A arte salvou Jesus, e esta afirmação não pode ser encontrada em nenhum capítulo, sob nenhum versículo, de qualquer livro já escrito. Ela faz parte da trajetória de um jovem de São Luís, no Maranhão, que nasceu como Luhcas Jesus há 23 anos. E renasceu com a ordem invertida dos nomes ao chegar em Joinville, há cinco anos.
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– Foi em Joinville que uma professora começou a me chamar de Jesus, pois havia quatro Lucas na sala de aula. E todo mundo começou a chamar também – explica.
É como Jesus Luhcas que uma missão se desvenda para o garoto. Ele encontrou em 2016 a certeza de um sonho: viver da arte e para a arte, levando palavras de amor ao mundo.
O primeiro sinal foi na infância, quando termos como abuso sexual e violência doméstica dividiram espaço com as palavras que uma criança em fase de alfabetização costuma aprender. Eram aflições pesadas demais para um menino carregar sozinho, mas as cores da dança e da música ajudaram a tornar a vida mais leve.
– Eu achava que sempre tinha alguém, um monstro, que ia me fazer mal. Então, meus tios me levaram para a igreja e lá eu conheci a dança e fiquei encantado. Eu tinha sete anos – lembra.
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As aulas de dança ensinaram que nem todo toque era para o mal, nem todas as pessoas só sabem machucar. E, com a chegada da adolescência, a vontade de se expressar deixou os traumas para trás. De posse de um violão, o cantor começou a aparecer. Mas não havia aplausos para ele. Na primeira vez em que cantou em um palco, Luhcas ouviu que “seu negócio era dançar mesmo”.
– Minha avó sempre ensinou que quando alguém falar mal de você, tome como um desafio, e não como desmotivação. Por isso, decidi que eu iria aprender a cantar – conta.
Então ele soltou a voz, primeiro no coral da escola, depois, já vivendo em Joinville – para onde ele mudou aos 18 anos -, na banda da igreja. A arte continuava a correr pelas veias com a mesma intensidade que o sangue de dos antepassados: as bisavós italiana e japonesa, o bisavôs indígena e alemão, o pai quilombola e toda a brasilidade de quem trocou um extremo do País pelo outro. Mas a vida pedia racionalidade, e ela era levada entre a faculdade, o trabalho e as atividades nos grupos da igreja.
Quando perdeu o emprego em uma startup de software, o chamado da arte já era mais forte e ele decidiu que era hora de arriscar. As primeiras apresentações ocorreram no início do segundo semestre, ainda em formato voz e violão, em saraus e reuniões. Era fim de outubro quando o primeiro show aconteceu.
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– As pessoas deixam de perceber que as situações ruins são como vitaminas para te deixar mais forte. O que você escolhe fazer com a crise: vai usar como desculpa ou como trampolim para o que realmente quer? – questiona ele.
Tudo aconteceu depressa demais depois disso: quando dezembro chegou, a plateia conhecia suas composições, ele chegou a fazer três shows no mesmo dia e já tem uma agenda com apresentações marcadas até abril de 2017 – uma delas, em um festival de música brasileira na Holanda. Nem parece que, há poucos meses, ele ainda precisava pedir dinheiro emprestado para a mãe para pegar o ônibus e ir tocar.
Agora, há planos e cachês e até um show marcado no Ano-novo. Este, se depender dos seguidores já conquistados, será de sucesso para Jesus. Mas não é dinheiro e fama que ele espera.
– Só existe uma forma de viver eternamente: se fazendo eterno na vida das pessoas. Quando eu vejo as pessoas cantando minhas músicas, eu penso que é isto que estou deixando para o mundo – reflete.
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