularidade de comportamento. Nesses depoimentos há um ato comum, um modus operandi (modo de agir) comum. A gente percebe uma igualdade de comportamento — frisou.
Para o delegado, "é difícil" ocorrer uma acareação entre as mulheres e o médium, embora a possibilidade exista. Ele disse que voluntários e funcionários da Casa Dom Inácio de Loyola, denunciados por cumplicidade, serão ouvidos.
Pela experiência, Fernandes afirmou que, após a prisão de João de Deus, a tendência é de mais denúncias surgirem. O delegado lembrou que, antes das acusações que vieram à tona no programa Conversa com Bial, há três denúncias em investigação.
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Questionado sobre as denúncias, André Fernandes foi objetivo ao definir o conteúdo.
— (Temos) vários depoimentos, o que reforça o comportamento de abuso — afirmou.
O caso João de Deus
O médium João Teixeira de Faria, o João de Deus, é casado e tem nove filhos – a mais nova é uma menina de 3 anos.
Ele não cobra pelas consultas e operações espirituais realizadas na Casa Dom Inácio de Loyola, no município goiano de Abadiânia. No local, são vendidos livros, cristais bentos, garrafas com água “energizada” e remédios manipulados que prescreve pela farmácia chamada JTF (iniciais de seu nome).
João de Deus tem propriedades rurais, além de alguns imóveis em Abadiânia, e é sócio em um garimpo. Ele era procurado pelas autoridades policiais desde sexta-feira (14), quando foi decretada sua prisão preventiva.